Carnaval carioca clama pelo fim do improviso

Acidentes com carros alegóricos na Sapucaí evidenciam os problemas e a necessidade da criação de novas regras

Por Sofia Cerqueira, Pedro Moraes
1 mar 2017, 18h32
Acidente
(Veja Rio)

É inegável dizer que o Carnaval ao longo das últimas décadas se agigantou e se profissionalizou. O grande símbolo é a própria Cidade do Samba, a enorme fábrica de alegorias e fantasias para a maior festa do Rio, que atrai 1,1 milhão de turistas e injeta 3 bilhões de reais na economia carioca. No entanto, também é inquestionável afirmar que parte importantíssima dessa indústria continua sendo feita de forma improvisada. A prova desta afirmação foi a sucessão de problemas e acidentes que feriu 32 pessoas na Sapucaí, envolvendo carros alegóricos da Paraíso do Tuiuti, no desfile de domingo (26) e da Unidos da Tijuca, na segunda (27). A principal crítica é que sequer existem normas técnicas para construção de alegorias, definindo dimensões, estruturas e materiais. “É imprescindível que seja criada uma comissão para estabelecer critérios específicos para a construção desses carros. Sem isso, o improviso pode levar ao acidente”, afirma Reynaldo Barros  o presidente do Conselho Regional de Engenharia e Agronomia do Rio de Janeiro (Crea-RJ).

Atualmente não existe nenhum tipo de fiscalização dos carros alegóricos, as escolas de samba precisam apenas apontar os nomes dos responsáveis técnicos pela criação das estruturas. Estes profissionais têm que ser engenheiros. Nos dois acidentes, a Liga Independente das Escolas de Samba do grupo especial, a Liesa, já informou ao Crea-RJ quem são os responsáveis pelos projetos dos carros e a perícia dos órgãos oficiais irá apontar as falhas. No caso do afundamento da alegoria da Unidos da Tijuca, os primeiros rumores dão conta de uma fadiga na solda em um dos pistões hidráulicos instalados para elevar a plataforma que desabou. Já no caso da Tuiuti, além dos materiais está sendo levado em consideração a conduta do motorista.

Reconhecido no mundo do Carnaval como um competente técnico, Mildemberg Batista de Souza é apontado como o principal especialista em componentes hidráulicos para grandes alegorias, como projetos e instalações técnicas dos braços mecânicos de escolas como Mangueira, Portela, Grande Rio, Beija-Flor e da própria Unidos da Tijuca. Procurado por VEJA RIO para falar sobre o carro acidentado na escola tijucana, que estaria sua responsabilidade segundo fontes da própria agremiação sediada no Morro do Borel, ele afirmou que não falaria. Na sede de sua empresa no bairro de Parada de Lucas, uma mulher atende ao telefone, se identifica como advogada e informa que o proprietário está aguardando o resultado da perícia. Segundo ela, Batista – como é tratado pelos carnavalescos – é engenheiro e há mais de 20 anos trabalha com a maior festa da cidade e que nunca esteve envolvido em um acidente.

Para evitar que casos como os vistos esse ano na Sapucaí se repitam, a indústria do Carnaval precisa passar por uma profunda reformulação. Nos bastidores da RioTur já se fala na articulação de uma reunião para discutir mudanças emergenciais, como a organização do setor 1, onde ambos os carros se acidentaram. Um dos componentes da comissão de carnaval da Unidos da Tijuca, o cenógrafo Mauro Quintaes, defende que a escola tratou com responsabilidade a produção de seus carros. “Foram feitos ensaios e não houve reaproveitamento de materiais. Mas precisamos esperar a perícia”, diz. Apesar dos trágicos acontecimentos, ele já consegue ver um lado positivo. “Quando o carro da Viradouro pegou fogo em 1992, não havia um sistema eficaz para o combate a incêndio. Hoje existe. É uma pena que precisem acontecer problemas para o Carnaval do Rio avançar”, afirma.

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