Carioca Nota 10: João Diamante e a comida para quem precisa
Criado na favela Nova Divineia, no Complexo do Andaraí, chef distribuiu 18 toneladas de alimentos em 16 comunidades do Rio durante a pandemia
O agravamento da fome nestes duros tempos pandêmicos foi uma preocupação de João Diamante desde os primeiros dias de isolamento. Tanto que, ao ser chamado para contribuir com o coletivo Comida de Resistência, o talentoso chef de 29 anos logo acionou outros cozinheiros para pedir doações dos estoques de restaurantes que haviam fechado temporariamente. A ação começou modesta, mas foi ganhando força e, em um ano, distribuiu 18 toneladas de alimentos em 16 comunidades do Rio.
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“A vulnerabilidade de quem não tem acesso às políticas públicas ficou escancarada”, diz o jovem, criado na favela Nova Divineia, no Complexo do Andaraí, de onde saiu para estudar na França. Mesmo consolidado como uma das principais promessas da gastronomia brasileira, tendo sido aprendiz do estrelado francês Alain Ducasse, Diamante nunca tirou o olhar sobre suas origens. Com seu restaurante, o Na Minha Casa, abrindo e fechando conforme os altos e baixos da pandemia, ele seguiu pensando em maneiras de ajudar e pôs (com o perdão do trocadilho) a mão na massa.
“A gastronomia é uma das ferramentas mais completas de transformação social, oferecendo um mundo de possibilidades a todos”
Desde 2016 à frente do projeto social Diamantes na Cozinha, que dá formação a jovens de baixa renda, o chef aproveitou a febre das lives para colocar seus alunos em contato com profissionais das panelas de renome internacional, como Alex Atala e Diego Lozano. A boa resposta serviu de incentivo para desenvolver, no início do ano, uma versão digital e gratuita do curso. A primeira edição destinou cinquenta vagas para o Complexo do Alemão e a segunda turma foi composta de moradores da favela do Andaraí, onde ele cresceu — o plano é alcançar metade das comunidades do Rio até o fim do ano.
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Ministradas por Felipe Bronze, as aulas on-line ensinam todo o ciclo que resulta no prato pronto, desde o plantio dos ingredientes até a finalização para ir à mesa, sendo adaptadas à realidade dos aprendizes — receitas com itens mais caros, como o polvo, são preparadas com moela de frango, e ficam muito boas. Também são disponibilizados acompanhamento psicológico e mentoria de desenvolvimento profissional. “A gastronomia é uma das ferramentas mais completas de transformação social, oferecendo um mundo de possibilidades a todos”, conclui Diamante. Palavra de mestre-cuca.
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