Mais calçadas, menos carros: a proposta do BNDES para o Reviver Centro
Plano foi encomendado pela prefeitura; intervenções sugeridas podem levar décadas para serem implantadas, mas tornariam região mais residencial
Redução drástica do tráfego de carros particulares com o alargamento de calçadas — inclusive na Avenida Presidente Vargas — e transformação de ruas de pouco movimento em vias exclusivas para pedestres e comércio, inspiradas no projeto das ramblas que mudou a cara da Zona Portuária de Barcelona no fim dos anos 1980. Estas são algumas das propostas contidas no plano desenvolvido pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), por encomenda da prefeitura, para o Centro do Rio. Em processo de transformação para se tornar uma área de vocação mais residencial, a região ganhou um plano com ideias de soluções urbanísticas que a ajudem a se converter em um bairro modelo. A implantação de algumas das intervenções podem levar décadas para sair do papel, mas podem conter o esvaziamento local, acelerado com a pandemia da Covid-19, atraindo mais moradores.
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A estratégia do estudo que vai orientar a ocupação do Centro, ao qual o jornal O Globo teve acesso, foi pensar no desenvolvimento do Centro do Rio pelos próximos 30 anos. E a partir de um momento em que crescem os investimentos em novas moradias na região, que nos últimos anos ganhou incentivos fiscais e urbanísticos por meio de programas como Porto Maravilha e Reviver Centro. A Companhia Carioca de Parcerias e Concessões (CCPar) — órgão da prefeitura — estima que, de 2021 até o fim de 2026, a Zona Portuária ganhe oito mil novas moradias, o que vai se traduzir no acréscimo de mais de 20 mil moradores. Seis mil unidades devem ser entregues até o ano que vem.
O levantamento do BNDES durou mais de um ano para ficar pronto e custou R$ 2 milhões. Os técnicos dividiram a área central do Rio (incluindo Zona Portuária e Leopoldina) em sete macrozonas, que levam em conta cinco fatores. São características como a renda da população atual, bem como a identificação das áreas pelo potencial para a construção de moradias e a oferta de serviços. Também é estimado o volume de investimentos necessários para os projetos.
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Para reduzir enchentes e as ilhas de calor devido à concentração de prédios, por exemplo, as intervenções transformariam até o Canal do Mangue em um parque arborizado, o que ajudaria a captar a água das chuvas, com espaços distintos para pedestres e ciclistas. O Mangue seria uma das áreas para se adotar o conceito que o estudo chama de “cidade-esponja”. Os jardins tornariam as áreas mais permeáveis, favorecendo a absorção natural da água. Proposta parecida também seria aplicada em trechos ao longo do Rio Maracanã.
No estudo, o BNDES fez uma pré-seleção de 120 imóveis e terrenos, em sua maioria públicos e subaproveitados, que poderão gerar maior movimento para o Centro, caso sejam bem explorados. Nessa lista, os consultores detalharam os potenciais de 75 endereços, entre eles os terrenos junto à antiga estação de trens da Leopoldina e o edifício A Noite, revendido pela prefeitura à iniciativa privada para se tornar um residencial com 424 apartamentos.
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O secretário de coordenação governamental do Rio, Jorge Arraes, avalia que, para a prefeitura, a área mais estratégica do plano é o entorno da antiga estação de trens da Leopoldina. Desde o fim do ano passado, o município negocia com a União um acordo para o município assumir a gestão da área, que tem cerca de 124 mil metros quadrados. O projeto prevê transformar o espaço em um novo bairro. Dentro desse processo, a antiga estação da Leopoldina seria recuperada e convertida em centro cultural.