Aos 81 anos, o encenador chega ao Rio com 32 atores do Grupo Macunaíma, vinculado ao Centro de Pesquisa Teatral (CPT), instituição que ele dirige há quase três décadas. Durante um mês, eles apresentam a Trilogia Carioca. A partir de sexta (7), o Teatro Nelson Rodrigues abriga, em sessões intercaladas, as peças Policarpo Quaresma, Foi Carmen e Lamartine Babo.
Como referência na formação de atores, o CPT é muito procurado por jovens bonitos e pouco talentosos, que vislumbram entrar na TV?
Somos procurados por muita gente e alguns insistentes, que nos enchem a paciência trazendo indicação de projetos ligados ao cinema. Não há mágica nessa profissão. Mesmo quem nasce com um talento brutal e intuitivo tem de se informar e praticar muito. O rostinho bonito apenas não funciona. Só com isso, o máximo que se pode conseguir é se tornar um ator burocrático. E não podemos tomar como referência as interpretações a que assistimos na TV Globo.
Por que esse título?
Em primeiro lugar, porque todos os espetáculos têm muito a ver com o Rio. Também guarda relação com meu extremo carinho pela cidade, apesar de não vir aqui há muito tempo. Tenho estado com horror a aeroporto. Fiz grandes amizades aqui com Antonio Callado, Paulo Pontes, Clarice Lispector e Sérgio Sant?Anna, entre outros. Adoro o Rio, apesar de a Bárbara Heliodora (crítica teatral) não gostar de mim.
Os espetáculos têm pegada atual?
Não gosto de descaracterizar a obra, embora inclua uma roupagem contemporânea. Há muitos encenadores que fazem um piquenique em cima do texto dos dramaturgos. Em Policarpo Quaresma estão a essência e a natureza da trama de Lima Barreto. Quem leu o livro vai reconhecer tudo no palco. Em Foi Carmen, fugimos dos clichês e fetiches de Carmen Miranda. Misturamos samba e dança butô. Já em Lamartine Babo, criei situações dramáticas que passam de forma quase didática a vida e a obra do compositor.