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Isolamento faz carioca buscar formas alternativas de comemorar aniversário

Os velhos carros de telemensagens voltaram à cena e passaram a circular pela Zona Sul da cidade

Por Marcela Capobianco
Atualizado em 22 Maio 2020, 19h10 - Publicado em 1 Maio 2020, 08h00
Criatividade na quarentena: moradores da Zona Sul passaram a contratar carros de mensagens para homenagear aniversariantes (Leo Lemos/Veja Rio)
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A Lagoa, na Zona Sul do Rio, estava irreconhecível em uma dessas tardes de sábado. Com a quarentena, a Fonte da Saudade, em geral engarrafada de carros e gente, era um marasmo só. Ouve-se o farfalhar das copas das árvores e, quem diria, dá ainda para apreciar o canto de um passarinho. Até que um nada discreto Chevrolet Agile vermelho todo adesivado, adornado por balões multicoloridos e corações de pelúcia, dobra a esquina com o porta-malas aberto, onde pulsam quatro potentes caixas de som. O silêncio se rompe abruptamente no embalo do Parabéns da Xuxa, clássico dos anos 80 e 90. As pessoas correm às varandas e janelas para entender o que está acontecendo. Simples: é aniversário de uma vizinha e as amigas decidiram comemorar a data enviando de presente um carro de som. “A gente já cansou dos encontros por videoconferência. Todo mundo fala ao mesmo tempo e ninguém se escuta. Resolvemos então inovar”, explica a empresária Juliana Saboya, dona da sorveteria Mil Frutas e uma das agitadoras da surpresa que faz a memória percorrer cidades do interior, onde carros com alto-falantes anunciam de tudo um pouco.

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Como, em nome do enfrentamento à pandemia, aglomerações são banidas, é preciso acionar a criatividade para não deixar de celebrar o que deve ser celebrado. É nessa lógica dos quarentenados que negócios como o de Márcia do Carmo, 42 anos, também conhecida como Márcia Telemensagens, ganham vulto inesperado. Moradora de Campo Grande, na Zona Oeste, ela passou a fazer, desde o início do isolamento social, cerca de seis aparições semanais em bairros como Leblon, Ipanema, Lagoa e outros.

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“Estou atingindo um novo público e conseguindo manter o mesmo número de saídas da era pré-coronavírus”, avalia Márcia, que é a voz que parabeniza os aniversariantes. “Antes, era impensável realizar o meu trabalho em bairros da Zona Sul. As pessoas tinham pavor de carro de mensagem, achavam que era cafona, mas só estamos levando uma mensagem de amor e carinho em um dia especial”, faz a autopropaganda.

A nova configuração social fez emergir vários tipos de comemoração. Além dos aplicativos para chamadas em grupo, como o Houseparty, que renasceu este ano (foi criado em 2016), mais alternativas apareceram no horizonte festivo. Nos subúrbios americanos, a moda são as celebrações drive-thru, nas quais os amigos acenam dos carros passando pela casa do aniversariante, que assiste a tudo da janela. Vídeos com uma coleção de depoimentos sobre o homenageado do dia também têm sido uma forma de celebrar. “Embora a pandemia represente um momento de ruptura, as comemorações de aniversário mostram que a vida segue, com suas contradições e possibilidades. O período de isolamento escancarou o que é essencial para todos nós: a forma de lidar com a passagem do tempo, com a própria noção de vida, com o mundo ao nosso redor”, analisa Maria Paula Miller, doutora em antropologia pelo Museu Nacional do Rio de Janeiro.

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A festa do momento, por assim dizer, entre cariocas isolados custa entre 180 e 300 reais, dependendo da empresa (tem a Cupido do Amor, a Telemensagens de Amor e O Mensageiro, todas com carro de som). A passagem dura, em média, trinta minutos. É tempo suficiente para juntar gente nas varandas e promover uma espécie de comemoração coletiva, em manifestações entre vizinhos como não se via antes do confinamento. Além de escolher a trilha sonora, quem contrata ainda pode pedir para que mensagens de voz de amigos e familiares sejam reproduzidas em altíssimo e bom som. “Se me perguntassem antes da pandemia o que eu acharia desse tipo de presente, com certeza seria contra, mas amei a surpresa”, conta a empresária Rafaella Rabello, moradora de Copacabana, que recebeu o presente de amigas no fim de abril. A celebração de Rafaella terminou com os versos de Pro Dia Nascer Feliz. “Os vizinhos foram para a janela e começaram a dançar, as pessoas que passavam na rua também paravam para olhar. Escutei mensagens dos meus pais, que não via há mais de um mês. Apesar de ser durona, não segurei as lágrimas.”

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Os carros de mensagens que chamam atenção agora pelas ruas da Zona Sul fundem dois serviços que já foram muito populares em outros tempos: a telemensagem, em desuso desde o surgimento de programas on-line, como ICQ e MSN, e posteriormente das próprias redes sociais, e os carros de som. “Diante da democratização da internet e do advento do Google, a tradicional ferramenta usada para divulgar pequenos negócios, também conhecida como ‘propaganda volante’, vem desaparecendo das cidades grandes, apesar de ainda ser vista em bairros de subúrbio e cidades pequenas”, lembra o historiador e professor da UFRJ Rafael Mattoso. Neste mundo posto do avesso pela pandemia, a comemoração pode não ter convidados in loco, mas palmas não faltam.

Muito além do Houseparty

Alternativas para festejar durante a pandemia:

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Caça ao tesouro em casa. Use pistas ou um mapa misterioso para o aniversariante encontrar o grande prêmio — seu presente de aniversário.

Festa no cinema. Aplicativos como o Netflix Party permitem que amigos assistam a filmes juntos e conversem ao mesmo tempo — a distância, claro.

Kits de aniversário. A festa vem toda empacotada — salgados, docinhos, decoração — e feita sob medida para cinco pessoas (mais que isso é aglomeração).

Aula de culinária. Chefs ensinam ao aniversariante e seus amigos, conectados por algum aplicativo de videoconferência, a preparar receitas.

Drive-thru. Amigos e familiares passam de carro na casa do homenageado do dia, que celebra da janela.

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Arquivo confidencial. Depoimentos são gravados para homenagear o aniversariante, que recebe tudo editado num só vídeo como presente.

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