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Era só o que faltava: troca de figurinhas da Copa mobiliza cariocas

Na disputa para completar o álbum, colecionadores encontram pontos em toda a cidade para conseguir as que faltam e usam até balança para pesar pacotinhos

Por Paula Autran
21 out 2022, 07h00

A Copa do Mundo se avizinha e, num movimento de esquenta, entusiasmados pelo futebol e gente que gosta pura e simplesmente de colecionar formam um batalhão de cariocas loucos para completar o álbum do torneio. E essa turma das mais distintas faixas etárias acaba desaguando nos efervescentes pontos de troca-troca por toda a cidade. Eles se espalham por shoppings, bares, cafés, lojas, lanchonetes, praças e bancas — um circuito movido pela caça às figurinhas de 670 estádios e jogadores de 32 seleções, que entram em campo a partir de 20 de novembro, no Catar. “Trabalho em home office, não vejo ninguém durante o dia, mas, terminado o expediente, saio em busca de figurinhas”, conta Fábio Lindemann Wilms, 40 anos, que garimpa os cromos em família, ao lado da mulher, Brena, e do filho Pedro, de 10 anos.

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E assim brota um novo e peculiar roteiro no Rio, com dia, hora e lugar. Os Wilms, por exemplo, batem ponto às segundas no Galeto Sat’s de Botafogo, convertido em local de troca pelos donos, também colecionadores de carteirinha. “Somos um bando de marmanjos que não têm mais colégio nem curso de inglês. Vamos trocar onde? No bar, claro”, diverte-se o sócio Raoni Rabello, que já finalizou seu álbum. Mas a brincadeira não acabou: faltam ainda os da mãe e de um sobrinho, que estão sempre por lá.

A negociação não para: shoppings como o Fashion Mall abriram espaços próprios -
A negociação não para: shoppings como o Fashion Mall abriram espaços próprios – (./Divulgação)

Nos shoppings, a negociação também não para. Quase todos eles abriram espaços ornados em verde e amarelo para receber quem quer aumentar seu tesouro das tão ambicionadas figurinhas. “Andando pelos corredores a gente vê como a Copa mexe com as pessoas. Há desde crianças trocando no clubinho até senhoras nos cafés”, observa Luana Reis, gerente de marketing do Fashion Mall, que agora dispõe de uma área própria para o exercício do esporte favorito dos acumuladores de cromos — trocar. Uma mesa de totó fica à disposição para quem quiser dar aquela merecida pausa.

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A avidez por cromos é tamanha que eles já ingressaram no rol das ações de gigantes globais como o McDonald’s, que lançou um combo presenteando como mimo um envelope ao cliente que consumir sanduíche, refrigerante, fritas e sobremesa. Há ainda a opção de encomenda pelo app, que duplica o número de figurinhas da promoção. Como em outras grandes redes de varejo, ali também se pode comprar os cromos (4 reais o pacote com cinco unidades). “Saem de 100 a 150 pacotinhos por dia. Está difícil repor o estoque”, relata o jornaleiro José Onizio Ferreira, dono de uma tradicional banca em Laranjeiras. Aliás, a elevada demanda por cromos — e a eventual falta deles — é um fenômeno percebido em países aficionados por futebol, como a Argentina. A procura entre os hermanos explodiu a tal ponto que foi necessária uma reunião para discutir o imbróglio entre diretores do grupo editorial italiano Panini, que detém os direitos de publicação do álbum desde a Copa de 70, a Secretaria de Comércio e representantes das bancas.

arte Figurinhas

A Panini não divulga números relacionados a vendas nem qualquer outra estatística. Tal lacuna de informações levou o Procon carioca a enviar uma notificação ao grupo, justamente após reclamações de falta de figurinhas. Em casos assim, a empresa pode estar incorrendo em infração sujeita a multa. Segundo o artigo 6 do Código de Defesa do Consumidor, fornecedores têm a obrigação legal de esclarecer as características do produto. “Se houver mais álbum do que figurinha disponível no mercado e isso não for comunicado ao público, o fato é passível de processo”, explica Leonardo Gomes, gerente de fiscalizações do órgão, que está apurando o caso.

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Álbuns de figurinha da Copa já são uma tradição, mas esta edição de 2022 trouxe uma novidade que beira o surrealismo. “Já vieram pessoas aqui até com balança de precisão, daquelas usadas por ourives, para pesar os envelopes”, lembra Ferreira, da banca de Laranjeiras, que revela um indisfarçável orgulho por ter vendido um pacotinho com o Neymar de ouro a um cliente sortudo (trata-se de um dos adesivos especiais, uma cepa à parte que abarca mais dezenove jogadores, entre lendas do futebol e novos talentos, comercializados em quatro tonalidades). A balança, que contabiliza a gramatura dos envelopes, vem sendo usada porque as imagens raras, vendidas por até 9 000 reais na internet, compõem o sexto cromo do pacote, que normalmente vem com cinco — portanto é discretamente mais pesado. E todo mundo está à caça deles. A criatividade, como se vê, faz parte da brincadeira.

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