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No palco e na vida, Claudia Abreu está em movimento: “aberta à mudança”

Sozinha em cena pela primeira vez, vivendo Virginia Woolf em um monólogo, e separada após 25 anos de casada, atriz se firma como roteirista e dramaturga

Por Melina Dalboni
21 out 2022, 07h00

Aos 36 anos de carreira, Claudia Abreu, 52, coleciona personagens inesquecíveis. Ainda hoje, há quem a chame de Clara, de Barriga de Aluguel (1990), de Princesa Juliette, de Que Rei Sou Eu? (1989), de Heloísa, de Anos Rebeldes (1993), ou de Laura, de Celebridade (2002). Mas a preferida do público surgiu em Cheias de Charme (2012). “A Chayene é das mais populares. Tanto que sempre pedem para retomarmos a trama”, diz a atriz, contando que, depois de uma recente foto daquele elenco reunido viralizar, as redes se agitaram com a possibilidade de a história ter continuidade, podendo virar filme ou série. “Existe esse desejo, mas não sabemos ainda se será realizado”, fala. De certo tem o longa Terapia Vingativa, que deve estrear no ano que vem, um roteiro que ela está escrevendo para o cinema, e agora ela aterrissa no palco do Teatro XP Investimentos com a peça Virginia, baseada na biografia da escritora inglesa Virginia Woolf (1882-1941). Além do desafio de estar sozinha em cena pela primeira vez em um monólogo, esse é seu primeiro texto teatral, escrito durante a pandemia, quando aproveitou para passar uma temporada morando em Portugal com a família e cursar pós-­graduação on-line em artes cênicas na PUC-Rio. Mãe de quatro filhos entre 10 e 21 anos, Claudia está hoje rodando o Brasil com o espetáculo e passa por uma revolução no plano pessoal — ela se separou do diretor José Henrique Fonseca, com quem foi casada por 25 anos. “Seremos melhores amigos para sempre”, diz em uma franca entrevista que concedeu à VEJA RIO.

Depois de tanto tempo no ofício de atriz, já se vê e se apresenta como roteirista e dramaturga? Ainda não. Eu escrevi duas temporadas de uma série (Valentins), uma peça (Virginia) e estou trabalhando em um roteiro de cinema, mas a verdade é que ainda me sinto uma novata nesse papel.

O que aprendeu com Virginia Woolf, a quem dá vida no palco? Que excesso de lucidez é o que chamam de loucura e que ser normal é fazer parte da boiada e não questionar nada. Lendo os textos dela, percebemos também que a condição feminina não mudou tanto assim. Os vários tipos de opressão às mulheres permanecem, infelizmente, um tema atual.

A vida de artista mudou muito nessas quase quatro décadas de carreira? Mudou. E diria que o primeiro impacto veio da internet. Depois, na era das redes sociais, perdemos muito no terreno da liberdade individual, e o valor artístico passou a ser medido de outra forma: o que conta não é só o talento, mas também o número de seguidores nas redes. Eu, pessoalmente, não entro nessa maluquice.

Não gosta de se expor? Já somos expostos demais dentro do trabalho, em cena, quando reproduzimos a realidade e as emoções. Então, quando não estou atuando, não faço questão de estar na mídia. Não preciso dar opinião sobre tudo.

“Na era das redes sociais, o valor artístico passou a ser medido de outra forma: o que conta não é só o talento, mas também o número de seguidores. Não entro nessa maluquice”

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Como lida com as redes sociais? Não tinha nenhuma relação com as redes, nada, mas comecei a me sentir fora do meu tempo. Aí criei um perfil fechado no Instagram. Depois me aconselharam a fazer um oficial, e vi que é muito legal, uma comunicação direta, sem filtro, desde que você não violente os seus valores por número de seguidores. Agora, não preciso postar fotos da minha casa, da minha família, eu acordando e dormindo ou indo à praia. A internet não pode virar um vale-tudo.

A discrição atrapalha em algum grau sua carreira? É mais interessante que o público saiba pouco sobre a minha vida. Assim preservo um mistério. Quero que sintam saudade de mim, não quero que se cansem. O espectador tem que acreditar na personagem sem pensar nas informações que sabe sobre mim. Isso só prejudica que ele embarque na ficção.

Você tem vontade de atuar até o máximo de idade que puder? Eu não tenho necessidade de estar o tempo inteiro em cena, mas também acho que isso me salva. Ficção é muito bom, faz você sair um pouco da sua vida, dos seus problemas, te faz pensar em questões profundas que não são as suas. Você nunca sai a mesma pessoa de uma personagem, sempre tem aprendizado.

Mesmo evitando a exposição, circulou a notícia de sua separação do diretor José Henrique Fonseca. Como está enfrentando a reviravolta? A gente passou 25 anos felizes juntos, realizamos sonhos, tivemos quatro filhos, fizemos uma produtora, mas a vida é movimento. Passei metade dela com ele, mas estar viva é estar aberta às mudanças. Seremos melhores amigos para sempre.

Como tem sido se ver sozinha novamente? Não saberia responder a isso. Ainda é muito recente.

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A maternidade a renovou? Sem dúvida. É um amor avassalador. Além disso, lá em casa são quatro pessoas completamente distintas. Acabo sendo uma mãe diferente para cada um dos quatro. Filhos abrem uma janela para você poder renovar o seu olhar, aprender tudo de novo e rever conceitos e preconceitos.

Qual a diferença de educar uma criança no início dos anos 2000, quando sua filha mais velha nasceu, e nos dias de hoje? A internet, para mim, é o maior dos desafios, porque ela abrevia a infância e a inocência. Mas não há como ignorar sua existência. Sempre resisti à proibição, que gera curiosidade e estimula a transgressão. Dou liberdade a meus filhos de uma forma vigiada e com muita conversa.

Como vive a passagem do tempo? Procuro me cuidar, mas sem paranoias, para manter um rosto que preserve a credibilidade e me permita fazer personagens da minha idade. Descobri que o importante mesmo é gostar de si mesma.

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