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Por Marcelo Copello, jornalista e especialista em vinhos
Marcelo Copello dá dicas sobre vinhos
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Petrus, o vinho que todo merlot gostaria de ser

Por Marcelo Copello   Lembro bem do primeiro Petrus que provei. Já se vão muitos anos, a safra era a jovem 1985, que para minha sorte me foi apresentada por Edouard Moueix, filho de Christian Moueix, proprietário do Château.  Meu primeiro contato com este mito vínico foi inesquecível e intrigante. O que vi na taça foi um vinho, […]

Por marcelo
Atualizado em 25 fev 2017, 17h32 - Publicado em 4 Maio 2016, 11h00

Por Marcelo Copello

 

Lembro bem do primeiro Petrus que provei. Já se vão muitos anos, a safra era a jovem 1985, que para minha sorte me foi apresentada por Edouard Moueix, filho de Christian Moueix, proprietário do Château.  Meu primeiro contato com este mito vínico foi inesquecível e intrigante.

O que vi na taça foi um vinho, um bom vinho, com tudo que é esperado de um bom Bordeaux do Pomerol, porém com uma combinação que até então eu não sabia ser possível, de estrutura monumental, sólida, compacta, vestida com um elegância delicada, que quando extrema, nos remete à palavras como graça e simplicidade. Intrigante também pois é sério e complexo, e sem jamais ser banal, é absurdamente delicioso, e fácil de beber.

Lembro também de uma prova às cegas na qual integrei um juri internacional. Nesta degustação provamos todos os maiores vinhos do Pomerol da mesma safra,1998. Às cegas um vinho se destacou fácil, com unanimidade, como 1o (não preciso dizer que vinho foi), ficando bastante dispersa a escolha do 2o lugar .

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Apresento hoje aqui uma vertical pequena em tamanho porém colossal em qualidade. Apenas 3 safras, mas 3 monumentos, 3 anos gigantes para o Petrus e para Bordeaux em geral: 1990, 1989 e 1970. Provando safras como estas é que vemos porque este vinho exerce grande fascínio sobre enófilos do mundo inteiro. Estas três ampolas deixaram ótimas recordações e se aproximaram dos memoráveis 1961, 1928 e 1929, os melhores Petrus que já provei (a “menos boa” foi 1987).

A merlot é plantada em todo o mundo, mas sua expressão máxima acontece no Pomerol, e lá reina o Petrus, o vinho que todo merlot gostaria de ser. O Petrus, ocupa um pequeno terraço de 11,5 hectares de extensão e 40 metros de altura, com raro solo de argila azulada enriquecida com esmectita, um mineral de origem vulcãnica, que muda fisica e quimicamente o solo, forçando raízes a irem mais fundo e regulando a quantidade de água no solo, com uma frenagem excepcional.   O rendimento do vinhedo é de apenas para 30 hectolítros e a produção fica na casa das 30 e poucas mil garrafa ao ano.

Implantou sistemas de recolhimento das folhas para melhorar a exposição dos cachos de uva ao sol, favorecendo seu amadurecimento. Chegou até a usar helicópteros para sobrevoar os vinhedos e secar as uvas na época da colheita. Nos últimos anos esta extravagância foi substituída pelo “soufflause”, uma espécie de secador de cabelos gigante usado pelos colhedores, para que os cachos sejam colhidas sem orvalho. Além disso usam lampiões a óleo para aquecer o vinhedo em noites mais frias para evitar o cogelamento, uma técnica trazida da Califórnia nos anos 70.

 

As vinhas são antigas, com idade média de 45 anos, e a reposição se dá ao atingirem 70 anos. A vinificação é extremamente cuidadosa, porém bastante simples. A fermentação é feita, não em madeira ou em recipientes de aço inox, mas em cubas de concreto. Após a qual  o vinho amadurece de 22 a 28 meses em barricas de carvalho – somente carvalho novo. Ao final, sem ser filtrado, é clarificado naturalmente com clara de ovo.

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Há pouco tempo foi noticiado na mídia que o vinho tinto foi o melhor investimento do século XX. Basta analisar os números e veremos que estas estatísticas foram em boa parte turbinadas pelo Petrus. Estrela de leilões em todo o mundo, este é o vinho mais procurado por investidores. Sua valorização nos últimos anos têm superado sistematicamente vários outros tipos de investimento. Uma garrafa de Petrus hoje no Brasil não sai pormenos de R$ 10 mil. Se for uma safra boa e antiga este valor pode multiplicado muitas vezes, passando a barreira dos R$ 100 mil por uma garrafa, e é isso que torna este vinho um ótimo investimento.  Se uma garrafa destas não lhe der prazer ao ser aberta, certamente lhe dará ao ser revendida.

 

Petrus 1970

Cor granada escuro. Aroma cristalino, elegante, complexo e definido, com notas de cedro, ameixas, carvalho, ervas secas, tabaco, baunilha, azeitonas, notas florais de rosas secas, bosque úmido, mineral terroso e ferroso. Paladar de bom corpo, com uma sensação de frescor, energia, proporção e equilíbrio impecáveis, taninos finíssimos e aveludados, ainda bem presentes – 1970 foi um ano de muitos taninos em Bordeaux. Todas as grandes quaidades do Petrus estão abundantemente presentes aqui. Está pronto, exuberante agora e, por minha experiencia com Petrus, poderá se manter assim por quem sabe quanto tempo, mais 40 anos? Não me surpreenderia.

Nota: 100 pontos

 

Petrus 1989

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Cor granada muito escura. Aroma complexo e muito expressivo, o mais falante dos três.

muitas frutas maduras, notas balsâmicos, petroleo, defumados, frutas maduras, frutas secas, trufas negras, muitas especiarias, chocolate amargo, alcaçuz, café e tabaco. Paladar concentrado, denso, opulento e de grande finesse, com textura macia, profundo, muito longo, gruda na boca. 1989 foi um grande ano para Bordeaux e talvez o Petrus tenha sido vinho da safra. Está já muito expressivo e já entrando em seu auge, que deve durar várias décadas. Este é um Petrus que além de perfeito é o que chamamos de um carro alegórico, aberto, expressivo. Quem provar este vinho e não gostar, definitivamente não gosta de vinho.

Nota: 100 pontos

 

Petrus 1990

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Um degrau acima do 1989 em estrutra e um degrau abaixo em expressividade e refinamento.

Cor jovial, vermelho rubi muito escuro. Aroma complexo, rico, vincado, com notas de ameixas e amoras maduras, tabaco, chocolate amargo, baunilha, alcaçuz, café, cedro, carvalho e grafite.

Paladar enorme e compacto, com muitos taninos (finíssimos e ainda presentes, aveludados mas secantes), muito profundo, com camadas de sabor, proporções perfeitas. Diferentemente do 1989 está ainda jovem. Precisa de ao menos mais uma década para começar seu auge (que certamente durará outras tantas  décadas). Este será um grande Petrus e talvez ultrapasse o 1989 e o 1970. O tempo dirá e eu espero estar lá para ouvir.

Nota: 100 pontos

 

Mais em www.marcelocopello.com

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