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Por Rita Fernandes, jornalista
Um olhar sobre a cultura e o carnaval carioca
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Casa França-Brasil reabre para o público

Exposição Casa Aberta: Passagens e seminário Imersões: arte e arquitetura marcam a retomada das atividades da instituição, que completou 30 anos

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Atualizado em 26 fev 2021, 15h45 - Publicado em 24 fev 2021, 16h52

Depois de um ano fechada por conta da pandemia da Covid-19, a Casa França-Brasil, que completou 30 anos em 2020, retoma suas atividades e abre as portas à visitação. No dia 3 de março inaugura a exposição Casa Aberta: Passagens, nome aliás bastante sugestivo em tempos de pandemia e que provoca uma reflexão sobre os múltiplos significados da palavra “passagens”. É justamente sobre esse tema que os dez artistas convidados trabalharam, trazendo suas diferentes interpretações. Participam da exposição Adriano Machado (BA), Arlindo Oliveira (RJ), Claudia Hersz (RJ), Efrain Almeida(CE/RJ), Ivan Grillo (SP), Leonardo Lobão (RJ), Marcela Bonfim (SP/RO), Panmela Castro (RJ), Patrícia Ruth (PA/RJ) e Uýra Sodoma (AM).

“Será uma viagem para dentro das almas, dos corpos e do edifício da Casa França Brasil, pois foram várias as respostas que vieram dos artistas convidados que pensaram sobre o tempo em que vivem. Cada um trouxe uma leitura do que pode ser ‘passagens’. Pode ser um caminho, uma estrada, uma tenda persa, uma revoada de pássaros migratórios que repousam no chão, ou apenas uma fração do tempo”, diz Ricardo Resende, curador.

Casa França-Brasil é o primeiro prédio neoclássico do Brasil, inaugurado há 200 anos.
Casa França-Brasil é o primeiro prédio neoclássico do Brasil, inaugurado há 200 anos. (Divulgação/Divulgação)

Essa reabertura marca um momento importante da Casa França-Brasil, um dos monumentos arquitetônicos mais importantes do país, que completou 200 anos no meio da pandemia, no ano passado. Primeiro edifício da arquitetura neoclássica registrado no Brasil, foi projetado por Grandjean de Montigny, arquiteto da Missão Artística Francesa trazida por D. João VI, e inaugurado em 13 de maio de 1820, como Praça do Comércio. Desde então, teve diferentes usos. Foi transformado em Alfândega, em 1824, por onde passavam mercadorias e negros trazidos da África como escravos. Até que, em 1990, pelas mãos de Darcy Ribeiro, tornou-se centro cultural com a inauguração da Casa França-Brasil.

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Helena Severo, diretora da Casa, não esconde a alegria dessa retomada depois desse tempo forçado sem atividades: “Fomos obrigados a aprender a conviver com tudo o que está acontecendo e a buscar caminhos para driblar essa situação tão dramática. Agora estamos retomando com dois projetos importantes, a exposição Casa Aberta: Passagens e o seminário Imersões. Me sinto muito feliz!”, diz  Helena, que tem relação afetiva de longo tempo com o espaço, desde que foi secretária estadual de cultura, em 1993.

Entre os diferentes trabalhos da exposição, destaque para o ambiente criado por Claudia Hersz, que foi em busca da etimologia da palavra Alfândega, cuja origem vem do árabe ‘al-fundaq’, que significa hospedaria, estalagem, lugar de acolhimento. Claudia cria uma tenda árabe, cujo chão é forrado de tapetes persas, “quase uma sala de Sherazade”, como ela diz.

Arlindo Oliveira, artista que vive na Colônia Juliano Moreira e é contemporâneo de Arthur Bispo do Rosario, traz suas assemblages e instalações feitas a partir de elementos como madeira, luzes, objetos utilitários e brinquedos coletados no território onde vive e trabalha, que são transformados em barcos e navios festivos, cheios de cor e luzes. As naus que vagueiam pelo mundo, pelos rios e pelos mares adentraram a Casa França-Brasil em busca das suas múltiplas passagens.

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Efrain Almeida ocupa a parte central da Casa França-Brasil com 150 passarinhos em tamanho natural, feitos de bronze.
Um dos artistas convidados é Efrain Almeida, que ocupa a parte central da Casa França-Brasil com 150 passarinhos em tamanho natural, feitos de bronze. (Divulgação/Divulgação)

Efrain Almeida ocupa a parte central da Casa França-Brasil com 150 passarinhos em tamanho natural, feitos de bronze. Eles povoam a área de confluência das portas de entrada e saída e as asas laterais do edifício, formando linhas que se cruzam e, no seu centro, simbolicamente, são ocupados por esses pássaros pousados no chão. A grafiteira carioca Panmela Castro, mistura grafite e performance e apresenta o vídeo-performance “Caminhar”, feito pelas ruas do Rio antes da pandemia como forma de denunciar o feminicídio.

Imersões: arte e arquitetura em debate

E para mostrar que arte e arquitetura caminham lado a lado, um dia antes da inauguração da exposição Casa Aberta: Passagens, começa também na Casa França-Brasil o seminário Imersões. Os debates vão percorrer questões bem críticas e atuais, trazendo novos olhares para o tema. Como pensar as relações entre arte, arquitetura, o homem e a habitação social? A quem a arquitetura se destina? A quem, de fato, atende? Os debates acontecem de forma virtual nos dias 2, 3, 4 e 5 de março, de 17 às 20h, com a participação de convidados nacionais e internacionais.

Providência, projeto de Mauricio Hora que espelha o tema da arquitetura social.
Foram 75 bicas espalhadas pelo Morro da Providência, projeto de Mauricio Hora que espelha o tema da arquitetura social. (Divulgação/Divulgação)

“Nosso objetivo é trazer a discussão para o mundo real. Imersões será complementar ao Congresso Mundial de Arquitetos e se dará a partir de um olhar alternativo. Uma discussão sobre arte e arquitetura que fuja do modelo neoliberal. Afinal, precisamos falar de desigualdades, da favela e de uma arquitetura e urbanismo que se voltam para esses espaços. É necessário pensar a arquitetura contemporânea mais vinculada ao mundo real”, diz Tania Queiroz, organizadora.

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Um dos projetos que será apresentado dentro do tema Habitação Social é o do fotógrafo Mauricio Hora, morador do Morro da Providência. Sensibilizado com as dificuldades dos moradores do Morro da Providência durante a pandemia, teve a ideia, em parceria com Alessandra Roque, de construir bicas públicas para fornecimento de água, a partir da instalação de caixas d’água na favela e no entorno. Foi assim que surgiram 75 bicas no local, que sempre teve fornecimento de água precário mesmo antes da Covid-19.

Para se inscrever, basta acessar: https://imersoes.arq.br/

Confira a programação:

Dia 2 de março
16h às 17h30 – Patrimônio e Cidade (Mesa Institucional)
Augusto Ivan (Arquiteto/RJ)
Participações de Danielle Barros (Secretária de Cultura do Estado do Rio de Janeiro/RJ) e Helena Severo (Diretora da Casa França-Brasil/RJ) e mediação de Jocelino Pessoa (Organização/RJ)

18h às 20h – Atravessamentos Contemporâneos (Mesa de Abertura)
A condição contemporânea dos atravessamentos entre arte e arquitetura, no campo ampliado da cultura, reconfiguram e desestabilizam os pensamentos da formação clássica no campo da arquitetura, uma disciplina que se desenvolveu, historicamente, voltada para classes sociais mais abastadas. Situar o debate nessa relação fronteiriça, potencializando esta zona de contato, apresenta-se como caminho possível de insurgência e enfrentamento diante das históricas desigualdades envolvidas nas questões de classe, gênero e etnicidade.
Convidados: André Carvalho (Curador de Arquitetura do Imersões/RJ) e Patti Anahory (Arquiteta, Cabo Verde) e mediação de Tania Queiroz (Organização/RJ)

Dia 3 de março
17h às 20h – Arte e Arquitetura
As relações entre arte e arquitetura ampliam-se, desde criações de ambientes e construções aos projetos que se efetivam, a partir das urgências sociais. A forma, paradigma comum às duas áreas, atravessa compreensões sociais que se direcionam aos distintivos de gênero, classe e etnicidade.
Convidados: Bárbara Copque (Artista/RJ), Cadu (Artista e Professor da PUC Rio) e Joice Berth (Arquiteta, urbanista e escritora/SP) e
mediação de João Paulo Quintella (Curador/RJ)

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Dia 4 de março
17h às 20h – Habitação social
As desigualdades sociais marcam a ocupação dos espaços urbanos. Com isso, as tarefas da arquitetura tornam-se necessárias na solução de questões básicas da moradia. Porém, iniciativas, muitas vezes, destinadas ao lucro criam segregações ainda mais complexas, nas quais o pensamento modular retira elementos da subjetividade de moradores e a valorização imobiliária segue em busca de lucros irresponsáveis. Esses modelos hegemônicos não abarcam outras ideias de morar, habitar e existir. De que modo equacionar o direito à cidade com interesses políticos especulativos na compreensão de soluções já existentes, advindas dos próprios grupos segregados?
Convidados: Maurício Hora (Artista e ativista social/RJ), Raquel Rolnik (Arquiteta e urbanista/SP) e William Bittar (Arquiteto e Professor emérito da FAU-UFRJ) e mediação de Patricia Oliveira (Arquiteta/RJ)

Dia 5 de março
17h às 20h – Arquitetura e alteridades
Pobreza, subdesenvolvimento, etnicidade são interseções que se apresentam ao tratarmos dos modos de habitar. Sempre houve um intervalo, um abismo entre desenhar, projetar, construir e os usos da casa com suas tradições ancestrais. O encontro entre arquitetura e sonho, arquitetura e reza, arquitetura e natureza tornou-se, cada vez mais, fundamental.
Convidados: Gabriela Gaia (Artista/BA), Sallisa Rosa (Artista/RJ) e Gabriela de Matos (Arquiteta/SP) e mediação de Marcelo Campos (Curador de Arte do Imersões/RJ)

Rita Fernandes é jornalista, escritora e pesquisadora de cultura e carnaval.

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