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Por Rita Fernandes, jornalista
Um olhar sobre a cultura e o carnaval carioca
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Cordão do Boitatá celebra 25 anos com show virtual no Teatro Riachuelo

Trata-se de um dos mais importantes blocos da revitalização do carnaval de rua do Rio e símbolo da resistência e da liberdade

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Atualizado em 27 jan 2021, 16h32 - Publicado em 27 jan 2021, 16h25

Lá se vão 25 anos. Era 1997, e atrás de uma cobra de fogo que serpenteava pelas ruas do Centro do Rio, acontecia o primeiro cortejo do Cordão do Boitatá. Um grupo de músicos e foliões fantasiados, andando sem destino certo. Ninguém sabia por quais ruas seguiríamos e a brincadeira era exatamente essa, se deixar levar. No sábado, dia 8 de fevereiro de 2021, o Cordão do Boitatá faria seu 25º cortejo. E no domingo de carnaval, seriam os 15 anos do Baile Multicultural que ocupa a Praça XV.

Este ano, diante da grave situação da pandemia da Covid-19, o Cordão do Boitatá não fará nem o cortejo nem o baile, da forma como merecia. O bloco também manterá a decisão de fazer carnaval apenas em 2022, se houver segurança para a população. Mas, para não deixar a data passar em branco, o grupo fará uma live no Teatro Riachuelo, no dia 14 de fevereiro, às 15h, domingo de carnaval, quando seria realizado o Baile Multicultural. A apresentação será transmitida gratuitamente pelo Youtube do bloco.

O evento não terá público e será realizado com todas as precauções sanitárias. Na abertura, uma apresentação gravada celebrando os 25 anos de cortejo de sua orquestra de rua, e, na segunda parte, um show com 1h30 de duração com sua orquestra de palco e alguns convidados celebrando os 15 anos do baile. O show terá participações de nomes do samba carioca como Mariana Baltar, Moyseis Marques, Jongo da Serrinha, Alcinéia Martins e Edu Neves.

O Boitatá é um dos blocos mais bonitos da cidade, com sua permanente celebração da cultura brasileira. É também um dos mais importantes da revitalização do carnaval de rua do Rio.
O Boitatá é um dos blocos mais bonitos da cidade, com sua permanente celebração da cultura brasileira. É também um dos mais importantes da revitalização do carnaval de rua do Rio. (Sabrina Mesquita/Divulgação)

“Não há motivos para comemorações diante de tantas perdas e descaso do governo, porém acreditamos na força transformadora do carnaval, na sua importância simbólica, e na necessidade de afirmarmos a vida através da música”, diz Kiko Horta, músico e um dos organizadores do bloco. Pensando nisso, o grupo se mobilizou para que esta mensagem de música e alegria chegue até as pessoas de forma segura em suas casas.

A orquestra de rua do Boitatá reúne mais de 100 músicos: 70 músicos de sopro profissionais e 40 músicos de percussão provenientes de escolas de samba como a Vila Isabel, Mocidade Independente de Padre Miguel, Império Serrano e adolescentes do Morro da Serrinha.

Heróis da Liberdade

O Boitatá é um dos blocos mais bonitos da cidade, com sua permanente celebração da cultura brasileira. É também um dos mais importantes da revitalização do carnaval de rua do Rio, por sua resistência em se manter vivo, e, acima de tudo, livre. Sem nenhum patrocínio, vem sustentando as suas atividades – cortejo e baile – com a ajuda dos foliões, em uma imensa rede que se renova a cada ano. Essa rede encantada tem participado de campanhas de financiamento coletivo do bloco que assim tem conseguido manter suas atividades.

O Baile Multicultural do Cordão do Boitatá é reconhecido como um grande epicentro musical no centro do Rio, reunindo mais de 70 mil pessoas na Praça XV, com muitas famílias e crianças fantasiadas. Todos os anos, o bloco traz convidados importantes da música brasileira, além de homenagear tradições culturais populares, como Tia Maria e Jongo da Serrinha, Orunmilá e Tambores de Olokum. Por ele já passaram mais de 100 artistas e grupos nacionais e internacionais, entre nomes como Martinho da Vila, Marisa Monte, Jongo da Serrinha, Teresa Cristina, Roberta Sá, João Donato, Yamandu Costa, Hamilton de Holanda, Carlos Malta, Keziah Jones, Kologbo (Fela Kuti), Nekka e Zola Star.

A essa altura, o Boitatá já estaria fazendo seus célebres ensaios no Cordão da Bola Preta, um dos melhores programas da cidade no pré-carnaval. São seis ensaios da orquestra de rua, que reúnem mais de 100 músicos de sopros, percussão e cordas de diversas gerações e partes da cidade. Não ter esses ensaios que vão esquentando a alma foliona é de uma tristeza tamanha nesse momento tão maluco.

O Baile Multicultural do Cordão do Boitatá é reconhecido como um grande epicentro musical no centro do Rio, e já contou com a participação de importantes artistas da cultura carioca, como Tia Maria do Jongo.
O Baile Multicultural do Cordão do Boitatá é reconhecido como um grande epicentro musical no centro do Rio, e já contou com a participação de importantes artistas da cultura carioca, como Tia Maria do Jongo. (Divulgação/Divulgação)

Quem vai à sede do Cordão da Bola Preta, onde os ensaios se realizam, entende a diversidade, a dimensão e a força do Boitatá, naquele conjunto de metais e percussões que enchem o espaço. Parece um cenário encantado pela cobra de fogo que dá nome ao bloco, e que há 25 anos começou sua trajetória no coração do Rio de Janeiro.

O naipe de sopristas é de tirar o fôlego, com musicistas de referência no cenário carioca como Daniela Spielmann, Aline Gonçalves, Mariana Zwarg, Alexandre Romanazzi, Edu Neves, Marcelo Bernardes. Há outros provenientes de orquestras sinfônicas, como o tubista Carlos Alberto Vega, o maestro de banda do Corpo de Bombeiros Marcio Medeiros. O grupo se completa com professores universitários como Naílson Simões e Maico Lopes e muitos jovens músicos de diversos blocos como Amigos da Onça e Charanga Talismã.

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Na bateria, mestres Paulino Dias, Mangueirinha Vicente e Rodrigo Scofield, e conta com músicos profissionais e de outras escolas de samba, como Padre Miguel e Império Serrano. A bateria do Boitatá também realiza oficinas com adolescentes do Morro da Serrinha, em parceria com o projeto Mulecada junto com Quininho da Serrinha.

Kiko, Cris e Scofield numa das apresentações do Baile Multicultural do Boitatá.
Kiko, Scofield, Cris e Mariana Baltar numa das apresentações do Baile Multicultural do Boitatá. (Divulgação/Divulgação)

“Nós acreditamos que o Carnaval pode ser um grande laboratório experimental no qual construímos novas relações, mais alinhadas com os nossos valores e crenças. A nossa festa é da política pela alegria, da justiça pela diversidade, de todo mundo para todo mundo”, resume o coletivo do bloco que esse ano vai deixar muitas saudades.

Feliz aniversário para o Boitatá, sob a maestria dos artistas e amigos Kiko Horta, Cristiane Cotrim e Thiago Queiroz. Em 2022 faremos uma linda comemoração!

Rita Fernandes é jornalista, presidente da Sebastiana e pesquisadora de cultura e carnaval. 

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