Crianças e jovens precisam de escola
Proibir a abertura dos colégios mostra, mais uma vez, a indiferença e o desprezo do país pela educação
Proibir a abertura das escolas públicas e privadas, enquanto o comércio e o resto da cidade abrem, mais uma vez expõe a indiferença, e mesmo o desprezo, do país pela educação.
O retorno à escola é necessário fundamentalmente para as crianças e jovens, que precisam conviver com os colegas e precisam do encontro com os professores e com a escola, que sempre trazem um outro olhar e uma escuta diferente para eles. E, depois, por causa do transtorno econômico e social que causa às famílias.
Nesse tempo de confinamento, vieram se acumular mais problemas para a educação sobre os já existentes. Entre outros, o fato de que um número significativo de alunos está há mais de 6 meses sem nenhuma educação formal, com consequências futuras incalculáveis para o país. Essa geração marcada pela pandemia vive, ainda, o aprofundamento da desigualdade entre os que puderam continuar aprendendo on-line e os que não tiveram acesso a nada, nem à leitura de livros, que poderiam desenvolver a capacidade de pensar e expandir os horizontes.
O afastamento tão longo da escola acentua a evasão escolar e agrava a alimentação precária, risco de abusos, de violência física, de trabalho infantil. A escola precisa receber de volta essa geração impactada e cuidar de sua saúde, física e mental.
Para o retorno, as escolas precisarão ser flexíveis e fazer parcerias com os diversos grupos de pais, alunos e professores, dialogando sobre o que é melhor para todos. Existem famílias que preferem manter os filhos em casa durante a pandemia, continuando com a aprendizagem virtual até o fim do ano. Para aqueles que não têm acesso a aulas virtuais, por falta do equipamento necessário, esperemos que seja recomendada, pelo menos, a leitura de um livro por semana. Ler é um instrumento poderoso para ampliar a capacidade de pensar. Os livros podem ser emprestados de alguma biblioteca da comunidade, de algum amigo ou pedindo à própria escola.
Os alunos que irão frequentar presencialmente a escola encontrarão o ambiente adaptado para cumprir os protocolos determinados para cuidar da saúde de todos. Aqueles que não vierem continuarão com a aprendizagem online.
As crianças chegarão a um novo cenário escolar, e terão que seguir as medidas para prevenir os riscos de contágio: aumento da limpeza, lavagem frequente das mãos e a distância física, o cancelamento de aulas de Educação Física e cuidado para não se misturarem em áreas comuns. Tudo é bastante incômodo, como também limitar visitantes externos, trabalhos de campo e eventos não essenciais, mas é necessário para manter a educação escolar das crianças sem mais interrupções.
É uma oportunidade para a aprendizagem ao ar livre, o que facilita o distanciamento físico e a ventilação ajuda a reduzir a transmissão viral. Os alunos podem ser encorajados a conduzir observações ou experimentos científicos, desenhar ou escrever em diários do lado de fora. Vai ser necessário criar e inventar mudanças para permitir acesso ao ar livre. Isso pode trazer benefícios mais amplos do que simplesmente reduzir a propagação de doenças. Os efeitos positivos da aprendizagem na natureza são tão decisivos que não deveria ser necessária uma pandemia global para fazer essas mudanças.
Certamente não há soluções padronizadas para a volta à escola porque elas não têm infraestrutura semelhante. As comunidades são diversas, o que implica flexibilidade e criatividade para a adequação de todos à nova maneira da escola funcionar, que será diferente de como era antes da pandemia.
A escola não será mais a mesma, embora continue no mesmo lugar e tenha a mesma aparência. A pandemia veio transformá-la, mas os educadores já a estão reinventando, para a geração que vai viver nos próximos tempos.