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Patricia Lins e Silva

Por Patrícia Lins e Silva, pedagoga Materia seguir SEGUIR Seguindo Materia SEGUINDO
Educação

Bullying não é coisa de criança, é coisa de educação

Uma das funções da escola é educar para evitar comportamentos que desrespeitam e agridem os colegas, outras pessoas, todas as formas de vida e o ambiente

Por Patricia Lins e Silva Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO
Atualizado em 22 ago 2024, 16h40 - Publicado em 22 ago 2024, 16h39
Bullying
A família e a escola precisam estar atentas ao bullying, que pode ser muito cruel e maltratar as pessoas. (Freepick/Reprodução)
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No último mês, lemos na imprensa que um garoto de 17 anos se suicidou. É triste saber da morte de um adolescente. Jovens têm a vida pela frente e muitas potencialidades a realizar. Podemos ter perdido um cientista, um artista, uma boa pessoa, um bom pai, um bom amigo. E, mais grave: o rapaz teria deixado escrito que não aguentava o bullying que sofria na escola.  Os motivos para se acabar com a própria vida são diversos, com angustias acumuladas ao longo do tempo que se tornam insuportáveis. Nunca é por um motivo único.

Ultimamente, o bullying está sempre entre as muitas razões de sofrimento dos adolescentes. Antes de ter esse nome estrangeiro, bullying, já existiam os que atormentavam os que eram chamados de “peles” nas turmas de escola. Talvez não fosse tão exposto como agora. E a vida era analógica, portanto os comportamentos não se espalhavam com a atual rapidez. 

A família e a escola precisam estar atentas ao bullying, que pode ser muito cruel e maltratar as pessoas. Não é coisa de criança que vai passar. Tanto a família quanto a escola têm que cuidar disso. 

A escola tem um papel importante na educação anti-bullying, assim como na educação antirracista, na educação para a aceitação das diferenças. Uma das funções da escola é educar para evitar comportamentos que desrespeitam e agridem os colegas, outras pessoas, todas as formas de vida e o ambiente.  

Não basta punir quem transgride. Educar é fazer compreender a responsabilidade de cada um na relação com o mundo – com os outros, com o entorno.

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As transgressões não se resolvem em um dia, com um castigo. Educar crianças e jovens para a consciência da responsabilidade pelas próprias ações é um processo longo, que dura toda a escolaridade. Talvez mesmo toda a vida. Dá muito trabalho e leva tempo. 

É preciso conversar com os alunos e deixar que eles conversem entre si. O adulto não deve deixar os problemas com um sempre-foi-assim, não-há-tempo-a-perder porque agora tem aula e é preciso-dar-a-matéria.

O modo mais fácil e rápido de resolver problemas de comportamento é decidir um castigo e pronto, tudo resolvido e rapidamente se retoma a rotina. Ilusão. Castigo não educa. Educar exige que se discuta sobre o que acontece e, no caso do bullying, é propor a reflexão sobre o que é crueldade e maldade, sobre desqualificação e humilhação, sobre preconceitos. Todos, famílias e escolas precisam entender que bullying não é coisa de criança, é coisa de educação. 

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Não adianta constatar que o bullying é agressivo, mesmo quando não chega a um final tão triste quanto o do menino que se matou. É preciso ação.

As conversas entre e com os alunos são sobre os tópicos já citados, como crueldade e maldade, e também sobre o que é liberdade, humilhação, prazer, o que é ser “diferente” do que se acredita ser “normal”. O que é ser “normal”. O que é humanidade – pesquisar todos os sentidos da palavra. Na verdade, são questionamentos filosóficos. E o professor de filosofia pode ajudar nessa discussão.  

Os responsáveis pelas turmas propõem aos alunos uma reflexão sobre comportamentos, sobre a responsabilidade pelo bem estar de si e dos outros. Não é convidar palestrantes para falar dos assuntos, embora seja ótimo ter quem fale com os alunos sobre liberdade, maldade, humanidade, respeito, responsabilidade. Mas não bastam as palestras. É preciso que eles mesmos se escutem, que entendam o que dizem, que argumentem entre si. Os alunos vão pensar no problema que, aliás, é mesmo deles. O adulto atua como mediador e educador. Como o adulto presente, organiza e supervisiona a discussão com sensatez. 

Em um mundo incerto como o que estamos vivendo, que passa por transformações significativas, a escola tem que lidar com todas as questões e os problemas de ordem moral e ética não são os menores. Talvez no momento sejam os de maior importância diante das transformações que se anunciam com a Inteligência Artificial. Certamente os conteúdos das aulas farão mais sentido para os alunos se forem discutidos junto com as questões existenciais e o papel de cada um na vida e na sociedade. 

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