Covid-19: o que eu devo fazer para saber se a vacina me deu imunidade?
Dr. Fabiano M. Serfaty e Dr. Helio Magarinos explicam como avaliar a resposta imune após a utilização das vacinas autorizadas pela Anvisa
Com mais de 2 milhões de pessoas vacinadas ao ritmo de 200 000 pessoas por dia, o Brasil é um dos países que mais imunizam seus cidadãos no mundo. Em breve o país entrará no processo de ministrar a segunda dose das duas vacinas, aprovadas pela Anvisa, que estão sendo aplicadas na população – a Oxford/AstraZeneca, da Fiocruz, e a Coronavac, do Instituto Butantan.
Convidei, o Dr. Helio Magarinos Torres Filho, patologista, diretor médico do Richet Medicina & Diagnóstico e diretor da área de análises clínicas da Rede D’Or São Luiz para nos ajudar a entender como é possível as pessoas confirmarem se estão de fato imunizadas e em que casos isso é relevante.
Dr. Fabiano M. Serfaty:
É preciso fazer algum tipo de exame para verificar se a minha vacinação foi eficaz?
Dr. Helio Magarinos Torres Filho:
Na grande maioria não, pois o grau de eficácia das vacinas que estão sendo aplicadas no Brasil é considerável bem seguro; entretanto, em alguns casos especiais, principalmente em grupos de risco, pode sim haver indicação de exames para averiguação da produção de anticorpos após a vacina.
Dr. Fabiano M. Serfaty:
Como faço para saber se preciso fazer o teste de anticorpos após ter tomado a vacina?
Dr. Helio Magarinos Torres Filho:
Em algumas pessoas, principalmente as pertencentes aos grupos de maior risco para Covid-19, pode haver indicação para o controle de produção de anticorpos. Essa avaliação deverá ser feita, preferencialmente, por um médico, que também fará a prescrição dos exames a serem realizados.
Dr. Fabiano M. Serfaty:
Quando devo fazer o exame do teste de anticorpos?
Dr. Helio Magarinos Torres Filho:
A pesquisa do exame que avalia os anticorpos após a vacinação deve ser realizada sob solicitação médica e o período recomendado é que seja realizado em pelo menos 30 dias após a aplicação da vacina. Caso venha a tomar a segunda dose, melhor aguardar para fazer em 30 dias após a segunda dose.
Dr. Fabiano M. Serfaty:
Que tipo de exame deve ser feito após a vacinação?
Dr. Helio Magarinos Torres Filho:
O teste mais indicado para a averiguação da produção de anticorpos após a vacinação é a Pesquisa de Anticorpos IgG para SARS-CoV-2, feita no sangue. A pesquisa de anticorpos neutralizantes para SARS-CoV-2 deve ser reservada para casos especiais, conforme orientação médica.
Dr. Fabiano M. Serfaty:
Existem diferenças entre as vacinas que possam influenciar no tipo de exame a ser realizado?
Dr. Helio Magarinos Torres Filho:
Até o momento, existem duas vacinas aprovadas pela ANVISA e em uso no Brasil, a da AstraZeneca e a Coronavac.
O vírus SARS-CoV-2 possui diferentes regiões que são utilizadas para a confecção de vacinas e também nos testes para a detecção de anticorpos. Então, conforme a vacina recebida, alguns tipos de teste podem funcionar e outros não, podendo produzir resultados falso-negativos quando utilizado incorretamente.
A região S, de spike ou espícula, é a responsável pela interação e entrada do vírus nas células e, por este motivo, é o alvo de muitas vacinas, como a da AstraZeneca, pois havendo o bloqueio da entrada do vírus, não ocorre doença. Então, quem toma esta vacina produz anticorpos específicos para a região S do SARS-CoV-2 e o teste de anticorpos a ser realizado também deve ser capaz de detectar anticorpos específicos para a região S do vírus, pois, se for específico para outra região, pode dar resultados falso-negativos. Já a Coronavac utiliza vírus atenuado e quem toma esta vacina produz anticorpos para o vírus como um todo e não apenas para uma região específica. Portanto, em quem toma a vacina Coronavac, todos os tipos de testes para a detecção de anticorpos funcionam corretamente.
Dr. Fabiano M. Serfaty:
Quais os tipos de testes de anticorpos estão disponíveis?
Dr. Helio Magarinos Torres Filho:
Os testes utilizados pelos laboratórios para a pesquisa de anticorpos no sangue, podem utilizar dois tipos de antígenos, que são fragmentos do vírus SARS-CoV-2 nos quais os anticorpos, quando presentes na amostra de sangue, vão se ligar. Os testes que utilizam a proteína S vão detectar anticorpos específicos para esta região do vírus, enquanto os testes que utilizam a proteína N, de nucleocapsídeo, detectam anticorpos para esta região apenas. As vacinas que utilizam vírus atenuado, como é o caso da Coronavac, produzem anticorpos contra o vírus como um todo, tanto para a proteína S, quanto para a proteína N. Então, para quem toma a Coronavac, não faz diferença o tipo de teste utilizado, pois todos irão funcionar. Já para quem toma a vacina da AstraZeneca, apenas os testes que utilizam a proteína S como antígeno irão funcionar e os testes com proteína N não funcionarão.
Tipo de Vacina |
Princípio Ativo |
Testes para a detecção de Anticorpos |
AstraZeneca |
Spike – S |
Somente proteína S como antígeno |
Coronavac |
Vírus Inativado |
Todos os tipos de teste tanto S como N |
Tipo de Teste para Pesquisa de Anticorpos |
Vacina AstraZeneca |
Vacina Coronavac |
Antígeno S |
SIM |
SIM |
Antígeno N |
NÃO |
SIM |
Dr. Fabiano M. Serfaty:
Os testes do tipo rápido, como os vendidos em farmácias podem ser utilizados como controle pós-vacinação?
Dr. Helio Magarinos Torres Filho:
Vai depender do tipo de vacina. Se tomou a Coronavac, os testes do tipo rápido podem ser utilizados, mas se a vacina foi a da AstraZeneca, tem que saber qual o tipo de antígeno o teste usa. Este tipo de informação nem sempre está disponível. Como limitação do uso dos testes rápidos para a pesquisa de anticorpos, vale a pena ressaltar que podem ser menos sensíveis do que os testes tradicionais, feitos nos laboratórios, também conhecidos como sorologia, e, portanto, mais sujeitos a resultados falso-negativos. O melhor é sempre consultar o seu médico antes de fazer o teste.
Dr. Fabiano M. Serfaty:
O que sabemos sobre as outras vacinas ainda não aprovadas pela Anvisa para utilização no Brasil?
Dr. Helio Magarinos Torres Filho:
Outros tipos de vacina ainda não disponíveis no Brasil, como a Sputinik V, Moderna e Pfiser também usam como princípio ativo a proteína S e se comportam, em relação aos testes de anticorpos como a vacina AstraZeneca.