Oficialmente a Covid-19 já tirou a vida de cento e sessenta e três mil pessoas no Brasil. É importante lembrarmos que o número de subnotificações é imenso, por tanto, acredito que já tenhamos perdido mais de 200 mil brasileiros pro Coronavírus. O índice de desemprego é o maior desde 2012, a inflação dos alimentos já acumula 18% de alta nos últimos 12 meses, há cinco meses seguidos o preço da gasolina sobe, o dólar já passou dos cinco reais há muito tempo, estamos há mais de dois anos sem qualquer política social e eu aqui escrevendo sobre música. “Enquanto eu sorria, assim eu ia”

A gente precisa de escapismos porque a vida é muito dura e no Brasil de 2020, ela é insalubre. Esta madrugada, mais um jovem brilhante foi morto no Centro do Rio. O cineasta Cadu Barcellos foi esfaqueado até a morte no centro de uma cidade conhecida mundialmente como “maravilhosa”. Domingo tem eleições municipais e estamos a poucos dias de saber quem irá administrar esta cidade pelos próximos quatro anos. Por aqui, o sentimento oscila entre a esperança e o salve-se quem puder. Eu acredito que às vezes a gente dá certo mesmo quando dá errado e o Rio é um pouco isso. “Não precisa morrer pra ver Deus”

No domingo também vamos escolher aqueles que cuidam das leis. O vereador integra o poder legislativo municipal e representa os interesses da população (é isso que diz a Constituição). Sabemos que no Rio, Marielle Franco, vereadora eleita legitimamente pelo voto popular, foi executada também no Centro da cidade, em março de 2018, e até hoje não foi revelado o nome do mandante deste assassinato. Outra mulher preta eleita pelo voto dos cariocas, a deputada federal Talíria Petrone, está sendo perseguida e ameaçada de morte. A parlamentar precisou sair da cidade para continuar viva. “Tristeza, por favor vá embora”

Esta semana postei uma frase no Instagram que me rendeu muito engajamento: é fim do mundo todo dia da semana. Espero que tenha provocado reflexão também. “De um povo-chocolate-e-mel”

Ontem, entrou no ar no Papo de Música, meu canal de entrevistas no Youtube, minha conversa com a Teresa Cristina. Ouvindo ela falar, lembrei de João Guimarães Rosa, em “Grande Sertão: Veredas”: o que tem de ser tem muita força, tem uma força enorme. O mundo precisou se refugiar dentro de casa para que esta força imensa brilhasse e nos iluminasse num dos momentos mais dramáticos do século. Tetê é minha tarja preta e não falo no sentido figurado. “Gente é pra brilhar, não pra morrer de fome”

Acordei, nesta manhã de quarta, com a notícia de que havia sido indicada, pela terceira vez, ao WME Awards 2020, na categoria “melhor radialista”. Fico muito feliz pelo reconhecimento. São quase dez anos à frente do FARO, programa de rádio que tem como premissa democratizar o espaço radiofônico. O WME é a maior premiação da música hoje. Ele celebra as mulheres que fazem girar a roda da indústria da música. Num ano tão dramático, ser indicada a um prêmio como este é ser transportada pra um lugar idílico onde posso encostar a cabeça e cantar desafinada (se bem que isso já faço semanalmente no PALINHA). “Tatua na tua pele que eu não vou passar batida na festinha”

Nu Azeite

O duo Nu Azeite acaba de lançar o primeiro single batizado de “Vem Com Noix”, um disco-funk já disponível em todos os aplicativos de música que te leva pra pegada setentista de Tim Maia e Lincoln Olivetti sem deixar pra trás o contemporâneo. Misturando música orgânica e eletrônica, Fabio Santanna e Bernardo Campos se inspiram em Brazilian Grooves e Boogie, o som que o país criou a partir da digestão da soul e da disco music americana, puxado no molho das particularidades da nossa problemática política, econômica e social. Nu Azeite é uma junção da house de Bernardo com a brasilidade do Fabio e, no meio disso tudo, uma paixão comum por boogie e disco-funk.

O que esperar dessa mistura carioca suingue sangue bom? A retomada, pelo menos nas pistas, do alto astral desta cidade que tem vocação pra música boa e total sinergia com o verão.

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