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Por Fabiane Pereira, jornalista
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Coronavírus: as desigualdades e os privilégios

A música sempre ajuda a entender a realidade. Grandes artistas veem as movimentações da sociedade antes das pessoas comuns

Por Fabiane Pereira Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO
Atualizado em 25 mar 2020, 16h52 - Publicado em 25 mar 2020, 16h52

Ao ler a coluna do escritor e roteirista Anderson França na Folha de hoje, chorei. A verdade é que estou aos prantos (como Letrux) há alguns dias. Eu (e o Zeca Baleiro) ando tão à flor da pele, nessa quarentena, que qualquer beijo de novela me faz chorar. Não está fácil pra mim, do alto do meu privilégio, me manter em isolamento. Mas é preciso, necessário, diria até que obrigatório e, hoje completo dez dias de isolamento absoluto.

Mas ao abrir o jornal esta manhã, li que Joana mora com seus 16 filhos e netos num único cômodo na Cidade de Deus, favela vizinha da Barra da Tijuca cujos indicadores sociais estão entre os piores do país. Como explicar para Joana e sua família que a maneira mais eficaz deles não serem contaminados pelo Coronavírus é através do isolamento social? Como dizer para quem não tem saneamento básico que é preciso lavar as mãos várias vezes ao dia com sabonete?

A compreensão plena de que nós não estamos no mesmo barco ao enfrentarmos essa pandemia é fundamental para combatê-la. Estamos no mesmo mar porém uns em iates, outros em troncos de madeira podre.

Na contramão de medidas adotadas por todos os países do mundo e recomendadas pela Organização Mundial de Saúde está Bolsonaro e “sua corja de assassinos, covardes, estupradores e ladrões” (já dizia o visionário Renato Russo). Ao defender em rede nacional de rádio e TV a reabertura do comércio, das escolas e o fim do “confinamento em massa” – sem qualquer outra proposta segura de compensar tais riscos -, o homem que ocupa o mais alto cargo público do Brasil se alinha e defende o pensamento de uma elite que enriqueceu sonegando impostos, explorando a mão de obra trabalhista, se beneficiando da impunidade e da corrupção entranhada no sistema e se mantendo distante de gente como a gente.

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Ao engrossar o coro de empresários como Roberto Justos e o proprietário da rede Madero, cujo nome nem sei, Bolsonaro usa o Estado para legitimar e ampliar as desigualdades sociais. Sabemos que no Brasil, ao contrário de outros países, a morte tem “cabelo crespo e pele escura” (como apontou os Racionais). Com o Coronavírus descobrimos que tem cor e idade basta vermos quem foram os primeiros a contrair a doença e quem foram os primeiros a morrer da doença.

Quero, neste momento, colocar meu privilégio a disposição para contribuir com a diminuição das injustiças e desigualdades sociais. Provocar o pensamento coletivo e ser influenciada por pessoas empáticas é importante mas fazer com que itens de higiene pessoal chegue até a casa da Joana é muito mais urgente. Por isso, na sexta, volto a este espaço com um levantamento de lugares que estão recebendo doações – seja em dinheiro ou em produtos. Mais do que bater palmas pros profissionais de saúde das janelas dos nossos confortáveis apartamentos, precisamos de medidas efetivas: doar dinheiro pro SUS e para as instituições que atendem a população mais pobre do Brasil.

Ou a gente para de romantizar a solidariedade ou seremos cúmplices de um extermínio em massa.

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