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Por Alexandre Carauta, jornalista e professor da PUC-Rio
Pelos caminhos entre esporte, bem-estar e cidadania
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Independência também é sinônimo de esporte adaptado

Adaptação a públicos e condições específicas fundamenta o direito constitucional ao esporte como fonte lazer, saúde, educação, cidadania

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Atualizado em 7 set 2021, 18h55 - Publicado em 7 set 2021, 16h30

Os Jogos de Tóquio lustraram nosso brilho paralímpico. As 72 medalhas, 22 de ouro, sétimo melhor desempenho do planeta, atestam a potente mixagem entre talento, perseverança e incentivos materiais e imateriais. Mantê-la irrigada, na regressiva a Paris, é um desafio dificultado pelos sobressaltos políticos, econômicos, sanitários.

Não menos importante e desafiador revela-se o amadurecimento do esporte adaptado. Renderia dividendos bem mais significativos do que os louvados méritos olímpicos.

A adaptação de modalidades esportivas a condições especiais fundamenta o direito constitucional ao esporte como fonte lazer, saúde, educação, cidadania. O desenvolvimento de atletas profissionais deriva deste compromisso. Quanto mais brasileiros incorporam o esporte nas rotinas, maior se torna o número troféus, medalhas, maior é a geração de emprego e renda no mercado do alto rendimento.

O esporte adaptado está, no entanto, muito acima dos pódios. Pavimenta o acesso a uma vida mais saudável, inclusiva, melhor. Propicia os benefícios da atividade física regular. Melhora o fôlego, a autoestima, a libido, o sistema imunológico. Previve diabetes, infarto, câncer, depressão.

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Também significa a diferença entre dependência e autonomia, entre limitação e liberdade. Não só aos 45 milhões de brasileiros com alguma deficiência, mas a idosos com restrições psicomotoras e crianças cujas comunidades e escolas carecem de estrutura para o esporte regular.

Práticas adaptadas deveriam povoar praças, colégios, condomínios. Deveriam constituir políticas públicas permanentes. Contrapartidas como a democratização esportiva, a promoção do bem-estar e a redução dos gastos com a Saúde lhe conferem um caráter quase tão prioritário quanto assegurar algum feijão aos 18 milhões assombrados pela fome e algum saneamento aos 35 milhões sem água tratada.

A adaptação de espaços, equipamentos e regras a especificidades corporais, estruturais, geográficas, culturais integra o dia a dia de profissionais de Educação Física Brasil afora. Não raramente constituem esforços isolados, abnegados, heroicos.

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Uma vez qualificadas, coordenadas e multiplicadas numa política pública nacional, essas inciativas construiriam uma população mais saudável, mais integrada, menos desigual. De quebra, fortaleceriam o tônus olímpico e paralímpico.

Tal avanço não abocanharia tanto os orçamentos federal, estadual, municipal. Custa pouco efetivar o esporte adaptado como política pública, com o desejado apoio do setor privado.

A pedra no caminho talvez seja a baixa aderência às ambições e pregações político-eleitorais, não os gastos com implementos, qualificação profissional, ajustes estruturais. Eles têm a simplicidade do menino que encontra na meia ou na chapinha um jeito de jogar, brincar, ser feliz. Eis a mágica do esporte adaptado.

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Democratizá-la proclamaria a independência de deficientes, idosos, crianças, dos mais vulneráveis, para os quais a rotina esportiva permanece um luxo, uma miragem. O desafio ainda esbarra numa certa miopia em relação às prioridades coletivas.

Para compreender a importância social do esporte adaptado, é preciso rever o cardápio de urgências. Valorizar o que verdadeiramente interessa, o que nos irmana em torno no bem-comum.

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Mais do mesmo

O cancelamento do duelo contra os hermanos ecoa o espírito desses tempos instáveis, incertos, fragmentados. Mais do que a convergência de deslizes técnicos, políticos e administrativos, o vexame histórico reproduz a queda cultural ao jeitinho. Seja no conchavo para – palavra da moda – flexibilizar as regras sanitárias numa pretensa bolha do futebol continental, raiz da confusão. Seja no drible à fiscalização aeroportuária.

O episódio cheira a pizza, fermentada na iminente classificação de Brasil e Argentina à Copa do próximo ano. Dificilmente o caso ganhará densidade superior à entrada no almanaque de passagens pitorescas dos tristes trópicos.

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Ainda assim, prevalece a sensação de perpetuarmos uma primazia dos privilégios sobre direitos e deveres; dos interesses particulares sobre os coletivos; dos mundos paralelos sobre a realidade. Os 12 mil torcedores impedidos de acompanhar o clássico no estádio do Corinthians ora pagaram parte dessa fatura. Os investidores, idem.

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Alexandre Carauta é doutor em Comunicação, mestre em Gestão Empresarial, pós-graduado em Administração Esportiva, também formado em Educação Física.

 

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