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Samantha Schmütz: “Quem se cala não é nem artista, é entertainer”

Em entrevista a VEJA Rio, atriz fala sobre novo lançamento nos cinemas, aposta na carreira musical e críticas na internet

Por Melina Dalboni
Atualizado em 21 fev 2022, 17h48 - Publicado em 18 fev 2022, 06h00

O engajamento político de Samantha Schmütz aflorou a toda quando ela perdeu um de seus melhores amigos, o humorista Paulo Gustavo, abatido pela Covid-19 em maio passado, antes de ter tido a chance de tomar a vacina. Aos 43 anos, a comediante e cantora expõe suas opiniões sem medo de desagradar aos colegas ou perder contratos. “Nunca fiquei sem trabalho por isso e a minha profissão caminha junto com o meu papel de cidadã”, diz.

Nascida em Niterói, ela hoje mora em Miami com o marido. Recentemente esteve no Rio para estrear Tô Ryca 2 — o 14º de uma filmografia que já arrastou multidões às salas de cinema. Na passagem pela cidade, aproveitou para divulgar a nova música, Bossa Loka, e preparar o próximo lançamento, que sai em março com clipe dirigido por Giovanni Bianco, o queridinho de Madonna e Marisa Monte.

A carreira na música — ela já foi até backing vocal de Serjão Loroza — está entre suas prioridades, assim como a ideia de um espetáculo na Broadway, que compartilhava com Paulo Gustavo. “Vou realizar esse sonho por nós”, promete ela, que regressa ao Brasil no segundo semestre para participar de compromissos profissionais e votar.

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Como é estrear um filme neste momento de retomada do cinema? Fazer arte neste momento é resistência. Bate uma sensação de responsabilidade, mas também de esperança. A cultura vive um massacre, e por isso é tão importante não desistirmos. Precisamos ir pra cima com força.

Sua personagem tem a fortuna bloqueada e precisa viver com um salário mínimo por mês. A comédia também é uma ferramenta de crítica social? Totalmente. E, ao mesmo tempo, tem o poder de fazer rir da própria desgraça.

Tô Ryca 2 chega como grande aposta do mercado cinematográfico, resgatando a tradição das comédias brasileiras na telona. Por que o gênero faz tanto sucesso no Brasil? Porque o brasileiro é um povo bem-humorado e a gente sabe fazer humor bem. Temos a herança de comediantes maravilhosos, como Dercy Gonçalves, Chico Anysio, Costinha, Golias, Oscarito, Grande Otelo e muitos outros.

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Quando uma piada perde a graça? Quando resvala na humilhação, no bullying, no preconceito, e debocha de qualquer tipo de fobia. Quem trabalha com humor precisa estar sempre atento para repensar aquilo que um dia teve graça e hoje não tem mais. Temos esse dever.

Por que decidiu morar nos Estados Unidos? Queria ampliar minhas possibilidades, estudar na meca do entretenimento e tentar buscar em mim um sentimento de começar de novo, de conquistar coisas do zero. Ser casada com um americano foi providência divina. Meus planos e os do Criador estão bem alinhados.

Qual a diferença de sua rotina lá e aqui? Minha vida lá é bem simples. Raramente uso carro, utilizo um trem gratuito para ir ao mercado e à escola de cinema, a New York Film Academy, em Miami. Também pude começar a treinar triatlo supervisionada a distância pela Fernanda Keller.

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Sente saudade do Rio? Das pessoas que amo, principalmente da minha família, da beleza da cidade, da geografia sem igual das montanhas, sim. Mas não sinto falta da insegurança, dos preços exorbitantes e dos bueiros entupidos.

“Estamos com o microfone na mão falando para uma multidão. Hoje em dia, quem se cala não é artista, é entertainer. Artista é outra coisa”

Investir em uma carreira internacional hoje é mais fácil? O mundo inteiro está abraçando a diversidade, e Hollywood segue a mesma trilha. Tenho orgulho de ver artistas brasileiros alçando voos cada vez mais altos. Temos Rodrigo Santoro, Wagner Moura e Alice Braga abrindo caminho no cinema. Na música, Anitta e Ludmilla estão cantando com estrelas do naipe de Snoop Dogg.

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Gostaria de participar de um espetáculo na Broadway? É meu sonho. Quero muito viver essa experiência. Eu e Paulo (Gustavo) tínhamos um projeto de fazer uma comédia musical lá. Seríamos eu, ele e um outro ator, algo off Broadway. Quando a gente ia assistir a alguma peça desse circuito, a gente sonhava junto. Não deu tempo. Mas eu vou realizar esse sonho por nós.

As pessoas ainda têm preconceito com uma atriz que decide trabalhar também como cantora? Acho que sim. Aos poucos, porém, os brasileiros estão entendendo a multiplicidade do artista.

Quais são suas inspirações na seara musical? Sou fã de artistas que fazem letras que proporcionam alguma reflexão, tipo Elis Regina, Racionais, Nação Zumbi, Criolo, MC Carol… É exatamente isso que eu quero apresentar para o público.

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Você virou alvo de haters por criticar as medidas de combate à pandemia do governo federal e também contrariou uma ala de artistas e influenciadores que não respeitava o isolamento social. Como lida com os haters? Não lido, bloqueio. Eu não me abalo com a opinião de quem eu nunca vi. Sinceramente, eu só me incomodaria se fosse alguém que eu amo ou admiro.

Qual sua opinião sobre a atual política cultural do governo? Um absurdo o que está acontecendo. É um movimento orquestrado para alienar a população, já que os artistas questionam, têm voz e fazem pensar.

Durante a estreia de seu novo filme, você protestou contra a morte do congolês Moïse, morto brutalmente em um quiosque na praia do Rio. Esse é um dever dos artistas? Somos um porta-voz das agonias do povo. Estamos com o microfone na mão falando para uma multidão e podemos ajudar, sim, dando visibilidade. Hoje em dia, quem se cala não é nem artista, é entertainer. Artista é outra coisa.

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