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É dura a vida da bailarina clássica – ainda mais se ela for negra

Ingrid Silva conta como chegou à prestigiada companhia de balé Dance Theatre of Harlem e fala sobre sua experiência nos protestos antirracismo em Nova York

Por Ingrid Silva em depoimento a Cleo Guimarães
Atualizado em 17 jul 2020, 21h14 - Publicado em 17 jul 2020, 06h00

Nunca vou esquecer o dia, um 13 de março. Estávamos em uma turnê em Detroit quando tivemos de cancelar todas as apresentações por causa do novo coronavírus. Segui à risca as determinações do isolamento social, até que, com a morte de Breonna Taylor, em março, de George Floyd e de Ahmaud Arbery, outro rapaz negro assassinado na Geórgia, a população se indignou e foi às ruas.

Eu sabia dos riscos, tive medo de me contaminar, mas não dava para ficar parada em um momento como aquele. Queria muito estar lá, representando a mulher negra, a brasileira imigrante. Fui a três manifestações em Nova York, todas próximas ao Harlem, bairro onde moro há dez anos. A mais emocionante aconteceu no dia do enterro de Floyd. Os homens estavam de terno, as mulheres com seu melhor vestido, todo mundo muito bem-arrumado em respeito à ocasião.

Recebi uma ótima educação dos meus pais e tive boas oportunidades ao longo da vida, mas, mesmo assim, o preconceito sempre me rondou. Sentia a discriminação na escola, na academia. Quando eu dizia que dançava, as pessoas achavam logo que era dança contemporânea e não clássica, porque até hoje ninguém associa o negro ao balé. Comecei aos 8 anos, no projeto Dançando para Não Dançar, na Vila Olímpica da Mangueira. Aos 12, fui para a escola da Maria Olenewa, no Theatro Municipal. Eu e meu irmão éramos os únicos negros da sala.

Ali, ouvi da professora uma frase que me marcou: “Coloca a bunda para dentro senão nunca mais vou te corrigir”. Duvido que ela falaria assim com alguém branco. Fiquei triste, arrasada, e segui em frente. Por sugestão de outra professora, Bethania Gomes, mandei um vídeo para a Dance Theatre of Harlem e fui aprovada. Aos 18 anos vim para Nova York sem falar nada de inglês. Foi difícil, mas consegui vencer as barreiras e estou aqui desde então, fazendo o que amo de verdade.

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