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Gregório Duvivier: “O humorista precisa correr riscos”

Em conversa franca e bem-humorada com VEJA RIO, ator e comediante comenta sobre live polêmica, Porta dos Fundos, arrependimentos, influências e mais

Por Melina Dalboni
17 jun 2022, 06h00

O humorista Gregório Duvivier, um dos fundadores do Porta dos Fundos, que completa uma década em agosto, exerce sua função de fazer os outros rir, mas não sem correr riscos e se expor. Movido por essa filosofia, e pelo desejo de defender a equipe de seu programa Greg News (HBO Brasil), ele aceitou participar de uma polêmica live, em maio, com o pré-candidato à Presidência Ciro Gomes. Os dois bateram de frente.

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Notório crítico do governo Bolsonaro, ele também não poupa o PT, mesmo já tendo declarado o voto em Lula. No início de junho, tuitou contra a escolha do partido no Rio em relação à pré-candidatura ao Senado de André Ceciliano.

Como ator, também foge da zona de conforto. Prefere o streaming à TV aberta e apostou no histórico palco do Teatro João Caetano, na Praça Tiradentes, para encenar a nova temporada do monólogo Sísifo, em cartaz neste mês. No espaço, voltado para uma plateia de 1 200 lugares, recebe o humorista português Ricardo Araújo Pereira para duas apresentações de Um Português e um Brasileiro Entram num Bar, nos dias 23 e 24.

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“A gente precisa voltar a ocupar essa região, que é deslumbrante e está às moscas, apesar da rede incrível de espaços culturais ali, uma verdadeira teatrolândia”, diz Gregório, nesta conversa franca e bem-humorada com VEJA RIO.

Qual o papel do humorista nos dias de hoje? É uma função parecida com a do jornalista, que é a de revelar, de falar com todas as letras aquilo que não está sendo dito. Uma piada, assim como uma reportagem, precisa desagradar ao menos uma pessoa. O humor é arriscado, e o humorista precisa correr riscos.

Como definiria o verbete humor em um dicionário? O humor nos lembra que fazemos parte de um coletivo, como um cimento social que une as pessoas. Um país é, afinal, um conjunto de pessoas que ri de coisas parecidas.

Por que o brasileiro é tão adepto a uma boa comédia? O Brasil é ao mesmo tempo muito libertário e muito reprimido e reacionário. E o humor ajuda a falar daquilo que não está sendo falado. Somos um país onde só conseguimos tratar de certos assuntos rindo.

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Sua opinião sobre Ciro Gomes mudou depois da polêmica live com ele? O Ciro levou muito mal nosso programa. Ele foi agressivo e, sobretudo, pouco estratégico, porque não é assim que se fala com um ex-eleitor. Votei no Ciro em 2018. É muito difícil você debater ideias com alguém que o chamou de maconheiro baixinho. Baixinho é o de menos, porque isso eu sou mesmo, mas ele me chamou de racista e outros delírios, uma reação muito agressiva.

Os analistas disseram que o Ciro ganhou relevância no Google após o debate. Sentiu-se usado? Ele pode ter conquistado relevância, mas dificilmente ganhou simpatia. Se você é um político do qual o povo não gosta, ninguém vai votar em você. O essencial é ser uma pessoa agradável, na política e na vida.

Como descreveria para um marciano desavisado quem é o atual presidente do Brasil? É alguém que ele podia levar para Marte.

O Porta dos Fundos completa dez anos em agosto. O que mudou nesta longa trajetória de piadas? A cara do Porta mudou muito. A começar pela diversidade racial. Não havia nenhuma pessoa negra no começo. Não dá para ter um grupo de humor com dez pessoas brancas no Rio de Janeiro.

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O politicamente correto afetou a maneira de se fazer o humor? Tem muita gente por aí fazendo piada de maneira engraçada e responsável. Adoro o pessoal do Choque de Cultura e a Maria Bopp, por exemplo. O humor precisa ter alguma coragem, consciência e não pode ser repetição. A pergunta que mais fazemos no Porta é se a piada é velha. O humor deve refletir o tempo dele, o novo.

“No começo, achávamos engraçado fazer piada de travesti, vestir um ator de mulher. É um dos pontos em que peço desculpas e digo: errei mesmo”

Arrependeu-se de alguma piada que fez? De muitas. No começo, o Porta dos Fundos era bastante transfóbico. Achávamos engraçado fazer piada de travesti, vestir um ator de mulher, havia muitos esquetes assim. É um dos pontos em que peço desculpas e digo: errei mesmo, não via as implicações daquelas piadas.

Já recebeu ameaças? Quando jogaram uma bomba na produtora do Porta, tivemos de andar com segurança e carro blindado por dois meses. Mas me recuso a viver com medo. Tudo o que eu gosto de fazer é na rua: samba, Carnaval, além do teatro.

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Como lida com os haters nas redes? Evito responder, ler, entrar em contato. O problema da internet é que a opinião das pessoas entra na sua casa. Isso vale para o amor e para o ódio também, mas o hater só é um problema para quem está procurando like.

Tem vontade de voltar a fazer TV aberta? Gosto mais da plataforma on demand, em que você escolhe o que quer ver. Adoro a ideia de alguém assistindo ao meu programa porque optou. É um espectador diferente do da TV aberta, em um terreno mais livre: você pode falar o que quiser e o espectador assistir se quiser.

A terapia o ajuda? Faço desde criança. Na infância, eu era muito tímido e introvertido. Fazia terapia com a mãe do Paulinho Moska, que era incrível. Depois, retomei na adolescência, com pessoas diferentes. Gosto de trocar, troco inclusive de vertentes.

Lúcio Costa é seu tio-bisavô. O que aprendeu com ele? Cresci numa casa projetada por ele e sou atento à arquitetura. Acho que ela é responsável por muita coisa. Muitas vezes, a crise conjugal se dá por falta de espaço, falta de luz. Eu morava em um apartamento muito escuro e, na pandemia, fomos para um mais iluminado, com janelões, e isso mudou a nossa vida.

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O Rio o encanta do ponto de vista urbanístico? Sim, por um lado somos donos do melhor urbanismo do mundo — tem Niemeyer e Lúcio Costa juntos com a maior floresta urbana do mundo. É um lugar com todo o potencial para ser o paraíso na terra.

Você é pai de uma menina de 4 anos e logo terá mais uma filha (é casado com a comunicadora socioambiental Giovanna Nader). Como é educar garotas nos tempos atuais? Gosto muito de ser pai de uma menina numa época como esta. Os desenhos aos quais minha filha assiste são todos de meninas empoderadas. Ela não vê princesas querendo se casar, como era nos anos 80, em que havia o absurdo da Pequena Sereia, em que a mulher abdica de sua voz e de seu mundo por causa de um boy lixo que ela nem sabe quem é.

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