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“É animador ver o esporte romper preconceitos”, diz jogadora do Fluminense

Aos 17 anos, já no time principal do Fluminense, a carioca Maria Luiza Calazans fala sobre dificuldades e conquistas na decolagem profissional

Por Maria Clara Baroni e Ursula Villela*
Atualizado em 1 ago 2023, 14h13 - Publicado em 1 ago 2023, 14h10
Foto mostra jogadora Luiza Calazans acompanhada de outra
Maria Luiza Calazans: em bate-papo, jogadora fala dos seus planos futuros (Adriano Fontes/CBF/Divulgação)
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O esporte está no DNA da jogadora de futebol Maria Luiza Calazans de Faria, atualmente no na equipe profissional do Fluminense. A jovem de 17 anos começou a jogar bola com a irmã gêmea, Duda Calazans, aos quatro anos de idade, numa quadra em frente à antiga casa dela. Esse início contou com a influência significativa do pai e do irmão, que também jogaram profissionalmente.

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Assim como a maioria das atletas de futebol, Maria Luiza enfrentou e ainda se depara com preconceitos estruturais e desigualdade, afinal a ideia de que o futebol é “coisa de menino” ainda está enraizada na sociedade. Mesmo escutando opiniões machistas e preconceituosas sobre o desejo de se tornar jogadora, Luiza persistiu. Aos 10 anos, encarou a primeira peneira e entrou para o Fluminense. A rede de apoio formada por familiares e amigos próximos a ajuda a superar discriminações. Além disso, a adolescente precisa conciliar as rotinas esportiva, escolar, familiar e social.

Enquanto busca o amadurecimento técnico, tático e físico, a jovem atleta sonha, é claro, em “alcançar a seleção brasileira principal”, que busca o primeiro caneco mundial na Copa da Austrália e da Nova Zelândia. Ela também sonha em jogar no Lyon, da França, uma das referências mundiais em futebol feminino, com oito títulos na Liga dos Campeões, principal competição de clubes do mundo.

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O desejo é embalado, aos poucos, pelo empenho nos treinos e pelos primeiros títulos: o Sul-Americano do ano passado, pela seleção brasileira sub-17 e o Brasileiro sub-19, pelo Fluminense, em 2020. O clube carioca foi o primeiro e único em que jogou. Há seis anos no clube carioca, ela aponta a estrutura às atletas como um diferencial que marcou a transição da base para a equipe profissional.

Recém-promovida ao elenco que vai disputar a Série A1 nacional no próximo ano, ela fala, no bate-papo transcrito abaixo, sobre a dureza de conjugar os estudos e os treinamentos, a perseverança para vencer a desconfiança alheia e a alegria de chegar à divisão de elite nacional. Também anima-se com os avanços do futebol feminino no país, mas reconhece a montanha de desigualdade ainda por superar.

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Como era a rotina na base do futebol feminino tricolor?

O Fluminense tinha uma parceria com a Daminhas da Bola, iniciativa que apoiava o desenvolvimento educativo e prático do futebol feminino no Brasil. A gente estudava de manhã e depois partia para o núcleo de treinamento das categorias de base do clube, em Xerém (distrito de Duque de Caxias). A gente saía da aula, esquentava a comida na escola, pegava o ônibus às 12h30 e chegava em Xerém cerca de uma hora mais tarde. Começávamos a treinar às 14h. Quando o treino era na sede, em Laranjeiras, precisava sair ainda mais cedo da escola.

Como era a estrutura esportiva, além dos treinos em campo?

Quando comecei, não havia grande estrutura para as meninas. Não podíamos ter sessões de fisioterapia, por exemplo. A preparação se concentrava no campo mesmo. Agora, no elenco profissional, a estrutura é muito diferente. Temos academia, nutrição e médico à nossa disposição.

Quais desafios você encarou mais nesse tempo?

No ano passado, quando ainda jogava pela base, passei por uma situação muito difícil. Machuquei o joelho e tive que conciliar a escola, o treino e o tratamento. Foi duro. Recebia todos os trabalhos da escola pela internet, não conseguia tirar dúvida com o professor. Além disso, tive que ficar um tempo sem jogar, o que também me afetou muito.

Fora dificuldades de estrutura, muitas jogadoras enfrentam preconceitos e são desestimuladas a seguir adiante. Você enfrentou também esses obstáculos?

Com certeza. Muitas pessoas me diziam para desistir, que eu não conseguiria… Foi bem chato, mas a minha família sempre apoiou e correu atrás do meu sonho junto comigo. E o melhor é que as pessoas que falaram essas coisas no passado hoje em dia agem como se nada tivesse acontecido.

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Como é o dia a dia agora que você treina no time profissional?

Treinamos a semana toda no CT do Fluminense. O treino começa às 7h. Como moro na Zona Norte, acordo às 5h e pego um ônibus até lá. No campo, o treino vai até as 10h30. À tarde, rumo para a academia.

Quais são as principais diferenças na migração base para o profissional?

Na base, treinávamos no campo, a partir das 10h, toda segunda, quarta e sexta. Às terças e quintas, o trabalho era feito pela internet, via Zoom. Os técnicos nos mandavam os exercícios, e fazíamos em casa. Já no adulto, além de irmos todos os dias para o CT, vemos vídeos de jogos e treinos e treinamos na academia em busca de uma performance cada vez melhor.

Que campeonatos você tem disputado?

Chegamos à final do Campeonato Brasileiro A2, contra o RedBull Bragantino. Como tenho 17 anos, também disputo os campeonatos de base. Ficamos em terceiro no Brasileiro Sub-20. Em setembro, começa o Campeonato Carioca, tanto do Sub-2 quanto do adulto. E, em dezembro, temos a Copinha, que é um dos principais torneios de base do país.

O principal objetivo do time, chegar à série A1, foi alcançado, certo?

Sim. Era o nosso maior objetivo do ano: conseguir o acesso para a série A1. Desde o começo, nosso técnico pôs na nossa cabeça a ideia de que o time não podia ficar mais um ano na A2, de que tínhamos que subir para a série principal. Ver que essa meta se concretizou é muito gratificante para todas nós.

De todos os desafios que você enfrentou para se profissionalizar, qual foi o mais difícil?

Foi a lesão que sofri no ano passado, bem quando eu tinha alcançado o auge. Rompi um ligamento do joelho. Foi muito difícil, mesmo com os apoios da minha família e do pessoal do Fluminense. Eu pensava: “Será que eu vou voltar bem?”. Ou “Mas e se não der certo?”. Graças a Deus, depois de longos nove meses, voltei muito bem.

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O clube a acompanhou nesse período de recuperação?

Sim. Inclusive, quando eu soube do laudo oficial, a primeira pessoa com quem eu conversei foi a psicóloga do clube. Recebi acompanhamento físico, psicológico e nutricional do Fluminense até o fim do tratamento.

Apesar dos avanços recentes, as diferenças entre o futebol feminino e o futebol masculino ainda são enormes no Brasil. Na sua opinião, quais são as principais disparidades?

Acho que as principais diferenças são de investimento, visibilidade e infraestrutura. Ainda há muita carência nesses pontos. Mas o futebol feminino vem crescendo, é inegável. Por exemplo, o SporTV está transmitindo a Copa do Mundo feminina. Isso é um passo muito grande. É muito difícil lidar com essa desigualdade, mas, ao mesmo tempo, é animador ver que mudanças estão acontecendo.

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* Maria Clara Baroni e Ursula Villela, estudante de Jornalismo da PUC-Rio, com orientação de professores da universidade e revisão final de Veja Rio.

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