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Eduardo Paes: ‘Nunca teve tanto carioca mandando no Brasil’

'Você pode discordar dos caras, mas achar que eles não gostam do Rio não é verdade. Vou mostrar de que forma eles podem ajudar', promete o prefeito do Rio

Por Cleo Guimarães
Atualizado em 18 dez 2020, 10h12 - Publicado em 18 dez 2020, 07h00

Prefeito do Rio de 2009 a 2016, Eduardo Paes estará de volta ao Palácio da Cidade no dia 1° de janeiro. Ele chega sem promessas de grandes obras nem projetos mirabolantes, pelo menos para os dois primeiros anos de governo. “Minha prioridade agora é reconstruir o Rio, que está arrebentado depois de um governo esdrúxulo, coisa das trevas”, dispara contra o seu antecessor, Marcelo Crivella. Aos 51 anos, o político se vê mais maduro e preparado para administrar uma cidade repleta de gargalos, com um déficit bilionário e em  meio à crise pandêmica.

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Fiel à política de conquistar aliados à esquerda e à direita, ele planeja tirar proveito da alta concentração de cariocas em todas as esferas do poder ó entre ministros e políticos do Rio. “Nunca tivemos tantos representantes do Rio em Brasília”, diz o prefeito eleito, notório habitué dos botequins e das rodas de samba, atividades das quais mais sente falta nesses tempos de aglomeração em baixa. “Um chopinho no Bar Madrid agora, como eu queria”, comentou, ao final da entrevista concedida a VEJA RIO em seu gabinete de transição, no Centro da cidade, numa abafada tarde de dezembro.

Assumindo em pleno verão e com o novo coronavírus ainda entre nós, cogita interditar novamente as praias? Vou seguir a cartilha da ciência, que é nisso que acredito, mas sempre tentando adequar as coisas à nossa realidade. Não adianta tomar decisões que as pessoas não vão cumprir. Imagina lotear a praia, como o Crivella cogitou? Nunca funcionaria aqui. E tem mais: a praia é um espaço aberto. Antes de pensar em barrar sua frequência, haveria vários outros lugares para fechar.

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O senhor vai herdar a prefeitura com um déficit estimado em cerca de 10 bilhões de reais. Como pretende recuperar o Rio sem dinheiro no caixa? O déficit é uma realidade, só que não adianta ficar de chororô. Temos de encarar esse fato e olhar para a frente. A ideia é contornar a escassez de recursos com uma boa gestão financeira, ampliando a base de arrecadação e atraindo novos investimentos, como fiz lá atrás, durante oito anos de governo.

Mas lá atrás a história era outra, com uma Copa do Mundo e uma Olimpíada no cenário, certo? Sim e não. Em 2015 e 2016, o Brasil estava quebrado. O PIB brasileiro caiu 7,5%, Pezão não pagava o salário do funcionalismo do estado, Dilma estava sofrendo processo de impeachment em Brasília. É verdade que havia os grandes eventos, mas passávamos por uma grave crise em todas as esferas e ainda assim conseguimos fazer muito. Hoje, é claro, está mais difícil atrair investimentos. Temos de aproveitar o que tem de bom no momento para virar o jogo.

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E o que há de bom no horizonte? Nunca teve tanto carioca mandando no Brasil. O presidente da Câmara, do Supremo, da República, o vice-presidente, os ministros da Economia, da Defesa, da Casa Civil e da Saúde são todos daqui do Rio. Você pode discordar dos caras, mas achar que eles não gostam do Rio não é verdade. Vou mostrar de que forma eles podem ajudar, como fiz com o Lula, a Dilma e o Temer. Não ficava naquela: “Ah, ajuda o Rio”. Eu levava as coisas prontas para eles e dizia: “Olha, você pode ajudar o Rio assim”. O Rio passou quatro anos largado, com um prefeito que parecia estar com a pressão a 2 por 4, sempre naquele clima de “oh, vida, oh, céus”, completamente perdido. Isso vai mudar.

Aterrissando nos desafios, que são gigantescos, qual é sua prioridade? A saúde. O que eu mais ouvi durante a campanha foram reclamações sobre o funcionamento das Clínicas da Família, que implementamos no meu governo. Chegamos a atender 4,5 milhões de cariocas, e a atual gestão desmontou tudo. É uma questão de honra voltar a investir nelas.

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E com relação à área da segurança, que tanto atormenta o carioca, quais os planos? O cenário está propício para a prática de crimes porque a cidade está malcuidada, largada, sem iluminação. Nesse primeiro momento, vou reorganizar a casa. A Guarda Municipal vai fazer policiamento ostensivo nos corredores comerciais, nos locais com grande fluxo de pedestres, nas estações de BRT. Parte dela estará armada, num processo gradual. As milícias serão combatidas como tem de ser: estancando o poder econômico delas.

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A degradação e o abandono do Centro é visível. Como revitalizá-lo? Estamos estudando um conjunto de medidas para dar incentivo ao comércio local e começar a atrair moradores para essa região. Uma cidade sem Centro é uma cidade sem alma.

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Derrubar a Ciclovia Tim Maia: sim ou não? Vamos fazer uma consulta pública, isso está no meu plano de governo. A ideia é escutar a população nesse e em outros casos.

Após algumas gafes públicas, como o caso de Maricá, o senhor tem dito que a maturidade dos 51 anos vai ajudá-lo a fazer um bom governo. Pode explicar como? Estou sob os holofotes da vida pública desde os 22 anos de idade, gafes a gente comete mesmo. Hoje eu estou mais atento, mas não vou perder minha espontaneidade, virar um robô. Não acho que ser espontâneo seja um defeito. Dito isso, uma prova de que eu amadureci foi permanecer calmo enquanto o Crivella xingou até a oitava geração da minha família no último debate. Se fosse duas eleições atrás, eu ia mandar ele para aquele lugar ali mesmo. Tenho mais idade, mais experiência, passei por mais situações e aprendi a lidar melhor com esse tipo de coisa.

Com o Carnaval oficial em julho, já se fala em uma festa momesca “espontânea” em fevereiro, com pequenos blocos saindo às ruas, mesmo sem autorização. Como agirá diante disso? Não adianta imaginar que a prefeitura vai ficar atrás de bloco. Não vai. É ridículo. Chegou o momento de se criar uma cultura da responsabilidade nos indivíduos. O senhor contou com o apoio declarado de todas as escolas do grupo especial.

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Lamentou o adiamento dos desfiles? Claro. Também lamentei que no início do ano eu iria entrar na Sapucaí e ser ovacionado, fariam festa para mim. Em julho, isso eu já não sei.

 

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