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Esperança renovada na solução do assassinato cometido por policiais

À frente da pasta da Igualdade Racial, Anielle Franco, egressa da Maré e irmã de Marielle, pressiona para que o novo governo encontre os mandantes do crime

Por Ernesto Neves
17 fev 2023, 06h00

Próximo de completar cinco anos, o atentado que matou a vereadora Marielle Franco e seu motorista, Anderson Gomes, no Centro do Rio, segue sem solução. O que se sabe é que o bárbaro crime foi executado pelo sargento reformado da Polícia Militar Ronnie Lessa e o ex-policial militar Élcio Queiroz. Sobre o mandante, porém, persiste o mesmo ponto de interrogação. As esperanças de uma solução para o caso se renovaram com algumas movimentações que se desenrolaram nos bastidores e na própria Esplanada dos Ministérios. Um ponto que pode pesar a favor é a reorganização do Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco) do Ministério Público do Rio, responsável pela principal frente de investigações, e sob novo comando. Uma recente mexida na superintendência regional da Polícia Federal no estado, agora supervisionada pelo delegado Leandro Almada da Costa — aquele que demonstrou interferência nas apurações — também pode ajudar. Mas é de Brasília, por ora, que se abrem perspectivas mais animadoras. O ministro da Justiça e da Segurança Pública, Flávio Dino, afirmou ser “questão de honra” encontrar o mandante. A ideia de Dino é federalizar o caso.

Direto da Esplanada, onde hoje ocupa a cadeira de ministra da Igualdade Racial, a irmã da vereadora, Anielle Franco, 38 anos, acompanha cada passo com esperança renovada. “Espero que a gente consiga avançar a partir de agora”, afirma a parlamentar, que se tornou porta-voz da família na luta por justiça. Foi ela que articulou uma rede de fiscalização com entidades da sociedade civil e autoridades, intensificando a pressão por transparência. Não perde um detalhe do desenrolar do caso, sempre informada pelos defensores Fabio Amado e Lívia Casseres. Anielle também ajudou a fundar o Comitê Justiça por Marielle e Anderson. A entidade é composta pelo Instituto Marielle Franco, ONG criada para dar suporte às bandeiras da vereadora, e conta com a participação das organizações Justiça Global e Anistia Internacional Brasil, entre outras.

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Anielle e Marielle crianças na casa da família, na Maré: história das irmãs virou livro -
Anielle e Marielle crianças na casa da família, na Maré: história das irmãs virou livro – (./Arquivo pessoal)

O interesse da ministra pelas questões sociais foi incentivado desde cedo pela irmã, mas se intensificou a partir de 2016, quando Marielle saiu candidata à Câmara de Vereadores. Após o assassinato, Anielle, que sempre se dedicou aos esportes e ao mundo acadêmico, mergulhou de vez na política. Aos 8 anos, foi descoberta enquanto jogava vôlei numa quadra do Complexo da Maré, onde nasceu e cresceu. Virou atleta do Vasco e do Botafogo, até que seu bom desempenho rendeu um convite para estudar nos Estados Unidos. Foram doze anos no país, onde viveu entre Texas, Louisiana, Carolina do Norte e Flórida, e onde cursou faculdades de inglês e jornalismo. Na volta ao Brasil, concluiu dois mestrados e trabalhou como professora de inglês em escolas particulares.

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A vida que levava desmoronou em 14 de março de 2018, o dia do assassinato da irmã. Nas semanas seguintes, perdeu o emprego nas três instituições particulares nas quais lecionava, que se queixaram que ela estava sob os holofotes e não queriam ver sua imagem associada ao crime. Para piorar, ainda teve de lidar com a multiplicação de postagens falsas disparadas contra ela e a família. “O vôlei foi minha válvula de escape”, conta, referindo-se ao esporte que costumava praticar todo fim de semana com os amigos até se mudar para Brasília. “Mesmo diante de tanta atrocidade, mantive meus valores e posicionamentos”, diz Anielle, que recentemente lançou o livro Minha Irmã e Eu: Diário, Memórias e Conversas sobre Marielle, em que detalha a relação das duas na infância e na adolescência.

Do Rio para Brasília: com Lula na posse como ministra da Igualdade Racial -
Do Rio para Brasília: com Lula na posse como ministra da Igualdade Racial (Ricardo Stuckert/Divulgação)

A guinada veio em 2019, justamente ao fundar o Instituto Marielle Franco. A entidade dá apoio a mulheres pretas, pessoas LGBTQIA+ e de periferia, e conquistou projeção internacional. Como diretora, Anielle passou a se encontrar com autoridades, jovens e admiradores do legado da irmã. Só no ano passado, calcula ter encarado mais de setenta voos a trabalho, entre eles uma viagem a Santiago, no Chile, para representar o Brasil na posse do presidente Gabriel Boric, e outra a Genebra, na Suíça, para participar de uma assembleia da ONU. Também esteve com Francia Márquez, a vice-­presidente da Colômbia, rodou o Brasil em encontros de temática social e apoiou ativamente a campanha presidencial de Lula. Hoje integrada ao governo, tem como desafio colocar de pé seu ministério em tempos de séria restrição orçamentária. Anielle pleiteou orçamento de 100 milhões de reais para a pasta — dinheiro que, segundo ela, deve ser aplicado sobretudo para apoiar estudantes pretos. “Nada vai me impedir de lutar pelas causas da minha irmã”, afirma a agora ministra.

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