Blackbird
- Duração: 80 minutos
- Recomendação: 16 anos
Resenha por Rafael Teixeira
Um incômodo profundo contagia a plateia na peça do inglês David Harrower. Vencedor do prêmio Laurence Olivier, o mais importante do teatro britânico, como a melhor montagem de 2006, o drama é inspirado em um episódio real de pedofilia envolvendo um ex-fuzileiro naval americano de 31 anos e uma menina britânica de apenas 12. Em cena, Ray (Yashar Zambuzzi) e Una (Viviani Rayes) ocupam a sala imunda do lugar onde ele trabalha (apropriadamente claustrofóbica no cenário de Pati Faedo). Como se verá, quinze anos antes, quando ela era uma criança e ele tinha pouco mais de 30, os dois tiveram um envolvimento amoroso — se é que se pode usar tal expressão para descrever um relacionamento entre um homem feito e uma menor de idade. Preso pelo crime, Ray consegue refazer a vida sob nova identidade, mas a moça descobre seu paradeiro e vai atrás dele. Ao longo de intenso diálogo, zonas cinzentas vão sendo descortinadas pela exposição do caráter consensual da relação mantida no passado. Quase ao final, surge uma garota interpretada por Debora Ozório, reforçando irremediavelmente o desconforto no público. Harrower se equilibra no fio da navalha: não vilaniza nem absolve seus personagens. A abordagem encontra consonância na direção firme de Bruce Gomlevsky e nas performances equilibradas de Viviani e Zambuzzi.