Continua após publicidade

Coronavírus: cineasta carioca conta como a indústria de Hollywood parou

"A primeira a paralisar tudo foi a Disney, depois a Universal; agora todas as produções de Los Angeles suspenderam suas atividades", conta Claudia Castello

Por Cleo Guimarães
Atualizado em 30 mar 2020, 20h19 - Publicado em 30 mar 2020, 15h08

A cineasta carioca Claudia Castello trocou Copacabana por Los Angeles há quase duas décadas e conta que esta é a terceira onda de pânico coletivo que vivencia nos Estados Unidos. Ela deu seu depoimento a VEJA RIO sobre a vida em tempos de pandemia de coronavírus na meca do cinema mundial. “Estamos sem previsão para retornar às filmagens”, conta. Leia a seguir.

“Sou cineasta e moro no sul da Califórnia há quase 20 anos. O Covid-19 se espalhou muito rápido aqui em Los Angeles. Em janeiro, quando fui ao festival de Sundance para o lançamento do filme “Sérgio”, que montei para a Netflix, o vírus já estava na China e o primeiro caso tinha chegado aos Estados Unidos. Mas não se cogitava ainda uma pandemia.

Coronavírus: ‘Vá para o inferno, Regina Duarte’, escreve Pedro Cardoso

 No dia 9 de março havia por volta de 100 casos nos EUA e hoje (30 de março) temos o maior número de testes positivos no mundo, com 124 mil casos mais de 2 mil mortes – ultrapassamos a China, com seus 85 mil doentes e 1.300 mortes.  Estou trabalhando agora num projeto grande, que envolve produção em seis países diferentes. No dia 12 de março, mandei uma mensagem para o meu agente dizendo que achava que iríamos ter que parar em algum momento próximo. Naquele mesmo dia recebemos a notícia de que as filmagens seriam interrompidas e nós, da equipe de montagem, trabalharíamos até o final da semana seguinte. Mas logo tivemos a notícia de que pararíamos imediatamente. 

Movimento “Apoie Um Restaurante” busca ajudar casas afetadas pela crise

Continua após a publicidade

 Os nossos supervisores e coordenadores fizeram de tudo pra nos manter trabalhando. Paramos por uma semana, mas na última quinta-feira dia 26 de março, voltamos a trabalhar por mais duas semanas, de casa. Depois disso não sabemos o que vai acontecer. Estamos sem previsão para retornar às filmagens. A primeira a parar foi a Disney, depois a Universal, depois todas as produções de cinema aqui em Los Angeles. Por mais boa vontade, integridade, compromisso ético que a equipe e os estúdios tenham, um grande ponto de interrogação paira no ar nesse momento. 

 Essa é a terceira vez que passo por uma situação de pânico coletivo aqui nos Estados Unidos. Em 2001, um mês depois que cheguei, aconteceu o ataque às Torres Gêmeas em Nova Iorque. Nesse dia, quando fecharam todos os aeroportos do país temporariamente, tive uma sensação terrível de claustrofobia. Questionei-me sobre o que estava fazendo longe da minha família e dos meus amigos. Foi muito assustador. Mas não chegou nem perto do que estamos vivendo agora, isolados e com a recomendação de não sair de casa.

Covid-19: Sambódromo recebe moradores de rua a partir desta segunda (30)

 A segunda vez foi em 2008, na crise imobiliária. Como sou cidadã americana, tive acesso a empréstimos para fazer um mestrado em Cinema. Foi a melhor alternativa que encontrei para sobreviver em uma época que não havia muitas oportunidades de emprego. Quando me formei, a crise havia passado e comecei a trabalhar na indústria audiovisual. 

Continua após a publicidade

Essa é a terceira onda coletiva de medo que passo em minha vida. Comecei a entender o que estava por vir quando fui jantar com um amigo aqui em Los Angeles no dia 10 de fevereiro. Esse amigo é noivo de uma chinesa de Wuhan, onde tudo começou. Ele me mostrou vídeos de um dos “mercados molhados” (onde os chineses vendem animais silvestres e outros alimentos ao ar livre) fechado e também imagens dos pontos de controle da polícia. E me disse que os moradores da cidade estavam confinados a circular dentro do áreas delimitadas próximas às suas casas. Parecia surreal, mas estamos vivendo quase a mesma realidade agora aqui na Califórnia.

Coronavírus: ator diz como é fazer parte do grupo AAA, o mais vulnerável

Por mais que a gente queira seguir com os projetos, o mais importante agora é evitar a transmissão do vírus, ter paciência e articular a melhor forma de manter nossos compromissos e trabalhar em conjunto na reconstrução da nossa sociedade. Vamos ter que repensar nosso modo de vida.” 

*Claudia Castello trabalha em Hollywood há mais de 10 anos. Montou filmes premiados e blockbusters como ‘Pantera Negra’, ‘Creed: Nascido para Lutar’, “The Last Full Measure’, entre outros. Assina a montagem do longa ‘Sergio’, estrelado por Wagner Moura, que será lançado mundialmente no próximo dia 17 de abril, na Netflix.

Publicidade

Essa é uma matéria fechada para assinantes.
Se você já é assinante clique aqui para ter acesso a esse e outros conteúdos de jornalismo de qualidade.

Domine o fato. Confie na fonte.
10 grandes marcas em uma única assinatura digital
Impressa + Digital no App
Impressa + Digital
Impressa + Digital no App

Informação de qualidade e confiável, a apenas um clique.

Assinando Veja você recebe mensalmente Veja Rio* e tem acesso ilimitado ao site e às edições digitais nos aplicativos de Veja, Veja SP, Veja Rio, Veja Saúde, Claudia, Superinteressante, Quatro Rodas, Você SA e Você RH.
*Para assinantes da cidade de Rio de Janeiro

a partir de R$ 39,90/mês

PARABÉNS! Você já pode ler essa matéria grátis.
Fechar

Não vá embora sem ler essa matéria!
Assista um anúncio e leia grátis
CLIQUE AQUI.