200 tons de cinza
Livro reúne cartões-postais de um Rio de prédios baixos, revela aspectos urbanos e naturais do passado e mostra aquela gente que parecia sair de casa sempre vestida de preto e branco
Corcovado sem Cristo, Pão de Açúcar faltando o bondinho e Praia do Flamengo desprovida de aterro, todos esses lugares-comuns usados para ilustrar como era a cidade de outrora são fichinha perto do que se vê no livro O Rio de Janeiro em Antigos Cartões-Postais: Arquitetura e Paisagismo no Século XX, lançado, na semana passada, pelo designer Leonardo de Mello Ribeiro Pinto. São quase 200 páginas recheadas de fotos em que se revelam rios e ruas que simplesmente não existem mais, prédios que um dia foram ?enormes?, mas acabaram demolidos, e, perpassando natureza e edificações, um tipo de gente que também parece ter ficado no passado: homens sempre de chapéu, mulheres portando sombrinhas e crianças com roupas alinhadas ? isso sem falar de cenas como cavalos parados em uma Avenida Niemeyer ainda de terra batida, hoje algo improvável e com certeza arriscado, no vaivém de São Conrado-Leblon. Logo no início, dando o tom de nostalgia que define a obra, cita-se o poeta Manuel Bandeira: ?Que saudades que eu tenho / do Rio como era dantes / o Rio que tinha apenas / quinhentos mil habitantes?. Em seguida, conta-se como surgiu, no mundo e no país, o hábito de mandar cartões. E aprende-se que ?o colecionador de postais não é um mero guardador de retângulos de papel com belas fotos, mas sim um preservador de imagens?. Fruto de consulta a acervos variados, o livro traz cartões-postais com carimbos e selos peculiares ? e em alguns casos mantendo até as frases de quem um dia os enviou.