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Confira trechos de crônicas de Nelson Rodrigues sobre futebol que estão na peça À Sombra das Chuteiras Imortais

Inventor, com Vestido de Noiva, da dramaturgia moderna brasileira, Nelson Rodrigues terá exibida no palco outra faceta de sua extensa produção: a de cronista de futebol. No próximo dia 3, estreia no Teatro Sesi o espetáculo À Sombra das Chuteiras Imortais, que transpõe para a cena diversos trechos de seus escritos sobre o esporte mais amado […]

Por rafaelteixeira
Atualizado em 25 fev 2017, 18h44 - Publicado em 28 mar 2014, 15h59

Inventor, com Vestido de Noiva, da dramaturgia moderna brasileira, Nelson Rodrigues terá exibida no palco outra faceta de sua extensa produção: a de cronista de futebol. No próximo dia 3, estreia no Teatro Sesi o espetáculo À Sombra das Chuteiras Imortais, que transpõe para a cena diversos trechos de seus escritos sobre o esporte mais amado do país. O fio condutor é um conto do próprio Nelson, O Grande Dia de Otacílio e Odete. Na história, Otacílio (Gláucio Gomes), apaixonado por futebol, descobre que é traído por sua mulher, Odete (Ingrid Conte), na véspera da final da Copa do Mundo de 1958. Ao longo da encenação, frases que o autor destilou ao longo de muitas crônicas vão sendo incorporadas. Henrique Tavares assina a adaptação e a direção. Anderson Cunha, Crica Rodrigues e César Amorim completam o elenco.

Confira alguns trechos de crônicas que são citados na peça:

“Quero aludir ao que eu poderia chamar de Complexo de Vira Latas. A inferioridade em que o brasileiro se coloca, voluntariamente, em face do resto do mundo. Na final de 50 éramos superiores aos adversários. E ainda levávamos a vantagem do empate. Mas a seleção ganiu de humildade diante do Uruguai. Jamais foi tão evidente, eu diria mesmo, espetacular, o nosso vira-latismo. Perdemos de maneira abjeta. Os uruguaios nos trataram a pontapés, como se fôssemos vira-latas.”

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“No futebol, o pior cego é o que só vê a bola.”

“Observem agora o que o escrete fez por nós. Há pouco tempo o brasileiro tinha uma certa vergonha de ser brasileiro. Agora não. Agora acontece essa coisa espantosa. Todo mundo quer ser brasileiro. As mulheres estão mais lindas, os homens mais fortes, e há uma bondade difusa, volatizada, atmosférica. Jamais nos cumprimentamos tanto. E como sorrimos uns para os outros.”

“Garrincha não acredita em ninguém e só acredita em si mesmo. Para ele, Pau Grande, a terra onde nasceu, vale mais que toda Europa. Com esse estado da alma, plantou-se em campo para enfrentar os russos. Outros poderiam tremer. Ele jamais. Perante a plateia internacional, era quase um menino. Tinha essa humilhante sanidade mental do garoto que, em Pau Grande, na sua cordialidade indiscriminada, cumprimenta até cachorro.”

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“A realeza é, acima de tudo, um estado de alma. Pelé se sente um Rei, da cabeça aos pés! Quando ele apanha a bola, e dribla um adversário, é como quem enxota, quem escorraça um plebeu ignaro e piolhento. Sua cabeça, mão e ombros, sustentam coroa, cetro e um manto invisíveis. Dir-se-ia um Rei, não sei se Lear, se imperador Jones, se etíope. Racialmente perfeito, ponham-no em qualquer lugar e sua majestade dinástica há de ofuscar toda a corte ao redor.”

“Diante do defunto, diante do ser transfigurado verifiquei o seguinte: não há morto canastrão. Vestido de noivo, com sapatos engraxados, ele tinha a face, o perfil de um grande ator. Era um perna de pau, apenas um perna de pau. Mas no caixão, apresentava uma nobre e taciturna máscara cesariana. Cheguei a seguinte conclusão: todo morto é um César.”

“A mais sórdida pelada é de uma complexidade shakespeariana. Às vezes, num córner mal ou bem batido, há um toque evidentíssimo do sobrenatural.”

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