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Além da olimpíada: como o breaking está integrado à cultura carioca

Praticantes do estilo chamam a atenção para a necessidade do aumento de incentivos, divulgação da modalidade e melhoria da infraestrutura

Por Enzo Krieger
15 ago 2024, 17h30
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Andressa Colares: a b-girl Dressa começou no breaking há 11 anos (Marcelo Maragni/Divulgação)
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Estilo de dança urbana e de vida, pautado em lutar por ideais coletivos, o breaking se tornou esporte olímpico nos Jogos de Paris 2024, mas não contou com competidores brasileiros. No Rio de Janeiro, o Breaking do Verão, realizado em janeiro, e as classificatórias do Mundial, o Red Bull BC One, no Circo Voador, em julho, colocaram a cidade no mapa da nova modalidade olímpica.

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Mas não é de hoje que o breaking é realidade carioca. Elemento da cultura hip-hop, nascida nos guetos americanos na década de 1970, assim como o grafite, MCs e DJs, a dança começou a ganhar as ruas do Rio em meados dos anos 80. B-boys e b-girls, como são chamados os dançarinos, estão por toda a cidade expressando seu estilo de vida.

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Hoje professor de dança, Gabriel Monteiro, o b-boy GB, conheceu o breaking há 13 anos, no projeto A Arte é o Melhor Remédio, no Rio Comprido, Zona Norte. A música e os movimentos foram influências para o b-boy, que logo abraçou o hip-hop e se juntou ao grupo Flow 021 Crew, que se reúne regularmente para praticar num casarão na Rua Dona Mariana, em Botafogo. “Nós vivemos em família. Eu fui acolhido, e hoje o breaking é a minha vida. É a nossa identidade. Nós vivemos e pensamos o breaking”, diz.

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Pesquisador de rap, o professor da Uerj Gabriel Gutierrez Mendes corrobora que a prática é mais que uma expressão cultural, influenciando hábitos de vida dos dançarinos. Esse estilo de vida é pautado por uma postura politizada, de ideal comunitário e ligada à pauta antirracista. “O hip-hop tem essa ideia de que não é só uma prática estética, é também um estilo de vida, uma ética. O breaking e o rap valorizam a vida periférica comunitária, um coletivo muito atravessado pela questão racial. Sempre há uma conduta”, observa.

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Parte do movimento cultural afro estadunidense do hip-hop, o breaking, se “acarioca” ao chegar ao Rio, ganhando tons próprios. “Aqui, as pessoas adaptaram, mediaram, ressignificaram, conflitaram com algumas coisas e assimilaram outras à nossa cultura”, explica o pesquisador.

O competidor Pedro Henrique Bruno, o b-boy Pedrin Brum, também enfatiza a presença carioca no ritmo. Para ele, a ideia de integração cultural amplia o leque de conhecimento presente nas ruas e abre portas para novos passos. “Sou carioca da gema. Nós temos o funk, o passinho, que é patrimônio cultural. É uma vivência, não tem como se dissociar disso. Quando dançamos, é a nossa identidade carioca”, exalta o b-boy.

Andressa Colares, a b-girl Dressa, começou a trajetória na área há 11 anos e atua como professora de dança, competidora e apresentadora. Ela destaca a explosão artística e esportiva do break dance carioca: “Só o Rio de Janeiro tem essa pegada. É delicioso”.

Pedrin Brum adorou a escolha do Circo Voador como local das etapas classificatórias, que tiveram o b-boy francês Lilou, campeão do mundo em 2005 e 2009, como um dos jurados. “Fazer o BC One no Circo Voador é histórico. É um lugar que tem um peso na história da arte nacional, bem no coração do Rio de Janeiro, em frente aos Arcos da Lapa. Trazer o breaking para cá é muito importante”.

Somados aos torneios disputados aqui, os Jogos de Paris 2024 funcionaram como uma vitrine para o break, acredita Gabriel Monteiro: “É um espaço de evolução da nossa cena, uma economia que começa a circular. Nova geração, novo público. Esses eventos são importantes para que possamos ampliar o conhecimento dessa cultura, mas não só aqui no Rio ou em Paris”. Para GB, o break ajuda a construir uma noção de cidadania por meio do esporte e da cultura: “Esse estilo de vida aproxima as pessoas”. Isso sem falar na troca de experiências entre os praticantes. “É uma troca de conhecimentos espetacular”, completa GB.

Os paulistas Yeshua Rebello, o b-boy Eagle, de 17 anos, e Chaya Gabor, a b-girl Angel, de 14 anos, são irmãos e fazem parte da nova geração de estrelas da dança. Os dois integrantes da seleção brasileira kids de breaking viajaram de São Paulo para se movimentar no Circo Voador. “É muito legal essa oportunidade de vir para o Rio. Dançar num lugar histórico como esse agrega muito”, afirmam Yeshua e Chaya.

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Apesar de a cidade ser a casa de grandes eventos, Dressa alerta sobre a necessidade do aumento de incentivos, divulgação da modalidade e melhoria da infraestrutura local. “A cidade é linda, rica em artistas e pessoas famintas por cultura. É preciso mais valorização e acessibilidade. Ainda estamos nesse processo de adaptação, e o público conhecerá mais do breaking”, acredita a professora.

A final global do Red Bull BC One, que acontece na Farmasi Arena no dia 7 de dezembro de 2024, reunirá na cidade b-boys e b-girls de mais de 30 países.

*Estudante de Jornalismo da PUC-Rio, com orientação de professores da universidade e revisão final de VEJA Rio.

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