Como emprestar frescor a um clássico encenado diversas vezes e que, adaptado para o cinema, ganhou o Oscar em cinco categorias? A gente quis fazer a nossa montagem. A peça foi escrita em 1962, no ano passado ganhou até encenação especial de cinquenta anos. Não tem muito que inventar, não. É um texto muito rubricado, amarrado, com as intenções que o autor queria dar aos personagens, às situações. Claro que buscamos um cenógrafo contemporâneo (Gringo Cardia), fizemos algo moderno, com luz de qualidade (do Maneco Quinderé), figurino bacana, mas tudo muito dentro do proposto.
Edward Albee costuma inspecionar as montagens da peça. Como foi esse contato? Foi bem difícil. Ele foi muito exigente, afinal esse texto é a menina dos olhos dele. O Albee queria ver cenário, figurino, tudo pronto mesmo antes de aprovar a cessão de direitos. Levou um ano o processo todo. Quando ele aprovou, pensei: ufa, estamos no caminho certo! Senti que ficamos fortalecidos ao final.
Você tem uma sólida carreira como atriz, uma trajetória de quatro décadas, mas também se formou em medicina pela UFRJ. Carrega alguma influência dos tempos de universidade? Não cheguei a trabalhar como médica, do meio para o fim da graduação já sabia que não queria aquilo. Não gostava de ver sangue. Mas teve uma coisa muito interessante. A faculdade e os cursos que fiz em hospitais me deram uma consciência da realidade brasileira, da pobreza, da falta de higiene, de saneamento básico. Isso tudo contribuiu para me deixar de pé no chão. Não me deslumbro com o fato de ser atriz, o mundo da TV ou a fama.