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Vitor Belfort se despede dos octógonos do UFC

Lenda do MMA, o carioca de 41 anos, hoje radicado na Flórida, encerra sua vitoriosa carreira no Ultimate Fighting Championship

Por Sofia Cerqueira
Atualizado em 11 Maio 2018, 10h00 - Publicado em 11 Maio 2018, 10h00
 (Fernando Frazão/Divulgação)
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“O segredo não é viver de desejos, e sim de metas.” A sentença proferida por Vítor Belfort faz todo o sentido a esta altura do campeonato. Ultradeterminado, combativo e afeito a frases motivacionais, o lutador, de 41 anos, conseguiu chegar muito mais longe do que a maioria de seus oponentes. Seja qual for o resultado do duelo com o também brasileiro Lyoto Machida neste sábado (12), no combate que marca sua despedida do Ultimate Fighting Championship (UFC), o peso-médio deixará a Jeunesse Arena, na Barra, consagrado como campeão. Morador do Leblon antes de se radicar nos Estados Unidos, o carioca foi o mais jovem a vencer na história do UFC, aos 19 anos, e agora ostenta o título de atleta mais longevo da organização, com uma trajetória de duas décadas distribuindo sopapos. Detentor de um currículo com quarenta lutas e 26 vitórias, dezoito delas por nocaute, ele se tornou uma lenda do MMA muito antes de anunciar que penduraria as luvas. “Ele é uma inspiração para os atletas. Enquanto um lutador atinge o ápice e decai, em média, em cinco anos, ele passou por quatro gerações de profissionais mantendo-se no topo da categoria”, ressalta o ex-lutador Antônio Rodrigo Nogueira, o Minotauro, embaixador do UFC Brasil. “Não lutei só no ringue. Numa época em que todo mundo achava que isso era coisa de briguento, de marginal, eu já tentava convencer as pessoas de que o MMA seria um dos esportes mais populares no país”, acrescenta Belfort.

The Phenom (o fenômeno), apelido que ganhou ao estrear no octógono, de fato, teve um papel crucial na popularização da modalidade — antes chamada por aqui de vale-tudo. Hoje, dos 566 lutadores que integram o UFC, mais de oitenta são brasileiros, perdendo em quantidade apenas para os americanos. E não é só isso. O brutamontes, de 1,83 metro de altura e 90 quilos (ainda perderá 5 para a luta derradeira), que conquistou o cinturão dos meios-­pesados em 2004 vencendo outro mito, o americano Randy Couture, também se orgulha de ter defendido lá atrás a ideia de que os confrontos virassem atração nas TVs abertas. “O Silvio Santos não acreditou no potencial, e ouvi de diretores da TV Globo que essas disputas nunca entrariam na emissora”, recorda. Estavam errados. Só para se ter uma ideia, a programação do UFC é transmitida atualmente para 165 países, atingindo mais de 1,1 bilhão de lares, em quarenta idiomas. Mas muita coisa, prega ele, ainda tem de ser revista no MMA. “As regras precisam ser mudadas para essa atividade deixar de ser tão sangrenta e o lutador passar a ser considerado um atleta, e não um showman”, afirma ele, que sonha em ver os embates no octógono transformados em esporte olímpico. Por enquanto, concentra suas forças na última luta contratual, na qual pretende homenagear o mestre do jiu-jítsu Carlson Gracie (1933-2006). Além de faixa preta nessa arte marcial e em judô, é faixa roxa em caratê shotokan. Diferentemente de sua situação no início da carreira, Belfort é hoje uma estrela do MMA com um staff à altura: pelo menos quinze pessoas se dedicaram diretamente a sua preparação em Montreal, no Canadá, onde esteve por oito semanas. Quando questionado se ficou rico como os grandes nomes da luta, esquiva-se com a mesma velocidade demonstrada nos ringues. “Rico de saúde”, diz ele e, diante da insistência, completa: “Estou bem de vida”.

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(Quadro/Veja Rio)

A aposentadoria pelo UFC nem de longe significa que Belfort vai pôr os chinelinhos e ficar em frente à televisão. Assíduo investidor em imóveis nos Estados Unidos, ele está empenhado na abertura de franquias de sua academia, a Belfort Fitness Lifestyle, com sede em Coconut Creek, na Flórida. É a poucos quilômetros dali, na cidade de Boca Raton, conhecida por abrigar milionários do jet set americano, que o atleta vive com a mulher, Joana Prado (a eterna Feiticeira), sua empresária em alguns negócios, e os três filhos do casal, Davi, de 13 anos, Victória, 10, e Kyara, 8. Afastado da pancadaria, o ogro dá lugar a um pai de família que adora pintar, meditar, ler biografias de homens de sucesso, como Warren Buffett, Jorge Paulo Lemann e Steve Jobs, e ajudar nos afazeres domésticos. “Ninguém lava uma louça melhor do que eu”, gaba-se. Assim como a mulher, Belfort diz que não é evangélico, mas cristão — em vários de seus calções está escrito Jesus. Descrente da política do país e da violência no Rio, o esportista — cuja irmã, Priscila, desapareceu em 2004 no Centro da cidade, e até hoje o caso não foi completamente esclarecido — é enfático sobre a probabilidade de morar aqui novamente: “Nas atuais condições, jamais”. Já quando o assunto é a possibilidade de voltar a lutar após a despedida no Rio, Belfort é mais reticente. “Estou encerrando uma fase e começando outra. Mas ‘nunca’ é uma palavra muito forte”, diz, voltando a citar uma frase de efeito. O próximo round dessa história, pelo que se vê, permanece em suspense.

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