Traídos pelo remorso
Montagem da Cia. Limite 151 preserva a força do texto sobre adultério escrito por Zola em 1867

AVALIAÇÃO ✪✪✪
Quando estreou no Teatro Lucinda, próximo à Praça Tiradentes, em junho de 1880, Thérèse Raquin causou polêmica. No gênero naturalista que consagrou seu autor, o francês Émile Zola (1840-1902), a peça retrata a fogosa relação extraconjugal entre Thérèse e Laurent, empregado e melhor amigo do marido dela, Camille. Choveram reações indignadas de público e crítica. Hoje, o comportamento infiel já não inspira tanto frisson. Na montagem da Cia. Limite 151, a tradução de Clara Carvalho preserva a trama integral de Zola ? inclusive o perverso assassinato de Camille no Rio Sena, pelas mãos dos dois adúlteros. Um toque contemporâneo na adaptação de Nicolas Wright foi a decisão de sublinhar o remorso dos dois traidores incluindo um elemento sobrenatural. Efeitos de luz de Rogério Wiltgen fazem o fantasma do morto circular pelos cômodos do apartamento e assombrar o casal. De consciência pesada, eles vivem infelizes para sempre.
Apesar do detalhe fantástico, o diretor João Fonseca manteve o tom naturalista nos diálogos, na movimentação dos atores e em detalhes da iluminação. Gláucia Rodrigues tem atuação regular como a protagonista, no mesmo nível de Rodolfo Mesquita, intérprete do homem duplamente traído. Quem sobressai é Lucci Ferreira, na pele do ardiloso Laurent, em momentos de dissimulação, energia e arrependimento. Há ainda boas participações de Suzana Faini, a expressiva mãe de Camille, e de Rogério Fróes, que confere graça ao bonachão Michaud.
Thérèse Raquin (60min). 14 anos. Estreou em 15/9/2011. Teatro Laura Alvim (245 lugares). Avenida Vieira Souto, 176, Ipanema, ☎ 2332-2015. ? General Osório. Quinta a sábado, 21h; domingo, 20h. R$ 30,00 (qui. e sex.) e R$ 40,00 (sáb. e dom.). Bilheteria: a partir das 16h (qui. e sex.); a partir das 15h (sáb. e dom.). IC. Até dia 30.