Sala Cecília Meireles volta ao circuito da música
Depois de quatro anos em obras, a emblemática sala de concertos passa pelos últimos ajustes para entrar na fase de testes, a partir desta sexta-feira (28). Reinauguração oficial está marcada para 11 de dezembro
Depois de quatro anos em obras, a Sala Cecília Meireles está quase pronta para voltar ao circuito musical da cidade. Enquanto reparos estão sendo feitos em áreas como os cafés, o foyer, do lado de fora operários trabalham a todo vapor para deixar o imóvel nos trinques – e logo retirar os tapumes, que ainda escondem parte da antiga fachada rosa, agora pintada em tom amarelo claro, mas que já chama atenção de quem circula pelo Largo da Lapa. Internamente, no entanto, a sala principal se prepara para passar pelo primeiro teste de fogo após o retrofit de 47,5 milhões de reais. É que nesta sexta (28) e no sábado (29) o local sediará as provas eliminatórias do IV Concurso Internacional BNDES de Piano, que reúne 27 competidores com idades entre 20 e 29 anos, de onze países. É o início de uma maratona de testes para a pomposa reestreia, marcada para 11 de dezembro.
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Apesar de ter durado o dobro do tempo previsto inicialmente, a grande demora se justifica em melhoras visíveis. A antiga aparência de bunker, escura e velha, deu lugar a um ambiente interno com ares de centro cultural, repleto de claridade por meio dos vidros colocados no frontão e de aberturas no telhado. “Perdemos aquele aspecto de mausoléu”, diz João Guilherme Ripper, diretor do complexo inaugurado em 1965 em um edifício tombado pelo Instituto Estadual do Patrimônio Cultural (Inepac), onde funcionou o Grande Hotel, erguido em 1896, e o Cine Colonial, aberto em 1939. O antigo problema de acessibilidade foi prontamente resolvido com a instalação de rampas e elevadores que conectam as diversas áreas do complexo. Os banheiros agora estão em todos os três níveis da construção. “Parece óbvio, mas antes as pessoas tinham que se amontoar no subsolo para ir ao banheiro”, relembra a secretária estadual de Cultura, Adriana Rattes, prestes a deixar o cargo na próxima semana. Quem frequentava a casa, uma dos templos da música de concerto mais importantes do país, deve se lembrar das filas que tumultuavam o saguão antes dos espetáculos. O inconveniente foi solucionado com a ampliação do foyer, decorado com um belo díptico de Marcos Chaves, que atualmente abriga duas bilheterias em lados opostos e oferece vista para o prédio inteiro. O café do segundo andar e a bomboniere do primeiro piso também estão em processo de finalização.
Mas, sem dúvida, a grande surpresa local é o projeto acústico, inteiramente reformulado, após testes com músicos e medição do Inmetro em catorze pontos do espaço nobre. À sala foram incorporados painéis de madeira importados da Irlanda e desenhados pelo artista plástico Angelo Venosa, além de poltronas mais confortáveis, com lugares para obesos e cadeirantes, e portas duplas de alta densidade trazidas dos Estados Unidos para garantir que nenhum ruído externo atrapalhe o som dos instrumentos, outro problema recorrente antes da obra. “A sala não deixa a desejar às mais bem equipadas do mundo”, garante Ripper, à frente do local há uma década, enquanto estala os dedos para mostrar a qualidade da reverberação do sistema. “Podemos colocar aqui tranquilamente um violão sem qualquer amplificador”, completa ele, rodeado pelos 680 novos assentos.
Para reforçar a programação musical, que vai contemplar outros estilos além do clássico, como o jazz, foi comprado há dois anos, por cerca de 250 mil dólares, um piano da marca Steinway & Sons, considerada a melhor do mundo, com sede em Hamburgo, na Alemanha. Para abrigar o majestoso equipamento foi construída uma garagem especial, na lateral do palco, separada dos demais instrumentos, guardados numa sala ao fundo da boca de cena. Camarins bem equipados, com penteadeiras iluminadas e chuveiro de água quente, foram erguidos, totalizando agora seis unidades.
No pacote da repaginação entra ainda o Espaço Guiomar Novaes, no prédio anexo, que se tornou um ambiente multiuso, com capacidade para receber desde modestos recitais (para 180 pessoas) até palestras. Lá também foi montada uma sala de estudos, que pode ser usada, por exemplo, para um ensaio de orquestra, outro ganho local. “O espaço era muito degradado, não tinha visibilidade. Era impossível, por exemplo, fazer um evento aqui simultaneamente a um concerto na sala principal, porque não havia estrutura acústica”, comenta Rattes. “Agora, vamos devolver à cidade uma casa da música digna de conforto, tanto para o público quanto para os artistas que vamos receber”, acrescenta ela.
Nos próximos dias, durante a fase de testes, o local recebe convidados como a Orquestra Sinfônica Brasileira (6 e 7 de dezembro), os pianistas da área de jazz André Mehmari e Mário Laginha (12 de dezembro), a pianista Cristina Ortiz (13 de dezembro) e o violonista Fabio Zanon (14 de dezembro). Pela primeira vez, o espaço funcionará durante o verão. Quando estiver com a programação a pleno vapor, em 2015, a expectativa é de que a Sala Cecília Meireles receba em média 220 concertos. O carioca está na torcida para ver o emblemático lar da música, situado no coração da Lapa, voltar a pulsar.