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Rock in Rio 2017: “Quero acabar com preconceitos ridículos”

Zé Ricardo, curador e diretor do Palco Sunset, planeja shows com Sting e Santanna para a próxima edição do festival

Por Renata Magalhães
Atualizado em 24 set 2017, 12h48 - Publicado em 23 set 2017, 22h03
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 (Divulgação/Veja Rio)
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Músico, compositor e agitador cultural: desde 2008, Zé Ricardo é responsável pela curadoria do Palco Sunset do Rock in Rio. Sob sua direção, o palco alternativo se tornou um fator de peso para a escolha do público ao trazer encontros entre grandes nomes da música brasileira e até mesmo artistas internacionais. Prova disso foi o sucesso do show realizado por Ney Matogrosso e Nação Zumbi na noite de sexta (22). Em entrevista exclusiva para a VEJA RIO, Zé falou sobre a criação do espaço, lembrou de histórias curiosas envolvendo artistas e ainda revelou quais artistas pretende trazer nas próximas edições.

Como foi a criação do Palco Sunset?
Estava em São Paulo fazendo um show, em 2007, quando recebi um telefonema que mudou minha vida. Era a Roberta Medina me convidando para criar um novo conceito para o palco Hot Stage, do Rock in Rio Lisboa 2008. Fui para lá com o coração apertado e muita ansiedade. Logo de cara, o primeiro desafio: o sol só baixava depois das nove horas e, por causa disso, nenhum artista grande queria participar. Sugeri que mudássemos o nome do espaço e ela ficou receosa porque tinha sido uma criação do pai dela [Roberto Medina, idealizador do festival], que acabou acatando a ideia deste maluco. Isso norteou o nosso objetivo, que era transformar a ideia de tocar no pôr-do-sol em algo totalmente cool. Assim surgiu o Palco Sunset, que foi implementado em Madrid (2010) e no Brasil (2011).

O que norteia a escolha da programação?
É muito intuitivo. Tento apresentar um panorama do palco. Crio um conceito amplo do que quero apresentar e, a partir daí, monto a programação. Meu objetivo não é o inusitado, isso é uma consequência. O lado pessoal é muito importante; pesquiso sobre o artista, veja a trajetória, procuro entender o perfil daquela pessoa. Meu gosto influencia na hora de determinar a linha de qualidade de acordo com o palco: quero boas letras, bons arranjos e músicos afinados. Mas não trago só o que está no meu Spotify, tento ser democrático.

Qual o seu objetivo com o Palco Sunset?
Não quero que as pessoas vejam shows, quero que elas se sintam provocadas e pensem coisas diferentes. Foi o que aconteceu no show que reuniu o Johnny Hooker com a Liniker no último domingo, por exemplo. Depois da apresentação, muitas pessoas vieram me cumprimentar chorando muito, emocionadas de verdade com o que aconteceu ali em cima. Quero causar uma catarse social e acabar com preconceitos ridículos. Procuro diálogos humanos nestes encontros, muito além de uma simples compatibilidade musical. E qual a apresentação melhor traduziu esse espírito? Esse palco foi criado para quebrar paradigmas. Essa primeira ruptura aconteceu com o show que reuniu Sepultura e Zé Ramalho. Quando foi anunciado, as pessoas desconfiaram se daria certo, mas eu banquei até o fim. Até que chegou o dia. Na hora de anunciar a atração, um mar de pessoas me olhava em um silêncio ensurdecedor. Foi quando me questionei se aquilo daria certo. Começaram a gritar “Sepultura!” de um lado e “Zé Ramalho!” do outro. Fiquei apavorado, suando frio. Até que começaram a berrar “Zépultura!” e entendi que daria certo. De fato, foi a apresentação mais emblemática.

Quais as histórias mais curiosas envolvendo artistas?
Alcione, com toda a razão, não queria ensaiar antes do show em 2015. Expliquei para ela que os ensaios eram necessários para a banda que a acompanharia e não para ela. Em Lisboa, um cantor desistiu de entrar no palco logo antes da apresentação dele, que estava lotada. Fui até o camarim sem saber o que falar, sentei ao lado dele, ficamos em silêncio até que eu disse “Vamos lá tocar?” e ele levantou e foi para o palco. Zé Ramalho não queria dar entrevistas depois do show e eu disse que essa era a forma de divulgarmos o trabalho dele para quem não pôde vir ao festival. Hoje mesmo um dos artistas reclamou comigo que teve pouco tempo de passagem de som e eu mostrei para ele que, na verdade, ele tinha tido mais do que todos os outros convidados. O meu trabalho é musical, mas também é humano. Tento mudar o foco dos problemas.

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E a situação mais bizarra que você vivenciou?
Em 2011, tivemos um problema com os carregadores que ficam trazendo as caixas com aparelhagem para o palco. Tivemos que trazer funcionários de São Paulo e, durante três dias, tirei minha credencial e eu mesmo me encarreguei dessa função. Depois de me ver fazendo isso, um dos rapazes brigou comigo quando me viu conversando com um produtor. “Isso não é hora de ficar de papinho, vamos trabalhar”, ele gritou. Ele que estava certo. Depois que descobriu quem eu era, disse que eu não tinha cara de diretor (risos)!

Quais os seus planos para as próximas edições?
Queria muito ter o Sting e o Santana, além de repetir a mistura com dança que rolou este ano. E quero continuar correndo riscos. Se você não corre riscos, não consegue fazer nada transformador.

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