Novos cantores entram na lista de candidatos ao estrelato em 2018
Relação reúne artistas com fãs na internet, potencial de mercado e outros diferenciais
Durante as quatro horas de viagem entre Natal e Caicó, cidadezinha do Rio Grande do Norte, uma dúvida acompanhou Sarah Beatriz. “Será que vai ter gente lá para me ver?”, pensava ela. Sua inquietação recebeu a melhor resposta possível: 1 500 pessoas lotavam uma igreja para assistir à cantora gospel nascida em Nova Iguaçu. Cenas assim ainda impressionam a garota que canta desde os 5 anos e, há três, solta a voz na internet com interpretações afinadas e carregadas de força, como pede o gênero. Com 18 milhões de visualizações em seu canal do YouTube, Sarah é mais do que uma sensação do mundo virtual. De acordo com um levantamento feito pelo Google, ela é uma das artistas que prometem se destacar no cenário musical brasileiro em 2018. O palpite do gigante das buscas on-line é baseado no crescimento não patrocinado da página virtual da cantora, na receptividade do mercado em relação a seu tipo de trabalho e no investimento da gravadora Graça Music em seu potencial, entre outros fatores. Além de Sarah, catorze nomes em situação parecida fazem parte dessa seleção brasileira da música. Destes, cinco são do Rio. “Por ser o berço de gêneros que estão crescendo em termos de popularidade, a cidade tem se destacado na lista”, afirma Rachel Devitt, líder do time de programação de conteúdo musical da empresa para Brasil, Estados Unidos e México.
Na playlist do Google, há cariocas para todos os gostos. Formado por três garotos da Ilha do Governador, o Class A tem um som feito sob medida para os amantes do rap de pegada mais romântica, que faz sucesso com artistas como Projota e companhia nas rádios. No YouTube, mais de 1 milhão de seguidores acompanham as aventuras amorosas em forma de música de Igor Adamovich, Luídy Caio e Pedro Henrique Bendia. Ou melhor, de Igor, Oik e PK. A atmosfera baseada em casos reais também é compartilhada por Luan Otten e Saulo Poncio, que, juntos, formam o UM44K, seguido por 1,1 milhão de fãs na internet graças às canções sobre namoros, encontros na madrugada e assuntos correlatos. A aposta em temas corriqueiros na vida da audiência adolescente não é mera coincidência. “Quanto maior a identificação dos jovens com o que a gente canta, mais eles gostam das músicas”, explica Luan. Nascidos em Niterói, os irmãos Diogo, Gabriela e Rodrigo Melim misturam reggae com pop em um estilo que chamam de “good vibes”. O resultado é uma sonoridade próxima à de bandas como Natiruts, com músicas compostas para astros como Ivete Sangalo e Luan Santana e 50 milhões de visualizações em dois anos de YouTube. Ainda no clima paz e amor, a dupla Mar Aberto, formada pelo paulistano Thiago Mart e pela carioca Gabriela Luz, faz um indie fofo à base de violões e mensagens cor-de-rosa. A receita deu tão certo que Se Fosse Tão Fácil, o maior hit da dupla, alcançou 1 milhão de execuções em um mês.
O retrospecto joga a favor do Google quando o assunto é apontar promessas com chance de virar estrelas. Entre os cariocas da lista do ano passado figuravam nomes como Iza e Omulu. A ex-moradora de Olaria gravou o hit Pesadão com Marcelo Falcão, do Rappa, em 2017 e conquistou capas de revista, prêmios e elogios da crítica especializada. Contratada pela Warner, ela deve lançar seu primeiro disco ainda neste semestre. Já Omulu é o codinome do DJ Antonio Antmaper, que tem entre seus feitos a produção das primeiras músicas de Pabllo Vittar, ainda em 2015. Em todos os casos, a explosão na internet precedeu a chegada aos cadernos de cultura dos jornais, em um fenômeno que mostra o poder crescente da rede no cenário musical. Um relatório divulgado pela consultoria Nielsen revelou que, em 2017, o consumo de música por streaming nos Estados Unidos ultrapassou pela primeira vez as audições de álbuns físicos e digitais. Em outras palavras, de cada dez americanos que ouviram música, cinco o fizeram em plataformas on-line. Aos debutantes no ramo cabe agora reproduzir ao vivo o carisma virtual. ß