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A galinha dos ovos de ouro

Personagem lançado na internet ganha superprodução infantil na Gávea e atrai 1 800 animados espectadores por fim de semana

Por Rafael Teixeira
Atualizado em 5 jun 2017, 14h39 - Publicado em 10 fev 2012, 16h48
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teatro1.jpg (Redação Veja rio/)
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A descrição poderia ser de um show de rock, com a multidão ensandecida na porta e aquela excitação progressiva a cada indício de que a apresentação vai começar. Com a aparição do ídolo, segue-se uma reação catártica da plateia, que faz coro com ele em todas as canções. Pois o animado público em questão é formado predominantemente por crianças de até 5 anos. Em cartaz há pouco mais de um mês no Teatro das Artes, no Shopping da Gávea, a peça Galinha Pintadinha – O Musical transpõe para o palco a bem-sucedida série de DVDs criada pelo músico Marcos Luporini, 41 anos, em parceria com o produtor de animação Juliano Prado, 40, ambos naturais de Campinas (SP). A fórmula bolada por eles mostrou-se um achado. Ao reunir temas infantis tradicionais amparados visualmente por desenhos graciosos, a dupla deu uma tacada certeira. Somadas, as duas primeiras edições do disco já venderam 600?000 cópias, um feito notável em tempos de pirataria desenfreada. E o que já era um êxito fonográfico converteu-se num fenômeno de mesmo vulto no palco. Tanto é que, para dar vazão à demanda da meninada, o espetáculo tem quatro sessões por fim de semana, fato raro no circuito infantil. Ainda assim, quem deixa para comprar o bilhete em cima da hora volta para casa frustrado, pois os mais de 1?800 ingressos à venda semanalmente costumam evaporar-se da bilheteria às quintas-feiras, apesar do preço salgado de 70 reais cada um. “É um nível de receptividade que sempre surpreende”, reconhece Luporini.

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O sucesso da peça é proporcional aos dados superlativos que a cercam, dignos de uma concorrida montagem adulta (veja o quadro na página ao lado). Só para colocá-la de pé foram consumidos 2 milhões de reais, o equivalente a pelo menos dez vezes o custo da maioria das boas montagens do gênero. Detalhe: o valor exclui os gastos com manutenção, que não serão poucos, uma vez que o espetáculo tem programados seis meses de temporada no Rio e outros seis em São Paulo. “Não posso reclamar. Eu tive tudo o que pedi”, afirma o diretor Ernesto Piccolo, que divide a ficha técnica com nomes consagrados das artes cênicas, como o iluminador Maneco Quinderé, a figurinista Clivia Cohen e a coreógrafa Marcia Rubin. O elenco reúne catorze atores, dançarinos e cantores, sendo dez adultos e quatro crianças. Todos foram selecionados em audições ao longo de cinco dias, que juntaram 263 candidatos, pinçados entre os 950 currículos recebidos. O resultado de tanto cuidado é uma produção caprichada, que põe em cena personagens de cantigas de domínio público – como Atirei o Pau no Gato, Meu Pintinho Amarelinho, A Barata Diz que Tem, O Sapo Não Lava o Pé e, claro, Galinha Pintadinha. Eles ganham vida na pele de atores fantasiados ou em desenhos projetados no cenário.

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Curiosamente, a ideia penou um bocado até vingar, e por pouco não saiu do papel. Há dez anos, Luporini começou a juntar canções infantis e, nas horas vagas, gravava cada uma delas com um novo arranjo. A iniciativa ganhou corpo quando Prado agregou sua expertise na área de animação. Com a ajuda de amigos, eles fizeram um clipe completo de Galinha Pintadinha, além de esboços de desenhos para outras cantigas. A meta era conseguir que alguma empresa bancasse um DVD, mas nos primeiros anos a dupla recebeu uma recusa atrás da outra. O golpe de sorte veio somente no fim de 2006, quando Luporini e Prado marcaram uma reunião para apresentar o projeto em São Paulo. Como não puderam viajar, eles resolveram mandar um representante e postaram no YouTube o vídeo para que fosse visto no encontro. Como nas vezes anteriores, o projeto foi rejeitado. Seis meses depois, porém, o clipe totalizava 500?000 visualizações. “Percebemos que havia algo dando certo”, lembra Luporini. Decididos a investir na ideia, eles rasparam suas economias, concluíram as animações que faltavam e produziram por conta própria o DVD. Feitas pela internet, as vendas do primeiro lote, de apenas 1?000 discos, superaram as expectativas e despertaram a atenção da Europa Filmes, que em 2009 se associou aos autores para cuidar da distribuição. No ano seguinte, a gravadora Som Livre procurou-os com a proposta de encampar o segundo DVD da série.

Hoje, os trabalhos concebidos pelos dois contabilizam aproximadamente 400 milhões de acessos só no canal oficial da Galinha Pintadinha no YouTube. No embalo do sucesso, os bichinhos já foram licenciados para mais de uma centena de produtos, de escovas de dentes a quebra-cabeças. E vem mais por aí. Estão a caminho um terceiro DVD, uma série de livros e um game. “Ninguém ficou rico, mas já dá para viver só de Galinha Pintadinha”, despista Luporini. Outro objetivo ambicioso é conquistar o mercado internacional. O primeiro passo foi dado: alguns clipes foram postados em espanhol e já alcançaram uma audiência de 30?000 acessos diários. Foi de olho nesse inegável fenômeno que a produtora GEO Eventos – responsável por trazer ao Brasil as turnês de Rihanna e Ben Harper e o festival Lollapalooza – resolveu investir no espetáculo. “Nenhuma música atravessa um século sem ter algo de especial”, avalia Luporini. “Essa ancestralidade das cantigas, que une pais e filhos, é uma das principais razões do nosso sucesso.” Pelo jeito, a galinha dos ovos de ouro ainda vai cacarejar por muito tempo.

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