Museu do Pontal recebe primeira obra permanente de OSGEMEOS
<em>O Bunker</em> é o primeiro trabalho de arte contemporânea instalado no museu, especializado em arte popular e com um acervo de 8.500 peças de 200 artistas brasileiros
Por fora parece uma cápsula de sobrevivência em época de guerra. Quando a porta se abre, é exatamente isso: é revelada uma escultura em tamanho natural de um personagem melancólico pela situação em que se encontra, com suas anotações e desenhos nas paredes da cela. Em tempos de especulação imobiliária, faz um convite à reflexão para a resistência artística.
Essa é a obra O Bunker, da dupla Gustavo e Otávio Pandolfo, conhecida como OSGEMEOS, e reconhecida nacional e internacionalmente pelo trabalho colorido e expressivo do universo lúdico e imaginário iniciado com o grafite em São Paulo. Entre os trabalhos recentes dos irmãos estão a participação na Bienal de Vancouver e a pintura do avião que transportou a Seleção Brasileira durante a Copa do Mundo.
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O Bunker é o primeiro trabalho de arte contemporânea instalado no Museu Casa do Pontal, no Recreio dos Bandeirantes, zona oeste do Rio, especializado em arte popular e com um acervo tombado pela prefeitura, que tem 8.500 peças de 200 artistas brasileiros.
A instalação d’OSGEMEOS no Museu do Pontal foi aberta ontem(1º). A obra O Bunker tem 20 toneladas de concreto e foi feita a convite da Casa do Pontal para integrar o acervo permanente do museu. De acordo com os irmãos, o trabalho deles tem muita ligação com a arte popular brasileira.
“Isso de trabalhar nas ruas, de pegar as tintas e ir fazer, se deparar com artistas que não têm nem nome, mas fazem a mesma coisa. O cara que tem a necessidade de se expressar, não por ser famoso ou estar em uma galeria. Nós vimos no museu essa energia que tem aqui, dessa necessidade espiritual de se expressar. A gente veio aqui e se sentiu em casa, a nossa casa parece esse museu, de tanta coisa que a gente coleciona”, disseram os artistas.
Sem identificar quem é Otávio e quem é Gustavo, os dois falam como se fossem um, “eu penso e ele fala”, brincam, da mesma forma que trabalham totalmente integrados em um fluxo criativo único. OSGEMEOS explicam que O Bunker foi pensado como forma de resistência artística em meio à tomada das redondezas por várias obras de enormes prédios residenciais, colados ao museu.
“A primeira vez que a gente veio não tinha esses prédios ainda, depois viemos e vimos os prédios, é assustador. Quando a gente se ligou no que estava acontecendo, o processo criativo, foi tudo muito rápido. A gente nunca viu bunker no Brasil, porque a gente não tem guerra, apesar de muitas vezes parecer que estamos em uma. Isso aqui [o Museu do Pontal] é uma história, muita criança não sabe quem foi Mestre Vitalino. É muito importante preservar isso aqui”, dizem.
Os irmãos dizem que não gostam de rótulos para a arte e separações entre, por exemplo, grafite e arte popular. Para eles, tudo é arte e a arte tem o poder de mudar a sociedade.
“Vocês [o museu] estão nessa guerra tentando preservar isso aqui, e vão conseguir. O Bunkerrepresenta isso. A arte tem o poder de mudar tudo, a gente acredita na força da arte para vencer a guerra. Não é possível que se construa um prédio a um metro do museu, rachando o museu inteiro. O Bunker é uma forma de aletar o que nós temos aqui. É como se fosse um templo que alertasse as pessoas para a reflexão sobre a arte popular brasileira, os artistas, a arquitetura, prédios históricos que ficam abandonados. É importante a gente entender que isso faz parte de uma cultura e marcou uma época”.
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A curadora do museu, Angela Mascelani, destaca o papel transformador da arte e diz que O Bunker será a primeira instalação permanente da dupla no Rio de Janeiro. “A ideia de realizar essa parceria com OSGEMEOS foi a de trazer para o debate o papel transformador da arte e sua capacidade de mudar formas de ver e de antecipar questões. No caso, OSGEMEOS trazem para o Museu Casa do Pontal uma proposta intencionalmente crítica. Confrontá-la com a arte popular, que nasce na transição do rural para o urbano, é uma forma de discutir a cidade”.
Quanto à ocupação no entorno do museu e os riscos de inundação no local, Angela diz que a situação está sendo acompanhada com atenção. “Nossa atuação é preventiva. Nós trabalhamos com planejamento e por isso antecipamos questões de forma a conseguir resolvê-las a tempo. Buscamos uma saída e confiamos que ela será encontrada”.
Aberto há 35 anos, o Museu Casa do Pontal recebe cerca de 40 mil visitantes por ano, metade desse público é formado por estudantes e 25% de estrangeiros. O local funciona de terça-feira a sexta-feira de 9h30 às 17h, e aos sábados, domingos e feriados entre 10h30 e 18h. O ingresso para a exposição permanente custa R$ 10, mas a obra O Bunker ficará nos jardins, com visitação gratuita.