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Monarco declara seu amor pela Portela

O sambista descobriu a escola na infância enquanto ouvia ao rádio

Por Pedro Moraes
Atualizado em 23 fev 2017, 18h19 - Publicado em 23 fev 2017, 18h00
Monarco
(Daryan Dornelles / Veja Rio/Divulgação)

O pequeno Hildemar Diniz divertia-se quando o rádio a válvula espalhava música pela casa da família, em Nova Iguaçu. Gostava, em especial, do samba Ninguém Ensaiou, na voz de Aracy de Almeida (1914-1988), em cuja letra são citados “professores do morro” como Paulo da Portela. O nome da escola — que Paulo Benjamin de Oliveira (1901-1949) criou e transformou em sobrenome — ficou martelando na cabeça de Hildemar, até que, em 1946, sua mãe decidiu se mudar para Oswaldo Cruz. Pronto. Feitos vizinhos, Hildemar, hoje com 83 anos, virou Monarco e desenvolveu com a Portela uma paixão de vida inteira. “Já amava a escola sem conhecer, não tem explicação. Achava o nome lindo, sonhava em conhecer o Paulo”, lembra o sambista. Com o fundador, ele não teve a chance de conversar, mas, depois de muito sentar no muro do terreiro e acompanhar os veteranos a distância, começou a compor com bambas da antiga como Alcides Malandro Histórico (1909-1987) e Manaceia (1921-1995). A estreia, O Passado da Portela, ele fez sozinho, aos 18 anos, em 1951, e a composição foi adotada para o esquenta, antes dos desfiles. Mesmo com toda a dedicação, Monarco nunca emplacou um samba-enredo na constelação portelense. Dono de uma memória prodigiosa, porém, tornou-se uma enciclopédia viva ao lembrar-se de sambas de todas as épocas e seus autores. Não por acaso, contribuiu para a gravação de discos históricos como Portela, Passado de Glória, produzido por Paulinho da Viola, em 1970, e Tudo Azul, antologia capitaneada por Marisa Monte, de 1999. Como autor de um punhado de sucessos, a exemplo de Vai Vadiar e Coração em Desalinho, ambos gravados por Zeca Pagodinho, levou o repertório da agremiação para muito além de Oswaldo Cruz. Ao mesmo tempo, fora do palco, e ao longo da vida, encarava vários bicos. Limpou mesas de bilhar na Associação Brasileira de Imprensa (ABI), foi guardador de carros e vendeu peixe no mercado da Praça Quinze. O pão, entretanto, sempre veio da música. “Não sei quem eu teria sido sem a Portela. Só tenho a agradecer.” O sentimento é recíproco: Monarco foi aclamado presidente de honra e ganhou um busto de bronze na quadra, distinção única oferecida a um portelense vivo.

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