Juca de Oliveira estrela Rei Lear solo
No Teatro dos Quatro, o ator, aos 79 anos, interpreta seis personagens na adaptação de Rei Lear, de Shakespeare, para um monólogo
Que ator, na sua opinião, ofereceu a melhor interpretação para o papel principal de Rei Lear?
Em 1968 tive a oportunidadede ver ao vivo o rei Lear dogrande ator inglês Eric Porter, na Royal Shakespeare Company, com direção de Trevor Nunn. Vi Paulo Autran e Raul Cortez e também várias versões para televisão e cinema. Paul Scofield e Lawrence Olivier, entre outros. Todos deslumbrantes. Mas a interpretação que mais me impressionou, embora não tenha nada a ver com a minha, foi a de Orson Welles, em 1953.
Fazer de um texto tão conhecido um monólogo, e defendê-lo em cena, é, a esta altura da carreira, um desafio ou uma diversão?
Shakespeare é o sonho de qualquer ator, mas sempre um enorme desafio. Já tive o privilégio e a proteção das musas ao ter enfrentado três desses desafios, Júlio César em 1966, Ricardo III em 1975 e Othello em 1982. Mas nada se compara à audácia deste espetáculo-solo criado pelo Geraldo Carneiro. Durante os ensaios cheguei a cancelar o projeto pela extrema dificuldade de transpor os obstáculos. Mas eu o acabei retomando, pois me dei conta de que a desistência me comprometeria muito profissionalmente. Valeu a pena. Rei Lear acabou se tornando um sucesso em nossa temporada paulista.
O que as pessoas nos dias de hoje têm a aprender com Rei Lear?
Quando estudei Rei Lear na Escola de Arte Dramática, esse tema familiar me levou à convicção definitiva de que os pais jamais deveriam transferir em vida seus bens para o nome dos filhos. E muitos dos conhecidos e amigos que cometeram essa temeridade desaconselhada por Shakespeare, um expert em alma humana, morreram na miséria e na solidão, abandonados pelos filhos. A propósito disso, no final do meu artigo para o programa do espetáculo, escrevi: “Hoje, com a disparada da longevidade, os filhos modernos, clones de Goneril e Regan (as filhas cruéis), expulsam de casa os velhos pais e os encarceram em asilos até a morte”. É uma lição cruel a ser aprendida ainda hoje com Rei Lear.
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