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O império do Jogo do Bicho carioca volta às telas do streaming

Os Donos do Jogo, a nova série da Netflix, mergulha na história da contravenção que define os contrastes do Rio — em que malandragem e espetáculo se misturam

Por Angela Cardoso
Atualizado em 17 out 2025, 16h55 - Publicado em 17 out 2025, 08h00
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Os Donos do Jogo, a nova série da Netflix e com data de lançamento para o dia 29 de outubro  (Marcos Serra Lima/Divulgação)
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Num território complexo como o Rio de Janeiro, até a sorte ganha protagonismo. É assim desde que o Barão de Drummond (1825-1897) inventou o jogo do bicho, no final do século XIX, para movimentar o zoológico de Vila Isabel. Essa criação acabou erguendo um império popular que atravessou o tempo, passou de geração em geração, inspirou sambas e financiou carnavais.

Agora, a contravenção volta ao centro da narrativa em Os Donos do Jogo, nova série da Netflix, com estreia marcada para o dia 29 de outubro. A produção, dirigida por Heitor Dhalia, confere estética de máfia tropical à prática criminosa, provando que, nestas terras, o poder se constrói à margem, mas nunca longe dos holofotes.

O ponto de partida da série foi atualizar uma realidade que o Brasil inteiro ouve falar, mas pouca gente compreende de perto. “O bicheiro romântico e folclórico não existe mais. Hoje, ele deu lugar às guerras de sucessão e às disputas de poder”, resume Dhalia. No elenco estão Juliana Paes, Xamã, Chico Diaz e Mel Maia, entre outros atores.

O Rio aprendeu a transformar seus contrastes em espetáculo. Sucessos de bilheteria como Cidade de Deus (2002) e Tropa de Elite (2007) são a prova de que a violência urbana

Na cidade, a contravenção é matéria-prima fértil e eficaz para o audiovisual, quebrando até a barreira da língua, já que esses longas despontaram também no exterior. Com seu “esculacho visual”, como descreve o produtor de Os Donos do Jogo, Manoel Rangel, a cidade aparece como personagem, ora deslumbrante, com a natureza de cair o queixo, ora decadente, nas vielas comandadas pelo crime organizado. Tudo isso ao som de samba, que também ajuda a construir a história.

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“Há uma presença forte e conhecida do jogo do bicho naquilo que o Brasil tem de mais popular, que é o Carnaval”, comenta Rangel. “O bicheiro transita na alta sociedade com leveza e facilidade, muito longe da ideia que temos de criminalidade”.

“Produções nascidas aqui têm uma força impossível de ser reproduzida em outros lugares. Se São Paulo lança algo do tipo, não dá audiência. A marginalidade é um traço carioca mesmo”, concorda José Junior, produtor, showrunner e roteirista de séries como Arcanjo Renegado, do Globoplay, que têm a brutalidade como tônica.

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José Junior, showrunner de Arcanjo Renegado e O Jogo que Mudou a História (Cesar Diogenes/Divulgação)
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Autor de Maldito Invento dum Baronete: Uma Breve História do Jogo do Bicho, o professor Luiz Antonio Simas vê nessa tradição uma das chaves para compreender a identidade carioca e a característica mistura de fé, malandragem e invenção popular. “São Jorge, por exemplo, é o padroeiro dos bicheiros, dos botequins e da cultura popular”, explica.

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Luiz Antonio Simas, escritor, professor e historiador (Victor Vasconcelos/Divulgação)

Já o professor de História do Brasil da Uerj e da UFF, Marcus Dezemone, lembra que tráfico, milícia e o próprio jogo do bicho não correm em paralelo ao Estado, mas se entrelaçam a ele. Em comum, os dois enxergam nessas histórias algo que ultrapassa o crime e toca o que há de mais profundo no país: suas contradições.

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“Já está provado que só a força e a repressão não resolvem o problema”, diz Dezemone. E, nessa política de enxugar gelo, o jogo do bicho segue como espelho de uma cidade que transmuta a desordem em narrativa e encontra, até no proibido, um jeitinho de compreender a si mesma.

 

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