‘Esperam que eu seja engraçado o tempo todo’, diz humorista Diogo Defante
Conhecido pelo quadro Repórter Doidão, fenômeno na internet revela frio na barriga com a estreia de sua turnê como cantor, no Circo Voador, no domingo (13)
Diogo Defante ficou conhecido como o Repórter Doidão, quadro em seu canal no YouTube que o levou a ser escalado para cobrir a Copa pela Cazé TV, do streamer Casimiro Miguel, e se tornar mais famoso ainda. Mas o que muita gente não sabia até pouco tempo é que o humorista também tem uma veia musical. Ele mostra esse outro lado neste domingo (13), no Circo Voador, onde canta o repertório do recém-lançado EP Robson e outras surpresas acompanhado de sua banda, na estreia de sua turnê.
Carioca de Realengo, na Zona Oeste, Defante colhe os frutos de seu sucesso, com shows de humor pelo país e quase 2,5 milhões de inscritos em seu canal. Há oito meses, ele se mudou para o Leme, realizando um antigo sonho de morar perto da praia. Fazendo um humor que une o nonsense e boas doses de cara de pau, com muita interação com o público, ele conta que, por vezes, os fãs se frustram ao conhecê-lo pessoalmente.
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“É muito louco, porque as pessoas me tratam como um amigo de longa data. Se eu estou com a bateria social alta, eu vou na mesma intensidade. Mas às vezes tem aquele diazinho em que você acorda meio cansado, borocoxô. Esperam que eu seja engraçado o tempo todo. E aí algumas eu infelizmente acabo frustrando, porque eu não estou naquele papel, estou só indo ali comprar um Hipoglós, e o cara vem empolgado. Em alguns momentos, eu fico triste, até pelo fato de não conseguir entregar aquela expectativa. Sempre trato todo mundo bem, mas às vezes eu vejo a carinha da pessoa assim: ‘Putz, ele não está sendo engraçado'”, revela.
Se na comédia ele já é um nome reconhecido, na música nunca chegou a ficar famoso, e agora retoma o sonho em um momento completamente diferente. Por isso, o frio na barriga é grande, Defante admite. Ele começou a tocar bateria aos 14 anos e logou montou uma banda com os amigos, a Let’s Go, de emocore. Ficaram sete anos juntos e chegaram a morar em São Paulo, buscando oportunidades melhores e se dedicando ao grupo por um ano e meio. Mas, apesar de fazerem muitos shows, não conseguiam viver de música, e em 2012 a banda acabou.
Nessa época, Defante foi chamado por um amigo para fazer vídeos no YouTube com inspiração em Hermes e Renato, da MTV. “Uma coisa meio trash, até para ir contra o que estava tendo no momento, que era Porta dos Fundos, que fazia umas esquetes com qualidade de câmera e tal, fundinho desfocado. A gente começou a querer ir na contramaré”, lembra. Eles montaram um grupo, e o canal Kaozada chegou a durar um tempo. Em seguida, eles fizeram um em dupla, mas acabaram parando também.
Quando Defante começou a trabalhar no canal Parafernalha, teve contato com um esquema mais profissional de trabalho. Muitas vezes, suas sugestões não eram aceitas lá, o que o levou a experimentar fazer humor sozinho. “Não era por mal, é que eu viajo muito, tenho umas ideias muito fora da caixa. Lá era um humor mais de identificação, de cotidiano. E eu vinha de umas coisas muito esdrúxulas. Às vezes eles não topavam, e eu, com vontade de gastar essa criatividade, fiz o meu canal solo (em 2014). Em algum momento, ele explodiu com um meme, o do ‘baby baby do biruleibe’“, conta.
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A partir daí, já ganhando dinheiro do YouTube pela grande quantidade de visualizações de seus vídeos, ele passou a viver de comédia. Até que, na pandemia, decidiu gravar as músicas do EP que lançou recentemente — alguma delas, como Jerry, ele havia composto há 11 anos, quando morava em São Paulo. Sem poder fazer o quadro Repórter Doidão, que depende da interação com passantes na rua, fez lives e foi testando novos formatos, como Sem Risadola.
Defante ia para a casa do amigo Victor Levy, o Vitinho, e eles tocavam músicas em lives — o comediante na bateria eletrônica, e o outro na guitarra. Em uma dessas, mostrou Jerry, e os seguidores começaram a pedir que ele lançasse a música. Gravaram 80% do EP, com Defante cantando e Levy na produção musical. Mas ele não havia feito backup, e eles perderam todas as músicas. “Na época, a galera até achou que era piada. Foi inacreditável, a gente ficou meio brocha, no sentido de desanimar”, diz.
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Eles acabaram regravando tudo, e o humorista acha agora que está sendo o melhor momento para lançar as músicas, no fim das contas. “Na pandemia, a gente não ia poder fazer show. Então, de repente, poderia esfriar a galera nesse sentido. Agora, já tendo marcado a turnê, fica um negócio bem mais quente para todo mundo: ‘Caraca, eu já ouvi o som, com um clipe muito foda, e ainda vou poder ir ao show que é daqui a umas semanas? Foda.’ Estou sentindo uma energia boa para esse lançamento e achando o timing ideal“, garante.
A volta aos palcos aconteceu em agosto do ano passado, na Fundição Progresso, em uma apresentação do também youtuber Lucas Inutilismo, que tem um projeto musical e convidou Defante para a abrir a noite. “Ensaiamos muito, muito, muito, e fizemos um show muito legal. Eu não tinha experiência cantando, então na primeira música minha voz acabou. Mas consegui tocar o show, mesmo sem voz, e ficou incrível, foi bem marcante para a gente. Várias pessoas que estavam lá, quando me encontram, elogiam, e perguntam: ‘Você vai fazer mais?””, anima-se.
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Além das faixas do EP o repertório conta com músicas de seu canal, como uma paródia de Juntos, de Luan Santana e Paula Fernandes (aquela do verso “juntos e shallow now”), um cover de Mulher de Fases, do grupo Raimundos, e versões rock de Garçom, de Reginaldo Rossi, e Tremendo Vacilão, de Perlla (que é conhecida de seus seguidores e já irritou os flamenguistas, mas Defante jura que não foi de propósito). Lucas Inutilismo faz uma participação em Pelo, feat dos dois. Ele também uma palinha na bateria, já que o show passeia por outros momentos da sua carreira, e faz piadas. O cenário traz uma linguiça de três metros.
A ansiedade em relação à estreia está lá em cima, até porque a apresentação no Rio terá uma estrutura que ele jamais teve em sua carreira musical, com direito inclusive a registro audiovisual. “Está tudo do jeito que eu sempre sonhei, e no Circo Voador, um lugar aonde eu já fui em muito show de bandas de que era fã. Está tudo muito profissional, e isso bate naquele moleque de 15 anos bizarro. Bate aquele nervosismo, a expectativa do que as pessoas vão achar, o que é natural, porque, quando a gente se propoe a mostrar uma coisa para o público, quer que ele goste muito daquilo“, diz.
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Mas os fãs do Repórter Doidão e outros quadros de Diogo Defante podem ficar tranquilos, porque ele não pretende abandonar o humor. “Eu não me vejo só na música, porque eu amo muito entrar em contato com pessoas, gravar coisas na rua é algo que eu não me vejo parando de fazer. E o meu canal é a fonte de tudo que está acontecendo na minha vida. Dali, foram aparecendo todas as oportunidades. Não tenho planos de secar essa fonte, que é linda”, garante.
Circo Voador. Rua dos Arcos, s/nº, Lapa. Dom., 19h. R$ 70,00 a R$ 140,00. Ingressos pelo Eventim.
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