Gloria Groove: “O sucesso de drags em um país como o nosso é inexplicável”
Atração do Rock in Rio nesta quinta (19), artista adiantou a VEJA Rio detalhes do show e falou sobre o sucesso que faz com o público infantil
Em 2019, Gloria Groove fazia sua estreia no Rock in Rio, ao lado de Karol Conka e Linn da Quebrada, no Palco Sunset. Em 2022, ela voltou a subir no espaço, mas para uma apresentação solo. Agora, ela estará na edição de 40 anos do evento, em dose dupla: nesta quinta (19), sozinha, e no Dia Brasil, neste sábado (21), no encontro Pra Sempre Pop, ao lado de Duda Beat, Ivete Sangalo, Jão, Luísa Sonza e Lulu Santos, as duas vezes no Palco Sunset.
“Eu continuo com a mesma incredulidade da primeira vez em que eu fui convidado para estar no palco, junto da Karol Conká e da Linn da Quebrada, em 2019. Continua sendo surreal para mim que tudo que eu sonhei tão lá atrás e o efeito desse sonho esteja no palco de um festival tão gigante, um festival mundial”, celebra Daniel Garcia, intérprete de Gloria Groove, em entrevista a VEJA Rio.
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O artista diz que se sente grato pela valorização do trabalho das drags na música brasileira, apesar da tensão que existe ainda na nossa cultura quando os assuntos são orientação sexual e identidades de gênero, e expressões artísticas que tocam nessas questões. “E, mesmo assim, a gente consegue construir esse apreço pela obra, pela nossa contribuição para a cultura popular”, comemora.
Para ela, o sucesso de nomes como Gloria Groove e Pabllo Vittar no país é algo que rema contra a maré. “Em relação ao resto do mundo, que as drag queens consigam ter esse tamanho aqui dentro, no nosso contexto é algo que mora no campo do inexplicável. O que vai explicar isso é realmente a conexão que o público tem com a gente, e a necessidade de artistas assim existirem para continuar levando a gente para a frente”, pondera.
O intérprete de Gloria também comemora a popularidade da drag com o público infantil. “Criança reconhece o genuíno, reconhece você brincando de ser. Eu sempre brinco que acho que as crianças entendem muito melhor o meu trabalho do que os adultos, porque elas não enxergam com aquelas camadas de maldade e questionamentos infundadas que os adultos geralmente trazem. Elas só conseguem ver o que é divertido”, acredita.
O artista também defende que, apesar de muitas vezes as pessoas não entenderem muito bem o que é uma drag queen — há quem as confunda com mulher trans, por exemplo —, a música acaba transcendendo isso. “A informação caminha em velocidades distintas para cada grupo da sociedade. Da mesma forma que pode ser muito óbvio para alguém que eu sou o Daniel e que eu sou o criador da persona Gloria Groove, que é uma drag queen, que é uma expressão artística, são muitas camadas, pode não ser tão simples para alguém que tenha esse nível de informação”, analisa ele.
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“Mas a música conecta independentemente do canal que está a levando. Pode ser que, quando eu apareço na televisão de um lugar do Brasil onde só tem a televisão para as pessoas verem o mundo, elas não entendam ao certo o que eu sou. Mas elas entendem a música, começam a gostar da música, então acredito que, de fato, estamos avançando lentamente”, prossegue.
Ele frisa que, apesar disso, é de extrema importância que as pessoas entendam a diferença da vivência de um para o outro. “Mas eu também vejo a importância que a música tem como sendo realmente o que eu faço. E eu fico feliz que a minha expressão artística carregue tanto questionamentos e gere tantas conversas importantes. Mas acredito que, um dia, como um Daniel velhinho, eu vou chegar no ponto onde uma entrevista com a Gloria Groove vai ser só sobre música, porque falar sobre isso já vai ser coisa de outros tempos”, torce.
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Perguntado sobre artistas que surfam na onda da causa LGBTQIAP+ de forma oportunista, sem comprometimento com a luta, de olho apenas no pink money (“dinheiro rosa”, em inglês, significando o compra dessa comunidade), Daniel acredita que esse tipo de pessoa se dar bem é um fenômeno geracional, que está ficando no passado.
“Quando eu era adolescente, era supercomum que a nossa diva pop fosse uma mulher hétero, mas a geração de hoje tem uma mulher lésbica, uma mulher bi, um homem gay, um homem bissexual, entre outros, para se inspirar. Isso é mais uma coisa que está se transformando. As novas gerações estão tendo mais acesso artistas e figuras públicas que as representam de fato. É por conta disso que esses castelinhos de areia estão desmoronando“, argumenta.
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Prestes a lançar o volume 2 de seu projeto Serenata da GG, dedicado ao pagode (Daniel é filho de Gina Garcia, que foi backing vocal do Raça Negra), ele adianta que o show do Rock in Rio fará um passeio por todas as fases de sua carreira, em uma apresentação dividida em três blocos.
“Neles, eu crio momentos específicos especiais, com uma grande abertura com todos os sucessos pop, numa sequência frenética, o meio do show com um momento romântico, falar um pouco sobre a Serenata e, talvez, até jogar um spoiler do volume 2, e o bloco três leva a gente para a festa de fato, porque, quando eu soube que cantaria numa edição de aniversário, meu primeiro pensamento foi que eu precisava celebrar e fazer uma festa. Drag em festa de aniversário significa diversão, e eu tentei levar isso ao pé da letra”, diverte-se Daniel.
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