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Exposição retrata 120 anos de história do Rio em pinturas e fotografias

Tendo como marco o nascimento do patrono do lugar, O Desejo de uma Cidade, que abre em maio na Casa Roberto Marinho, promove mergulho na diversidade local

Por Kamille Viola
Atualizado em 9 Maio 2024, 17h18 - Publicado em 19 abr 2024, 06h00
Cidade inspiração: em sentido horário, as obras de Custodio Coimbra, Monara Barreto, Carlos Vergara, Djanira, Otto Stupakoff, Tarsila do Amaral e Vincent Rosenblatt
Cidade inspiração: em sentido horário, as obras de Custodio Coimbra, Monara Barreto, Carlos Vergara, Djanira, Otto Stupakoff, Tarsila do Amaral e Vincent Rosenblatt (Thales Leite; Custodio Coimbra; Otto Stupakoff; Vincent Rosenblatt; Monara Barreto/Imagens do Povo; Djanira/Reprodução; Carlos Vergara/Divulgação)
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“Cidade maravilha, purgatório da beleza e do caos.” Talvez não haja definição mais precisa do que a dos versos eternizados por Fernanda Abreu na canção Rio 40 Graus. E é essa metrópole, fascinante e cheia de contradições, que tem agora 120 anos de sua história contados pelo olhos de artistas brasileiros e estrangeiros na exposição O Desejo de uma Cidade: 1904-2024, que inaugura em 11 de maio na Casa Roberto Marinho, no Cosme Velho, ocupando todo o centro cultural.

O período escolhido é uma homenagem ao patrono do espaço, o jornalista Roberto Marinho, cujo aniversário, justamente de 120 anos de nascimento, será comemorado em 3 de dezembro. Para atrair mais público, a entrada será gratuita às quartas. “É uma exposição que pega várias gerações, traz lembranças, memórias e também essa teimosia do carioca de morar aqui e fazer uma cultura interessante”, afirma Lauro Cavalcanti, diretor da casa e um dos curadores da mostra. “Não é ufanista nem melancólica, é uma exposição sobre a autoestima. Acho que as pessoas vão sair felizes.”

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Haverá salas dedicadas à cultura, arquitetura e literatura made in Rio, por cariocas de nascimento ou adoção. A música, que é muito presente, também terá sua relevância. Um dos desafios da equipe de curadoria — que inclui Marcia Mello e Victor Burton, com consultoria do colecionador Luiz Chrysostomo, do executivo Jorge Nóbrega (ex-presidente do Grupo Globo) e do arquiteto Pedro Mendes da Rocha — foi abrir o olhar para além daquilo que faz parte do universo de cada um e exibir as complexidades da cidade, que é exaltada por suas belezas naturais, mas, ao mesmo tempo, é violenta e desigual.

Marcia Mello conta que eles evitaram os cartões-postais, reunindo fotografias, vídeos e pinturas que exaltam e, também, tensionam o cenário carioca. “A exposição revela a vibração presente na paisagem, nos corpos, no movimento urbano”, descreve. “Através das obras dos artistas selecionados, o que propomos são novos cartões-postais”, diz.

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Fotografias de nomes de gerações diversas, como Alair Gomes, Anna Kahn, Cristiano Mascaro, Custodio Coimbra, Joelington Rios, José Medeiros, Leonardo Aversa, Marc Ferrez, Pierre Verger e Vincent Rosenblatt, entre outros, são apresentadas em diálogo com trabalhos de artistas de vertentes e épocas distintas, como Allan Weber, Carlito Carvalhosa, Carlos Vergara, Cristina Canale, Di Cavalcanti, Djanira, Ismael Nery, J. Carlos, Luiz Alphonsus, Rivane Neuenschwander e Tarsila do Amaral. A mostra conta com uma sala dedicada ao pintor Heitor dos Prazeres (1898-1966), que por décadas teve seu trabalho como artista plástico esquecido, sendo lembrado somente pela música.

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Prazeres retratou a vida da população negra na cidade no pós-Abolição. Joelington Rios, que participa com trabalhos da série O que Sustenta o Rio, defende que é essencial haver obras de perspectivas diferentes, para que não se caia no “perigo da história única”, como define a escritora nigeriana Chimamanda Ngozi Adichie. “O Rio é tão cheio de camadas que ouvir e ver outras versões, prosas, imagens e sonhos é importante para até mesmo não matar novamente o que foi e continua sendo esmagado”, explica.

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Além dos consagrados nomes das artes visuais, a exposição abre espaço para criações tipicamente cariocas que não estão nas galerias, mas compõem a história da cidade e sua vocação artística. Um exemplo é o trabalho do pintor Nilton Bravo (1937-2005), conhecido como o Michelangelo dos Botequins, onde outrora pintava famosos painéis. Sua obra ainda pode ser vista em locais como o Jobi, mas houve uma época em que todo bar que se prezasse tinha uma dele.

Também há uma seção dedicada às tatuagens, já que é cada vez maior o número de pessoas que decidem gravar o desenho de algum ícone da cidade, entre eles o Maracanã, o Cristo e o Morro dos Dois Irmãos. Essa turma não é só de locais — também turistas, às vezes, voltam para casa com uma imagem carioca estampada no corpo. “O Rio é mesmo muito fotogênico”, derrete-se o curador Lauro Cavalcanti. Coisa de pele.

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Desde os primórdios

Artistas de envergadura que, no passado, já tinham a cidade como inspiração

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Debret
Debret: artista retratou costumes da população negra e cenas da escravidão no Rio (Jean-Baptiste Debret/Divulgação)

Com uma beleza natural exuberante e uma cultura pujante, o Rio de Janeiro, ao longo dos tempos, atraiu inúmeros artistas, que aqui desembarcavam para tentar traduzir esse espírito sem igual. No século XIX, foi a segunda cidade mais retratada do mundo, ficando atrás apenas de Paris. Entre os mais notórios, está o pintor Jean-­Baptiste Debret (1768-1848), que chegou à cidade em março de 1816, integrando a Missão Artística Francesa, que veio ao Brasil a convite da corte portuguesa, após sua transferência de Lisboa para cá.

O alemão Johann Moritz Rugendas (1802-1858) foi outro que se notabilizou por pintar a cidade, à qual chegou em 1822, ano da Independência, para participar da Expedição Langsdorff. Na fotografia, merecem destaque Marc Ferrez (1843-1922) e Augusto Malta (1864-1957). Enquanto os dois registraram sobretudo as mudanças na paisagem da cidade, Debret e Rugendas documentaram a interação humana, mostrando cenas da escravidão, além de manifestações culturais de negros e indígenas.

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