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Espetáculos trilham caminhos alternativos para entrar em cartaz

Ana Beatriz Nogueira, Karine Teles, Armando Babaioff, Inez Viana e Carolyna Aguiar estão levantando suas peças com dinheiro do próprio bolso

Por Guilherme Scarpa Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO
Atualizado em 27 abr 2018, 17h46 - Publicado em 27 abr 2018, 17h46
A atriz está em cartaz com Mordidas, no Fashion Mall, produção custeada com dinheiro do próprio bolso  (Felipe Fittipaldi/Veja Rio)
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Está lá, no YouTube, para quem quiser lembrar. Em janeiro, na cerimônia de entrega do Prêmio Cesgranrio de Teatro, em meio à confraternização festiva de tantos colegas reunidos, a atriz Guida Vianna — laureada por sua atuação na peça Agosto — soltou o verbo durante seu discurso de agradecimento. Lembrou os muitos obstáculos enfrentados em mais de quatro décadas de carreira: entre outros, os empréstimos contraídos, a distribuição de filipetas na rua, que ela, aos 63 anos, ainda faz, e a crise que, generalizada, se abateu com força sobre a cena teatral, resultando no sumiço dos patrocinadores e das verbas conseguidas via leis de incentivo.

Bem usados, mecanismos de apoio à cultura, como a Lei Rouanet, são, mais do que benéficos, fundamentais em determinados casos. Em um momento adverso, porém, não dá para ficar parado, esperando Godot, ou seja, dias melhores. Muita gente boa está fazendo como Guida Vianna e correndo atrás. Em um levantamento pelos palcos da cidade, contam-se mais de vinte produções em cartaz, ou prestes a estrear, que vêm garantindo seu lugar no circuito por meios próprios.

Nessa turma está Ana Beatriz Nogueira, rosto conhecido dos espectadores de novelas, que levou a peça Mordidas, do autor argentino Gonzalo Demaria, para o Teatro Fashion Mall. “Comprei os direitos para encenar a peça em até um ano e meio, o prazo foi passando e decidi fazer de qualquer maneira, porque desistir é muita frustração”, conta. Para levantar a montagem, orçada em 100 000 reais, a atriz recorreu às economias do irmão, o publicitário Gustavo Nogueira, e entrou em acordo com a equipe, formada por nomes como Miguel Falabella (adaptação e tradução) e Victor Garcia Peralta (direção).

“Todos receberam uma ajuda de custo, não podiam pagar para trabalhar, e os técnicos ganharam cachê abaixo do costumeiro”, lembra Ana, que sobe ao palco ao lado de Zélia Duncan, Regina Braga e Luciana Braga. A remuneração está sendo mantida com a verba de bilheteria — o público vem lotando a casa, de 490 lugares, de sexta a domingo, atrás dos famosos no palco.

Um nome prestigiado, em especial pelo trabalho em filmes como o elogiado longa independente Riscado (2010) e o premiado Que Horas Ela Volta? (2015), Karine Teles não é um rosto popular entre os telespectadores — apesar de também já ter feito novela. Para levar o monólogo Os Últimos Dias de Gilda ao Sesc Tijuca, a atriz recorreu à criatividade. Ela vendeu doze sessões da peça ao próprio Sesc, por meio de um projeto dedicado a espetáculos já prontos.

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Com os 30 000 reais levantados e reduções negociadas na remuneração da equipe, Karine efetivamente concluiu a produção. “Mesmo assim, eu e o Camilo Pellegrini, o diretor, ainda tiramos dinheiro do bolso. E vamos seguir sem patrocínio”, afirma. Na mesma trilha, Inez Viana dirige o solo Maria!, no Sesc Copacabana, e está ultimando uma adaptação de A Mentira, de Nelson Rodrigues, com a Cia. Omondé, da qual é fundadora. Nenhuma das duas peças tem algum tipo de patrocinador. “Já fiz crowdfunding, agora vamos conseguir um pouco da verba dando aula em uma oficina. Acho triste, a conta não fecha”, diz.

A lista de fortes personagens femininas por trás de novos espetáculos teatrais sem apoio financeiro inclui ainda Carolyna Aguiar. A atriz, que vem de São Paulo com A Guerra Não Tem Rosto de Mulher, a partir de 8 de maio no Teatro dos Quatro, tornou-se uma habilidosa negociante. “Hoje temos uma conversa melhor, mais realista com os teatros, que cobram valores altos de aluguel. Muitos administradores estão entendendo a situação e vendo que podem virar parceiros”, observa.

Na montagem, que também traz no elenco Luisa Thiré e Priscilla Rozenbaum, “todos ganham o mesmo porcentual”, explica Carolyna. Não há, na verdade, receita para o retorno garantido, exceto a do sucesso de público. Bom exemplo disso, o drama Tom na Fazenda, no Teatro do Leblon, está em cartaz há um ano com casa cheia, e só contou com patrocínio na temporada de estreia. “No fim de 2017 demos até 13º à equipe”, conta Armando Babaioff, produtor e estrela do espetáculo. O segredo mesmo talvez esteja em outra parte do hoje famoso discurso de Guida Vianna: “Nós somos fortes, nós somos resilientes, nunca traímos nosso primeiro amor, que é o palco”.

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