Manchete de um jornal carioca no fim de 1973: “Vem aí a nova peça do chato genial”. Ela dava conta dos bastidores da produção de Anti-Nelson Rodrigues, espetáculo que entraria em cartaz no ano seguinte, no Teatro Nacional de Comédia (hoje Glauce Rocha). Era uma entrevista com o próprio dramaturgo e com Paulo César Pereio, um dos atores daquela encenação, no caso também diretor, que reclamava: “As pessoas que se dizem inteligentes acham Nelson Rodrigues reacionário e gagá, deixando de curtir o mais importante autor vivo do teatro brasileiro”. Foi nesse clima que a peça estreou. “O título serve mesmo para contrariar a imagem que geralmente se tem a meu respeito. É um charme irônico”, dizia, na mesma reportagem, Nelson Rodrigues. A imprensa especializada se dividiu. O hoje novelista Gilberto Braga, que na época trabalhava como crítico de teatro e assinava Gilberto Tumscitz, escreveu “o grande autor a gente ama ou odeia” e — tendo aparentemente amado a montagem — deu quatro estrelinhas, a cotação máxima. Agora, 41 anos depois, esse texto do “anjo pornográfico”, a sua penúltima peça, voltará aos palcos cariocas, com direção de Bruce Gomlevsky e estreia programada para daqui a três semanas, no Teatro III do CCBB, no Centro. A história da moça suburbana que se envolve com um ricaço mulherengo desta vez reunirá atores como Tonico Pereira e Juliana Teixeira. Juliana, aliás, lutou anos a fio para ressuscitar Anti-Nelson Rodrigues. Ela é produtora da montagem e penou até conseguir os direitos autorais. Tanto que sua primeira ideia era interpretar a jovenzinha Joice, mas, quando o espetáculo enfim se concretizou, Juliana achou melhor assumir o papel da mãe do vilão, num figurino austero.