Débora Falabella: “Devemos admitir que nem sempre está tudo bem”
Atriz protagoniza o filme Depois a Louca Sou Eu, que estreia nesta quinta (25), e aborda doenças psiquiátricas, como síndrome do pânico, sem tabus
Baseado no livro homônimo da escritora Tati Bernardi, a comédia Depois a Louca Sou Eu, que chega aos cinemas nesta quinta (25), acompanha os altos e baixos de Dani (Débora Falabella), que desde criança precisa lidar com crises de ansiedade.
Permeado por momentos dramáticos e engraçados, o longa dirigido por Julia Rezende aborda as doenças psiquiátricas sem tabus. A protagonista acaba se apaixonando por Gilberto, um psicanalista que também vive angustiado, e descobre que pode cativar as pessoas através da literatura.
VEJA Rio conversou com Débora Falabella, que exaltou a forma despudorada com a qual a personagem Dani trata das próprias doenças e dos medos.
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Depois a Louca Sou Eu é o primeiro grande lançamento do cinema brasileiro depois do período de isolamento. Sente a responsabilidade de “puxar” essa retomada?
Fazer um filme é sempre uma grande responsabilidade. Acredito que o ator tenha que gostar daquela história para poder emprestar o corpo e a voz para um personagem. Quando li o livro da Tati senti uma identificação e fiquei com muita vontade de levar aquelas palavras para o cinema. Acho incrível como a Tati consegue falar de problemas sérios, que acometem muitas pessoas, como a síndrome do pânico e a ansiedade, podendo rir das situações e desmistificando-as. Muita gente sofre com doenças psiquiátricas e acho que temos que falar delas cada vez mais. Confio muito na missão desse filme, é um prazer levar essa história adiante.
A protagonista do filme sofre com a ansiedade. Quais são as semelhanças que você tem com a personagem? Usou alguma situação da sua vida para o filme?
Não tenho uma história parecida com a da Dani, mas algumas situações que aparecem no filme se assemelham a alguns momentos que já passei na minha vida. É claro que, no longa, é tudo pintado com cores fortes. Mas o que acho mais legal é que a personagem não tem pudor de falar de algo que muitas pessoas têm vergonha. Ela fala sobre os próprios medos, assume quando não está bem. No mundo de hoje, a gente tem de estar bem o tempo todo, existe uma imposição pela felicidade. Eu me identifico com essa verdade, de admitir que nem sempre as coisas vão bem.
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Você tem uma relação de amizade com a Tati Bernardi. Ela te deu algumas orientações sobre como a personagem deveria ser?
A gente se conhece há um tempo, ela assiste às minhas peças, eu leio os livros dela… Esse projeto nos aproximou. Admiro muito a forma com a qual a Tati se coloca no mundo, usando o humor para falar de assuntos muito sérios. A Dani, personagem do filme, não é a Tati, é uma personagem que vive situações inspiradas por momentos que a Tati viveu.
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O filme tem momentos tensos e engraçados. Há algum segredo para ir do drama à comédia?
Nunca fiz o filme pensando na comédia, e sim no auto-humor. A Dani, mesmo passando por crises de ansiedade, vai em busca dos sonhos dela. Não me liguei previamente a esses sentimentos. Me apeguei à personagem e, claro, amparada na direção da Julia (Rezende) e no roteiro, fui embora.
O atraso na estreia do filme acabou motivando a criação da websérie Diário de Uma Quarentena, que você produziu em casa, para o Instagram. Quais foram os principais aprendizados de “fazer tudo sozinha”?
A ideia surgiu de forma despretensiosa, numa conversa com a Júlia, que guiou todo o processo. Não fiz tudo sozinha, a Tati assinou o roteiro do primeiro episódio e o roteirista do filme, Gustavo Lipsztein, escreveu os demais. Dava um trabalho gravar tudo sozinha em casa, mas aprendi muito. No período de isolamento participei de diversas produções desse tipo, em que eu realizava coisas que antes eu não fazia sozinha. Aprendi a mexer com câmera, por exemplo, algo novo para mim.
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Você também se aventurou pelo teatro on-line nesse período, com duas peças virtuais. Acredita que esse novo formato veio para ficar? Qual avaliação você faz sobre esse movimento?
Não acho que um formato substitui o outro, nem sei se o nome deve ser teatro on-line. É uma nova linguagem, diferente do teatro, do cinema e de outros produtos audiovisuais aos quais estamos acostumados. No entanto, acho que esse modelo veio para ficar, sim. É mais uma possibilidade que a tecnologia trouxe aos artistas. Ainda temos muito o que explorar neste modelo.
O cinema brasileiro vem passando por uma crise severa, com corte de incentivos e editais. Você teme um retrocesso na área?
A crise já vinha há um tempo, mas piorou na pandemia. O governo é totalmente irresponsável em relação a esse assunto, não valoriza a cultura. Acredito na força da arte, é difícil demais trabalhar sem incentivos, mas os artistas têm que seguir lutando.