Competições com obstáculos ganham novas edições no Rio
Inspiradas em treinamentos militares, corridas como a Reebok Spartan Race e Bravus Race conquistam adeptos cariocas
Desde o início dos anos 80, quando o carioca aderiu ao jogging, impulsionado à época pela recém-chegada maratona, disputada pela primeira vez na cidade em 1979, as corridas de rua evoluíram por diversos formatos. Graças à popularização do esporte, que hoje reúne mais de 6 milhões de praticantes em todo o país, as provas estão cada vez mais segmentadas e, por vezes, inusitadas. De percursos com até 42 quilômetros no asfalto, passando por trajetos em trilhas e costões de terreno irregular, as chamadas trail runnings, agora faz sucesso a corrida de obstáculos, com desafios que remetem ao treinamento de crossfit. Neste domingo (23), cerca de 2 000 pessoas se encontrarão em Itaipava, na região serrana, para participar da Reebok Spartan Race, competição internacional que fará sua estreia no lugarejo encravado a quase 90 quilômetros da capital fluminense. “Muito mais do que uma corrida, faremos um festival, com atrações que vão de DJs a lojas de produtos, food trucks e ativações de marcas”, resume Warley Costa, coordenador de projetos da X3M Sports Business, responsável pela organização brasileira do evento.
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Embora, à primeira vista, pareça uma espécie de Rock in Rio dos esportes, quem chega às instalações da prova, no Sítio São José, a fim de percorrer os 6 quilômetros, depara com um cenário que lembra um treinamento de guerra. São 22 obstáculos espalhados pelo trajeto. Ali os participantes são desafiados a jogar lanças, subir cordas, vencer muros, rastejar sob arame farpado, atravessar lodaçais, rios, paredes de escalada e até barreiras com fogo. As regras são claras: não conseguiu passar por algum obstáculo? A penalidade para os inscritos na categoria de iniciantes é executar 30 burpees — sequência que começa com agachamento seguido de flexão de braço e salto. No caso dos atletas dos segmentos competitivo e de elite (esse último valendo premiação em dinheiro), a falha pode levar à eliminação do candidato.
Concluir a tarefa hercúlea exige esforço, persistência e dedicação, é claro, mas é usual aventureiros amadores participarem apenas por diversão e pela experiência que foge do lugar-comum — há uma versão bem mais branda e compacta para crianças de 4 a 13 anos. “A Spartan não é uma corrida excludente e por isso temos três grupos. Quem quiser poderá completar o circuito andando. Agora, se for para competir de verdade, é bom estar condicionado para movimentos de força e velocidade”, explica Costa. Para encarar o desafio, a jornalista esportiva Ana Luiza Reis, 28 anos, adepta de atividades como corrida, musculação e vôlei de praia, deu uma acelerada na malhação. “Apesar de correr regularmente no dia a dia, tenho feito mais burpees e exercícios funcionais. Também intensifiquei o treino cardiorrespiratório”, conta.
Inspiradas em treinamentos militares que há tempos testam os limites da resistência humana, as corridas de aventura são muito populares no exterior. Uma das referências internacionais no segmento, a Reebok Spartan Race, criada em 2007 nos Estados Unidos, está presente em 27 países de continentes como a América do Norte, Europa e Ásia. Por aqui, uma das pioneiras foi a brasileira Bravus Race, que desembarcou no Rio pela primeira vez em 2014, seguindo modelos bem-sucedidos como as britânicas Tough Mudder e Tough Guy, além da americana Savage Race. Na primeira edição reuniu 3 000 pessoas interessadas em completar e ultrapassar os cerca de vinte obstáculos. Atualmente, tem catorze etapas anuais, sendo três delas no Rio, onde atrai quase o triplo de participantes, e até uma versão em Buenos Aires. O motivo de tamanha adesão? “Na primeira vez que participei, senti muita dificuldade, apesar de correr na rua há nove anos. Tinha pouca resistência e força para vencer os obstáculos”, conta o gerente de tecnologia da informação Sandro Miranda, 41 anos. “Terminei exausto, todo ralado e cheio de hematomas, mas depois disso percebi que era capaz de qualquer coisa. Acabei entrando no crossfit para me preparar melhor para as futuras competições” completa ele, que está no time intermediário da disputa deste domingo (23) e já se inscreveu para a próxima bateria da Bravus, marcada para o fim de novembro, no Jockey Club. Como se vê, a superação de limites, de fato, ultrapassa barreiras.