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Com Lady Night, Tatá Werneck vira a maior humorista da TV

Atriz, comediante e apresentadora com verve irônica e notável capacidade de improvisação, Tatá arrebenta em seu programa de entrevistas no Multishow

Por Daniela Pessoa Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO , Sofia Cerqueira
Atualizado em 13 out 2017, 17h04 - Publicado em 13 out 2017, 17h02
Tatá Werneck
 (Leo Aversa/Veja Rio)
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Assediado por jornalistas do mundo inteiro, Neymar costuma se mostrar retraído e, não raro, monossilábico em entrevistas. Na última segunda (9), o ídolo do Paris Saint-Germain revelou uma faceta diferente aos fãs. Apresentado como “influenciador capilar, adepto da depilação total e que não dispensa um futebolzinho no fim de semana”, o craque rolou de rir no sofá, interpretou uma versão de uma cobra que dança funk, imitou uma pessoa com prisão de ventre e deixou escapar alguns palavrões. Revelou ter sido “horrível” o momento em que soube que seria pai, disse sonhar se casar na igreja e confessou que a atriz Bruna Marquezine, sua ex-talvez-atual namorada, é uma das pessoas que mais ama na vida. A proeza de fazer com que o astro do futebol ficasse completamente soltinho coube à atriz, humorista e apresentadora Tatá Werneck, na estreia da segunda temporada de seu programa, Lady Night, no Multishow. Cercado por um entourage, Neymar chegou de helicóptero ao Projac, onde a atração é gravada, provocando alvoroço na plateia — havia até fã chorando — e nervosismo na equipe de produção. Nem mesmo o frenesi causado pela presença do craque intimidou a artista. Com um humor escrachado, tiradas rápidas e às vezes sacanas, muito improviso e ironia, Tatá é hoje, aos 34 anos, o grande nome na arte de fazer rir da televisão brasileira. “Em geral, os famosos se comportam como pessoa jurídica quando dão entrevista, ficam na defensiva. Tento desconstruir essa imagem”, explica. “Não tenho pudor, sou cara de pau mesmo. Para o Cauã Reymond, por exemplo, mostrei uma paleta de cores e perguntei qual era o tom do cocô dele.”

Com fórmula e cenário inspirados nos talk shows americanos, o programa de Tatá subverte a rigidez do formato de entrevistas e leva ao ar desde abril, quando foi lançado, cenas impagáveis. No episódio em que passou pelo hilário constrangimento já citado por Tatá, Cauã testou com ela dezessete variações de beijo técnico. O ator Caio Castro, ainda nessa temporada, ficou só de cueca em cena, a discreta atriz Marina Ruy Barbosa deu um selinho na apresentadora e teve até a drag queen Pabllo Vittar travestindo o pai de Tatá, que faz participações especiais no palco. Fã de Jimmy Fallon, Ellen DeGeneres e Chaves (sim, o programa mexicano que passava no SBT), ela não tem nenhum pudor de se autorridicularizar diante das câmeras. “Deus devia estar fazendo outra coisa quando me fez, saí prejudicada. Ele me deu um nariz que desequilibra a minha cabeça”, soltou em um dos novos episódios.

Tatá Werneck - Lady Night - MTV
(Gianne Carvalho (Multishow)e Kelly Fuzaro (MTV)/Divulgação)

A sucessão de tiradas divertidas, a agilidade na improvisação e a espontaneidade surpreendente de Tatá transformaram o Lady Night em um fenômeno de audiência. Na primeira leva de episódios da atração, o Multishow liderou o ranking da TV paga entre os jovens de 18 a 34 anos. O sucesso é tanto que a terceira temporada já foi confirmada e se ventila a possibilidade de a humorista ter um programa parecido na Globo. Atualmente, o Lady Night tem quatro roteiristas — “Cinco a menos do que o programa do Fábio Porchat”, cutuca a apresentadora —, 50% é script e 50%, improviso. “Ela joga nas onze. Figuras que criam e roteirizam, como o Marcelo Adnet, são importantes, mas a Tatá vai além, é muito espontânea. Ela desconcerta qualquer um”, afirma Guilherme Zattar, diretor do canal Multishow.

O reconhecimento do talento de Talita Werneck Arguelhes não aconteceu cedo, embora ela tenha participado, ainda menina, de um programa da Xuxa — a responsável pelo nome artístico Tatá. Ao contrário de muitos rostinhos perfeitos, que estouram na adolescência, ela temia que sua carreira não deslanchasse. A atriz, que começou a fazer teatro quando criança, só conseguiu destaque na televisão aos 26 anos, na MTV. Em 2009, chegou a fazer um piloto para o programa Pânico na Band, mas foi reprovada. No canal de TV dedicado ao público jovem, apresentou atrações como Quinta Categoria e O Estranho Show de Renatinho. Seu sonho sempre foi trabalhar na Globo, mas temia que o jeito escrachado e seu physique du rôle — 1,52 metro de altura (“Mas dá uma mentidinha aí, põe 1,54”), 48 quilos e um nariz que ela considera avantajado — não se encaixassem no padrão da emissora. Quase ninguém sabe, mas, por causa da silhueta mignon, ela compra roupas em lojas infantis. “Já fui humilhada em vários testes na minha vida. Uma vez, numa seleção para uma série, disseram que eu não era bonita e ainda por cima era gorda”, lembra. No mesmo dia, ouviu um diretor dizer que não tinha timing de comédia.

Tatá Werneck - novelas
(Zé Paulo Cardeal (I Love Paraisópolis) e João Cotta (Amor à Vida)/TV Globo)

Quem diria, a atriz “fraquinha” tem hoje o próprio show de humor e já recebeu telefonemas de colegas como Selton Mello e Carolina Dieckmann pedindo para participar da atração. Além disso, está escalada para a sua quarta novela global. Aliás, ela tem contrato fixo na casa até 2020. Na próxima trama das 7, Deus Salve o Rei, que estreia em janeiro, interpretará uma princesa. Detalhe: a mais feia do reino. “Isso não me afeta, tenho autoestima ótima. Sempre namorei os homens que eu quis. Com jeito e senso de humor, você consegue às vezes mais do que se estivesse com o corpo de academia”, diz a atriz, que por sinal não malha regularmente e conquistou um namorado onze anos mais novo, o ator Rafael Vitti, a quem chama de príncipe e golfinho — “Ele é jovem, então tem muito colágeno”, diverte-se. Os dois já moram juntos, e ela, inclusive, faz planos de engravidar. “No começo tinha medo de que ele perdesse a juventude comigo e terminei várias vezes. Numa dessas, ele tirou a camisa e perguntou: ‘Tem certeza?’. Me ganhou na hora”, lembra, rindo.

Dentro e fora dos estúdios, Tatá faz graça. Durante a sessão de fotos para essa reportagem, por exemplo, indagou ao fotógrafo o que ele queria que ela fizesse: “Pose de gata jogada ou sorriso fake?”. Em seguida, sugeriu que ele tratasse as imagens com o “filtro Fiorella Mattheis”, numa referência à pele perfeita da colega. Quem vê o seu jeitão debochado não imagina que a atriz é super-religiosa. Quando conheceu Vitti, estava atravessando o Jejum de Daniel. Trata-se de um período de 21 dias em que o fiel abole prazeres da sua rotina, como o sexo, baseando-se em preceitos da Bíblia. O intuito, ela conta, é manter-se conectada aos bons princípios e não perder a cabeça com o mundo da fama. Faz isso regularmente. Criada no catolicismo, Tatá é devota de São Miguel Arcanjo e Santa Terezinha das Rosas, reza o terço todos os dias, mas flerta com o budismo, o espiritismo, religiões africanas e adora uns cristais. “Tatá fala muito com Deus, faz muitas orações e promessas. Ela tem uma fé que inspira”, comenta Bruna Marquezine, uma de suas melhores amigas.

As melhores frases de Tatá Werneck
(Veja Rio/Veja Rio)

Do tipo que poderia ser tachada de careta, a comediante é categórica quanto a práticas de comportamento mais licenciosas: “Nunca fumei maconha na vida. Não é a minha onda”. Também quase não bebe e é fraca para o álcool. A ponto de ter dado um vexame em Nova York, num intervalo das gravações da novela I Love Paraisópolis (2015), depois de beber uma tacinha de vinho com Bruna e o ator Maurício Destri. “Eles estavam de trelelê enquanto eu bebia. Fiquei tão doida que entrei numa boate pela porta dos fundos, fui expulsa pelos seguranças e acabei num hospital”, lembra ela, que estava com uma crise renal e alcoolismo agudo. Transtornada, berrava pelos corredores que o médico queria apalpar seus seios e abusar dela. Tudo num inglês macarrônico — um de seus sonhos é fazer um curso do idioma no exterior.

Durante um bate-papo com Tatá, é comum ela se distrair e perguntar em vários momentos: “Do que mesmo estávamos falando?”. Há episódios do Lady Night em que o lapso, inclusive, acontece durante as entrevistas e vai ao ar. Extremamente pilhada, a atriz foi diagnosticada com transtorno de déficit de atenção e hiperatividade (TDHA), mas não toma medicamentos com o receio de perder a capacidade de improvisar. Em compensação, a fala acelerada e o fato de engolir palavras já lhe renderam muita dor de cabeça. Quando Tatá estreou em novelas, na pele da periguete Valdirene, de Amor à Vida, sua atuação foi elogiada, mas a dicção era alvo de uma saraivada de críticas. Chegou a procurar uma fonoaudióloga, e descobriu que o problema estava no fato de pensar mais rápido do que fala, o que ela atualmente usa como recurso extra de humor. “Parei inclusive de dirigir, porque bati o carro oito vezes em apenas um ano. Penso mil coisas ao mesmo tempo e tenho dificuldade de focar”, conta.

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A metralhadora verbal de Tatá já foi motivo de piada para outros humoristas, como Sill Esteves. Em 2005, em um quadro do Pânico, Sill provocou um climão enquanto imitava a concorrente. “Você está com uma invejinha que está te fazendo mal, cara”, não se conteve Tatá, na saída de um evento. À exceção de entreveros episódicos como esse, são poucas as inimizades da comediante no meio artístico. Ela afirma que é brigada com apenas cinco pessoas e que prefere não falar sobre isso para não mexer com seu carma. Agitada e workaholic, Tatá custou a se permitir sair de férias. Entre 2013 e 2016, tirou onze dias de folga. Foi o humorista Fábio Porchat, amigo dos tempos das batalhas de improvisação no teatro, quem a convenceu a descansar. “Logo de cara, vi que ela é uma doida de pedra genial. Que furacão é esse? Sempre foi rápida, engraçada e maluca. Você se encanta, ela é meio mágica”, descreve Porchat.

Filha de uma jornalista e de um matemático dono de uma editora de livros para pessoas com deficiência, Tatá nasceu e foi criada na Barra da Tijuca. No bairro, foi expulsa de dois colégios em razão da picardia e do mau comportamento. Hoje, mora em um casarão no Itanhangá, mas acaba de comprar outro imóvel, uma mansão assinada pelo arquiteto Thiago Bernardes, no mesmo condomínio. Precisa de mais espaço, alega, para cuidar da sua bicharada — são oito cachorros e doze gatos, a maioria deles adotada e tratada como filho. Só para se ter uma ideia, os pimpolhos, batizados com nomes como George Foreman Grill, Táxi e Paz Luz Vida Nova, recebem a visita de uma veterinária diariamente. Entre os caçulas estão Nino, um vira-lata de três patas, e Penélope, uma cadela caolha. A causa animal e a inclusão social estão entre suas bandeiras. A atriz tem até mesmo um grupo de teatro voltado para portadores de necessidades especiais.

Controlada quando o assunto é dinheiro, Tatá conta que só não economiza com seus bichos, suas obras sociais, a família e umas coisinhas ou outras — como utensílios domésticos, por exemplo. Certa vez, fez uma viagem a Miami com a também humorista Ingrid Guimarães e voltou carregada de talheres. “Ela me perguntou para o que eram e respondi: ‘Para quando o Luciano Huck for à minha casa’. Ele nunca veio, mas um dia ainda virá”, brinca. Viajar, aliás, é um drama para Tatá, que só entra em um avião se estiver à base de tarja-preta. Na ponte aérea, já chegou a perder cinco voos com receio de embarcar, e costuma abraçar quem está na poltrona ao lado, mesmo que seja um desconhecido. Por sorte, estava acompanhada de Rafael Vitti quando visitou a Grécia, as Maldivas, Amsterdã e Paris neste ano. As férias com o namorado estão registradas nas redes sociais, nas quais soma impressionantes 27,6 milhões de seguidores. O curioso é que a atriz não tem conexão wi-­fi em casa nem sequer computador. Na internet, além de mostrar suas aventuras por aí e explorar a veia cômica, divulga pouco merchandising e muito trabalho. A rainha do escracho sonha em entrevistar Jô Soares, que já prometeu ir ao Lady Night, e viver uma mocinha nas novelas. “Esse é um desejo que não sei se vou realizar”, diz. O riso, pelo menos, está garantido.

Tatá Werneck no cinema
(Divulgação/Divulgação)
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