Chumbo & Soul: série em áudio mostra resistência negra durante a ditadura

Um dos focos centrais do programa é a cultura dos bailes black da década de 1970, retratando a repressão à liberdade e ao movimento negro

Por Marcela Capobianco
Atualizado em 22 nov 2024, 11h48 - Publicado em 22 nov 2024, 11h48
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Gilberto Porcidonio: podcast envolve a história familiar do jornalista carioca (Rita Seixas/Audible/Divulgação)
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Lançado no Dia da Consciência Negra, celebrado na última quarta (20), no app Audible, Chumbo & Soul, produzida pela Rádio Novelo, retrata a experiência de pessoas negras durante a ditadura militar no país. Um dos focos centrais do programa é a cultura dos bailes black da década de 1970, retratando a repressão à liberdade, movimento, cultura e música negra, como o soul contribuindo para a construção de um novo imaginário sobre esse período.

A audiossérie foi criada e é narrada pelo jornalista Gilberto Porcidonio, cuja família é a espinha dorsal da história. “Já havia um projeto na Rádio Novelo sobre a ditadura e os bailes black. Acabei contando para o Tiago Rogero, que à época fazia parte da equipe, e a Paula Scarpin a história do meu pai e da minha mãe, que se encontraram nessa época e mantiveram a família junta no meio desse turbilhão político-social da ditadura”, conta Porcidônio, que por ouvir as histórias em casa ‘desde que se entende por gente’, demorou a perceber o peso delas.

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“Só fui percebendo a importância quando eu mencionava para outras pessoas, o que me fez pensar, ainda naquela época, em fazer algo para registrar a vivência dos meus pais. Mas tudo ainda era muito delicado de se fazer e eu não tinha o traquejo e nem a experiência que tenho hoje. Com a proposta da audiossérie, eu senti que eles ficaram mais confiantes por conta do cuidado que toda a equipe teve com eles, do início ao fim, para relatá-las com os detalhes necessários. Uma coisa que eu senti que seria importante desde o início é que eu não fosse o entrevistador deles e nem estivesse presente no dia das entrevistas em estúdio. Creio que isso contribuiu para um desprendimento maior deles e também manteve a carga emotiva na dose certa, inclusive, para mim e na minha narração”, afirma o jornalista.

Gilberto também destaca que o formato em áudio disponível pela Audible conecta o podcast diretamente com a música, contribuindo para uma experiência imersiva e sinérgica.

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Além disso, no processo de produção da série, ele acabou descobrindo muito mais sobre uma área que já o interessava muito. “Descobri, por meio da pesquisa feita pela Mariana Moreira, pela Flávia Vieira e pelo André Emídio, que o impacto do Movimento Black Rio vai muito além do que eu pensava sobre a formação dos bailes soul e funk, que se espalharam pelo Brasil de uma forma orgânica, criando movimentos negros pelo país que ressoam como vasos comunicantes até hoje. Também descobri que o movimento de resistência das favelas instaladas na Zona Sul foi muito maior do que se tem notícia, já que hoje se sabe que esse foi um movimento hercúleo da ditadura para remover os pobres e pretos das áreas nobres da cidade. Porém, não se fala que houve muita, muita resistência e articulação dos moradores dessas áreas históricas. Isso mostra também como o passado, em se tratando de vivência negra no Brasil, nunca é algo que já tenha passado”, reflete.

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Chumbo & Soul está disponível integralmente na Audible.

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