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Anitta se consagra como a musa do Carnaval 2018

Com shows e desfiles de blocos em quatro estados, a cantora encanta da rainha da folia Ivete Sangalo ao produtor musical Nelson Motta

Por Daniela Pessoa
Atualizado em 9 fev 2018, 19h25 - Publicado em 9 fev 2018, 12h13

Na primeira vez que Anitta subiu em um trio elétrico, em Salvador, ela chorou. Naquele primeiro dia da folia de 2015, teve um estalo e percebeu que precisava ter o próprio bloco de rua na cidade natal. Já no ano seguinte, o Bloco das Poderosas arrastou, em sua saída inaugural, 200 000 foliões pelo Centro. No ano passado, o público dobrou. Agora, no auge da fama, a organização da agremiação encabeçada pela cantora espera bater a cifra de 1 milhão de espectadores. “É uma energia incrível. Não há nada parecido com a sensação de conduzir uma multidão com a sua música”, disse Anitta a VEJA RIO, em entrevista concedida à 1 da madrugada da terça (6), pouco antes de entrar em uma sessão de fisioterapia em uma clínica de São Paulo, que abriu especialmente para atendê-la em meio a uma pesada agenda de compromissos publicitários na capital paulista. “Estou com um probleminha no joelho, preciso fortalecê-lo. Esse era o único horário que dava para mim”, explicou.

Poucos sabem, mas a relação da musa do funk com o Carnaval vem de berço. Seu tio, Aloísio Machado, o Capoeira, faz parte da velha-guarda da Império Serrano. Na quadra da escola de samba, ainda criança, Anitta conheceu Arlindo Cruz, um de seus grandes ídolos. Isso sem contar as inúmeras vezes em que foi levada pelo pai aos bailes de gafieira. Em 2018, o Carnaval da artista será extenso e durará oito dias, com shows e apresentações no Rio, Bahia, São Paulo e Minas Gerais, em trajetos realizados a bordo de um jato privado. Quando ela viaja, um staff numeroso a acompanha e costuma se hospedar em mansões preparadas especialmente para recebê-la. Em Salvador, por exemplo, onde se apresentou com o Bloco das Poderosas na última quinta (8), a cantora alugou uma casa cuja diária é estimada em 3 000 reais e ficou ali com seu entourage, formado por mais de quinze pessoas, entre assistentes, figurinistas, fisioterapeuta, fonoaudióloga especializada em resistência vocal, cozinheira, segurança e representantes de parceiros comerciais — Cheetos, Boticário e a marca de tintura para cabelo Cor & Ton, da Niely. “Anitta tem hits maravilhosos, que vão resultar em um Carnaval muito feliz para ela. Gosto muito de seu feeling para a música e do fato de ela sempre criar grande expectativa no público”, afirma Ivete Sangalo, a rainha do Carnaval no país, que neste ano assistirá à festa de casa por causa da gestação avançada.

Bem à vontade, Anitta fez dupla com Pabllo Vittar (Barbara Lopes/Agência O Globo)

Celebridade brasileira cujo nome foi o mais buscado no Google durante o ano de 2017, superando o do astro da bola Neymar, Anitta é do tipo que gosta de causar, seja com trancinhas, biquíni de fita isolante ou com parcerias musicais de peso. No Carnaval, não poderia ser diferente. Além de comandar shows e seu bloco pelos salões, ruas e camarotes, promete inovar na Marquês de Sapucaí. Não, ela não será destaque em nenhuma escola, nem rainha de bateria. “Já recebi vários convites, mas é preciso muita dedicação. Com a minha agenda corrida, não seria possível”, argumenta. Anitta vai fazer o que sabe: uma apresentação de uma hora e meia em plena avenida, passarela sagrada do samba, na quinta (15), numa novidade criada neste ano, a pós-Quarta de Cinzas. Com ingressos a partir de 300 reais, será a atração principal da festa Quinta da Anitta, promovida pelo Camarote N1, e trará convidados como É o Tchan, Jet Lag e, é claro, a nova sensação Jojo Toddynho, habituée da mansão da cantora na Barra da Tijuca. “Vai ser um evento em estilo intimista e divertido, como os que eu faço lá em casa com amigos”, conta Anitta. Inédito no Sambódromo, o show acontecerá em um palco móvel sobre uma carreta, que terá 17 metros de comprimento por 8 de largura. Montada em apenas oito horas, a estrutura será posicionada em frente ao cercadão vip em que o empresário José Victor Oliva investiu 10 milhões de reais. Dois dias depois, no Desfile das Campeãs, a funkeira retorna ao espaço para mais uma apresentação, desta vez dentro do próprio camarote, do qual também é musa oficial. Detalhe: isso após ter cantado e pulado por seis horas seguidas no comando do Bloco das Poderosas, no Centro, durante a manhã. “Anitta é uma estrela que está conquistando cada vez mais o seu espaço na cena mundial, mas que é a cara do Rio. Com sua força, garra e perseverança, ela representa perfeitamente a cidade e os cariocas”, avalia Oliva.

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À frente do Bloco das Poderosas no Rio (acima), e em Salvador, no ano passado: a expectativa é levar 1 milhão de foliões às ruas de sua cidade natal em 2018 (Fotos Fernando Maia_Riotur, Marcelo Theobald_Ag. O Globo e Gustavo Tolhuizen/Divulgação)

Elogiada por empresários do showbiz, amada pelos fãs e considerada uma profissional impecável pelos patrocinadores, Anitta é tida como um fenômeno completo — do ponto de vista musical, comercial ou de projeção no universo digital. Os dados da consultoria Controle de Concorrência mostram que, em 2017, a cantora foi vista na televisão aberta em 2 643 inserções publicitárias de seis anunciantes, o que a fez figurar pela primeira vez, em 10º lugar, no ranking anual das celebridades que mais apareceram em campanhas televisivas. O levantamento é liderado por Zezé Di Camargo e traz ainda nomes como Ivete Sangalo (4º), Neymar (5º) e Gisele Bündchen (7º). “A Anitta é hoje a artista brasileira de maior sucesso. É alguém que conversa com todas as idades e classes sociais. Tem também fortes atributos, como o fato de ser autêntica, o que lhe confere credibilidade”, afirma Cláudio Rawicz, gerente de marketing da Renault, marca que escolheu a funkeira como sua embaixadora. Após o Carnaval, a carioca partirá para um show em Miami. Ainda não será uma turnê completa, mas já é um resultado da movimentação da agência que ela contratou para cuidar de sua carreira no exterior, a WME, que, entre outros clientes, assessora superestrelas como Ben Affleck, Rihanna e a banda Maroon 5. A trajetória internacional de “Anira” (como os fãs reproduzem a pronúncia americana do nome da cantora) pode até ser incipiente — ainda —, mas uma coisa é certa: ela já é um nome conhecido na indústria musical, e há até quem se ofereça para trabalhar de graça com ela. Também acaba de ser convidada pela Universidade Harvard para ministrar uma palestra, em abril, sobre empreendedorismo e internacionalização de sua marca — como se sabe, ela gerencia a própria carreira.

Parceiros ecléticos. Alheia aos críticos, a cantora impressionou ao lado do tenor italiano Andrea Bocelli, em São Paulo (Andre Velozo/Divulgação)

Com 24 anos, Anitta é hoje a figura mais próxima que o país tem do star system global. De fenômeno em fenômeno, segue à risca uma bem arquitetada estratégia (montada por ela mesma) para deixar uma marca no cenário musical internacional. Primeiro foi o clipe Bang (2015), uma produção de apuro visual e qualidade artística muito superiores aos padrões locais, assinado por Giovanni Bianco, diretor artístico que já trabalhou com Madonna, Gisele Bündchen e Rihanna. A mistura de funk com pop mostrou-se uma fórmula tão certeira que rapidamente cantoras como Ludmilla e Lexa se alinharam à vertente. Em seguida veio a abertura da Olimpíada, quando Anitta foi convidada para cantar ao lado de Caetano Veloso e Gilberto Gil. Depois, aos poucos, foi costurando mais parcerias musicais com astros como o colombiano Maluma, expoente do reggaeton, ritmo latino que domina as boates descoladas da Europa e dos Estados Unidos, e a australiana Iggy Azalea, com quem se apresentou no programa Tonight Show, de Jimmy Fallon, um dos mais populares da TV americana. Ela própria entra em contato com quem lhe interessa através das redes sociais. “Pesquiso muito sobre música no Google e no YouTube. Foi assim que descobri o reggaeton e me encantei. Não invisto num gênero ou artista só porque ele está bombado e vai me trazer seguidores. É porque eu curti e tem a ver comigo. Agora estou atenta ao rap. É esse o futuro”, profetiza.

A cantora ao lado de Gil e Caetano, na abertura da Olimpíada (Filipe Costa/RIO2016/Divulgação)

No ano passado, veio mais uma sacada de mestre: poderosa máquina de fazer sucessos, a funkeira lançou um clipe atrás do outro, a maioria com artistas internacionais como Poo Bear, produtor que já trabalhou com Justin Bieber, e o colombiano J Balvin, que estourou após um dueto com Shakira. O ambicioso projeto foi batizado de CheckMate. Foram quatro vídeos, um por mês, tudo bancado pela rede de lojas de departamentos C&A, que pôs à venda os figurinos da cantora. “Anitta usa os mesmos artifícios de marketing das grandes empresas, como o cobranding, isto é, parcerias. É o que ela faz quando convida uma marca para patrocinar seu clipe. E também está alinhada com a mesma estratégia dos youtubers de superexposição, com produção ascendente de conteúdo. Isso leva as pessoas a falar dela o tempo inteiro”, avalia Pedro Sampaio, especialista em marketing. “Artistas como Claudia Leitte e Ivete Sangalo, que são divas veteranas, talvez não tenham essa lógica embutida no trabalho delas. E creio que o axé não é um ritmo muito competitivo fora do país”, completa.

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O maior sucesso: com orçamento de 1 milhão de reais, o clipe de Vai Malandra, filmado na favela
do Vidigal, transformou-se no maior sucesso da carreira de Anitta, acumulando recordes de visualizações com sua estética hiper-realista (Divulgação/Divulgação)

Nada do que a cantora fez até agora, no entanto, se compara a seu último clipe, Vai Malandra, gravado na favela do Vidigal ao custo de 1 milhão de reais. O trabalho, um manifesto, encerrou o projeto CheckMate com chave de ouro e se tornou de imediato uma fábrica de recordes. No YouTube, foi o vídeo brasileiro mais visto no mesmo dia do lançamento. No Spotify, a primeira música em português a figurar entre as vinte mais ouvidas do mundo. Com mais de 180 milhões de visualizações, o videoclipe bateu o hit Despacito na contabilidade minuto a minuto nos primeiros oito dias de exibição: foram 61,5 milhões de visualizações contra 37,7 milhões de acessos a Despacito no mesmo período (o sucesso porto-riquenho está atualmente com 4,7 bilhões de views). Tamanho alvoroço tem explicação: Vai Malandra marcou o retorno de Anitta ao puro funk, o batidão com letra picante, e às origens humildes, numa favela mostrada com tintas hiper-­realistas (com direito a galinha voando na laje e figurantes da própria comunidade).

Projeto patrocinado. Os clipes do CheckMate, iniciativa bancada por uma rede holandesa de lojas de roupas, tiveram a participação do DJ sueco Alesso (Junior Marques/Divulgação)

Para quem não sabe, a cantora nasceu Larissa de Macedo Machado, em Honório Gurgel. Por fim, o clipe teve ainda o corpão da cantora exposto sem vergonha e sem retoques digitais em microshorts, vestidinhos e biquíni de fita isolante, sucesso nas sessões de bronzeamento do subúrbio. Ela mesma pediu que toda a sua celulite fosse mantida sem retoque, pois queria falar às mulheres reais. “Anitta só vetou a cena do bombeiro passando óleo na bunda das mulheres se bronzeando na laje. Ela achou forçado, tinha a preocupação de não ofender crianças e famílias. Aliás, em Miami já estão copiando esse biquíni de fita”, conta Marcelo Sebá, produtor artístico do clipe, que já trabalhou com Kate Moss, Gisele Bündchen e Lady Gaga. “A determinação dela e a clareza do que quer são surpreendentes. Gravamos 21 horas em um domingo de chuva e não vi essa mulher reclamar nem por um segundo. Já trabalhei com modelo que empacou porque não queria botar os pés na lama”, completa Sebá. Todos os artistas que colaboraram na faixa, como o rapper americano Maejor (amicíssimo de Justin Bieber) e o funkeiro carioca Mc Zaac, estão no elenco, assim como Jojo Toddynho, a atriz transexual Wallace Ruy, o modelo andrógino Goan Fragoso e Jéssica Tauane, criadora do Canal das Bee, no YouTube. Os nomes, exceto Jojo, foram sugeridos por Sebá. Mesmo com o orçamento estourado, Anitta bancou o cachê de todos sem discutir. “Hoje procuro passar mensagens com as minhas músicas. Antes eu não tinha maturidade. Agora sei que posso interferir na vida das pessoas para melhor, ajudar as negras, as plus size, as drag queens e os gays a se assumirem e conquistarem seu espaço”, diz a cantora, a única brasileira no Top 50 do ranking da Billboard, que lista os artistas mais influentes nas redes sociais.

Os clipes também tiveram a participação do americano Poo Bear (Junior Marques/Divulgação)

+ Um retrato de Anitta por Nelson Motta

Aos poucos, a menina de Honório Gurgel alçada ao estrelato vem cativando até mesmo os críticos, apesar de não ter a mais brilhante das vozes. “Isso acabou. Nara Leão e Sylvia Telles foram grandes cantoras com pequenas vozes. Como Madonna, que não cantava nada e foi aprendendo e ficando ótima”, defende Nelson Motta. “Música popular hoje é mais imagem do que som, é conceito, posicionamento no mercado, redes sociais. E isso tudo Anitta domina”, completa. Ela é tão boa em cativar que, após uma visita despretensiosa ao escritório da plataforma de streaming Spotify, foi surpreendida com um anúncio de Vai Malandra em plena Times Square, em Nova York, feito que se repetiu no lançamento do novo single, Machika, com J Balvin. “Eu não esperava por nada disso. Acho que eles gostaram de mim”, diz Anitta, com a voz sempre suave. Como toda profissional competente, ela sabe se cercar das pessoas certas. Marina Morena, por exemplo, é quem a conecta com patrocinadores em potencial. Quando não é a própria cantora quem realiza a primeira abordagem. “Sou cara de pau”, diverte-se, fazendo justiça ao título de uma de suas canções, Meiga e Abusada (todas as músicas são compostas por ela). No momento, segue estudando espanhol e inglês para limpar o sotaque e também está fazendo aulas de interpretação. Atualmente, negocia um papel em um filme sobre as UPPs. “Espero que dê certo. O roteirista é o mesmo de Tropa de Elite, filme que eu amo e que, na minha opinião, foi um divisor de águas no cinema brasileiro”, diz ela, que é também apaixonada pela série Black Mirror, da Netflix. A artista encontra tempo ainda para gerenciar a carreira de seus dois pupilos musicais, Clau e Micael, e deve lançar até outubro um DVD com uma animação estrelada pela personagem Anittinha e músicas inéditas para a criançada, um público que ela vem conquistando ao longo dos anos com as edições do Show das Poderosinhas. Para Anitta, o céu é o limite.

Anitta e o colombiano J Balvin: parceria em clipe (Michael Perez/Divulgação)
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