Alguns dos cariocas campeões das bilheterias na Rio 2016
Um grupo de fanáticos por esporte comprou dezenas de entradas para as competições e gastou até 20 000 reais para ver os ídolos de perto nos Jogos Olímpicos
São dezenove dias de competição, 10 500 atletas de 206 países, 42 modalidades esportivas e nada menos que 700 provas. A jornada olímpica iniciada oficialmente na sexta (5), no entanto, começou bem antes para um grupo de cariocas. É gente que há um ano e meio, desde a primeira etapa da venda de ingressos, se postava em frente do computador, punha a família e os amigos para ajudar a caçar os melhores ingressos e não se contentava em comprar uma ou outra entrada. O desafio era assistir ao máximo de competições, sempre combinando critérios como o horário, a distância e, obviamente, a disponibilidade da conta bancária ou o limite do cartão de crédito. Trata-se de fanáticos por esporte que, a esta altura, com a pira já acesa em solo fluminense, só poderão ser encontrados em uma das arenas espalhadas pelo Rio. Da mesma forma que assombram pela quantidade de tíquetes adquiridos, também fazem questão de estar nas provas mais concorridas. Portanto, para essa turma, não interessavam os lugares atualmente disponíveis para retardatários, quase sempre nas etapas iniciais das disputas.
Em meio à delegação dos campeões das bilheterias, a professora universitária Flavia d’Albergaria Freitas, de 41 anos, tem lugar de destaque. Desde que o Rio foi anunciado como cidade-sede, em setembro de 2009, ela vem se programando para, nas próximas duas semanas, não fazer outra coisa que não seja aproveitar a Olimpíada no quintal de sua casa. Com 130 ingressos comprados, vai a pelo menos dois eventos esportivos por dia, a alguns deles acompanhada do marido e dos dois filhos. Para vivenciar ao máximo a experiência, ainda atuará como voluntária do vôlei, seu esporte preferido, no Maracanãzinho. “Vou receber o público, mas o meu sonho mesmo era ser aquela mulher do rodo que fica limpando a quadra e tem a chance de ver as partidas de pertinho”, brinca Flavia.
Dos 6,1 milhões de ingressos disponibilizados para os Jogos, até a última semana 4,8 milhões (ou seja, 79% do total) tinham sido vendidos. A voracidade com que Flavia adquiriu as entradas para as competições acabou chamando a atenção dos organizadores do evento. Escolhida pelo Comitê Rio 2016 para ser a primeira carioca a receber os ingressos, foi surpreendida em casa, em junho, pela visita de funcionários dos correios acompanhados de dois medalhistas olímpicos, os ex-jogadores de vôlei Giovane Gávio e Sandra Pires. Além de estar credenciada como voluntária e ter ingressos para dez partidas de vôlei, incluindo o mais caro para a final masculina (1 200 reais), assistirá a mais sete modalidades esportivas. Como outros loucos por Olimpíada, ela diz que se organizou financeiramente e que gastou o equivalente a uma viagem de férias para quatro pessoas ao exterior — algo em torno de 20 000 reais. “Vale mais do que qualquer viagem. Quando teremos outros Jogos Olímpicos aqui?” De maneira geral, os fundistas de arquibancada precisarão de muito fôlego para dar conta da agenda nos próximos dias. O jornalista Alberto João Safadi, de 35 anos, por exemplo, assistirá a provas em alguns dias no Parque Olímpico, na Barra, pela manhã, verá competições em Deodoro à tarde e fechará a jornada à noite, na arena de vôlei de praia, em Copacabana. Ao todo, tem oitenta ingressos para dezesseis esportes. Safadi, que é flamenguista doente e já assistiu in loco a partidas de duas Copas do Mundo (a da Coreia do Sul e do Japão, em 2002, e a do Brasil), sonhava em participar de uma Olimpíada. “Como não dá para estar em todos os lugares, ainda vou gravar várias competições e vê-las de madrugada pela TV”, planeja.
Noites maldormidas e muita organização, aliás, fazem parte da rotina de quem transformou os Jogos em um desafio pessoal. Para não correr o risco de perder nenhum evento, o engenheiro Thiago Moraes da Silva, de 30 anos, montou uma planilha com todas as provas para as quais comprou bilhetes, detalhando o local, o horário, a cadeira e a fileira. Apaixonado por basquete, tem em mãos 42 ingressos, 24 deles só dessa modalidade, incluindo vários jogos dos Estados Unidos. “Para quem adora esporte, essa é uma oportunidade única. Ainda vou realizar o sonho de ver a seleção americana de basquete em cena e na minha cidade”, orgulha-se. Como Flavia e Alberto, Thiago programou suas férias para caírem exatamente nessa época. “Tenho de me controlar porque, ao ver que ainda existem alguns ingressos disponíveis, bate aquela vontade de comprar mais. Agora, por exemplo, tenho desejo de ver alguma prova de natação”, conta. Só que, nesse caso, ele terá de abrir mão de seu apurado padrão de exigência, pois, para essa modalidade, só restam ingressos para lugares com visão limitada das provas.