Alexandre Borges: “Estar em cena é a melhor forma de homenagear Zé Celso”
Ator estrela o espetáculo Esperando Godot, com o Teatro Oficina, o último trabalho do diretor, falecido em julho de 2023
Três décadas depois de ter trabalhado com José Celso Martinez Corrêa (1937-2023) e o Teatro Oficina, em Hamlet, o ator Alexandre Borges recebeu um convite irrecusável do inventivo diretor: encenar o clássico Esperando Godot, de Samuel Beckett (1906-1989).
O ano era 2022, e muita coisa estava em compasso de espera, com a pandemia da covid-19 no fim e a eleição presidencial se aproximando. “O Zé tinha muita noção sobre o momento político e social que o Brasil vivia e soube transpôr isso muito bem para o palco, com uma enorme sensibilidade. A peça fala de fome, miséria, violência e segue atual porque a sociedade está sempre repetindo as tristezas, é difícil aprender com os erros”, reflete Alexandre.
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Esperando Godot estreou na capital paulista em maio de 2022 e, agora, inicia uma breve temporada carioca no recém-reformado Teatro Carlos Gomes, na Praça Tiradentes, nesta quinta (28), com muitos significados. Esse acabou sendo o último espetáculo de Zé Celso, que transformou a montagem numa obra urgente e potente, com a incorporação de temas e personagens que contracenam com a vida no Brasil de hoje.
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Estragão (Marcello Drummond) e Vladimir (Borges) são dois palhaços vagabundos que se encontram no fim do mundo, na encruzilhada entre a paralisia e a tomada da ação. Enquanto esperam Godot, embora não saibam quem ou o que é, a dupla se encontra com as personagens que passam pela estrada: Pozzo – O Domador (Ricardo Bittencourt), Felizardo – A Fera (Roderick Himeros) e O Mensageiro (Tony Reis), que traz notícias inquietantes que podem determinar a perpetuação da inércia ou a libertação total da paralisia numa reviravolta absurda. Mas afinal, até quando Esperar Godot?
“O teatro é justamente o espaço da ação, e o Zé exigia muito isso dos atores. Ele sabia que não dá para ficarmos esperando. O texto de Beckett também transmite essa ideia, de que é preciso sair da passividade, tomar as rédeas da própria vida, sem autopiedade e sem culpar os outros pelos nosso próprios fracassos ou frustrações”, acrescenta Alexandre Borges, que celebra a parceria no palco com Marcello Drummond, viúvo de Zé Celso, que acabou se tornando uma espécie de diretor da montagem. “A morte do Zé foi repentina e trágica, mas estar em cena é a melhor maneira de homenageá-lo”, diz Borges.
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O foyer do teatro vai receber uma exposição de itens pessoais do diretor, alguns inclusive chamuscados pelo incêndio ocorrido no apartamento dos artistas em julho de 2023. A produção do espetáculo fez parcerias com a Cufa e o Retiro dos Artistas para possibilitar que pessoas em situação de vulnerabilidade possam conferir a montagem.
Teatro Carlos Gomes. Praça Tiradentes, s/nº, Centro. Qui. e sex., 19h. Sáb. e dom., 17h. Ingressos a partir de R$ 40,00 (meia) pela Riocultura. Até 8 de dezembro.